segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

TÁ SE ACHANDO!



  
  Poncion Rodriges
  Coração velho de guerra, eu vou te dar um conselho.
Acho bom se comportar, pois se não bater direito,
Não vai haver outro jeito.
Eu te expulso do meu peito e boto outro em teu lugar.
Tu te achas importante, pois fomos crianças juntos.
Sofreste com meus amores e te alegraste também.
Mas não é por tudo isso, que nessa altura da vida,
Vens me fazer peraltices e eu vou dizer amém!
É a última vez que eu digo:
Se queres ser meu amigo, tu me trates com carinho!
Nós estamos no natal, não fibrila e não enfarta...
Bate bate de mansinho, e, até pelo amor de Deus,
Me deixa tomar meu vinho!
Volta a ser o que era antes, seja um coração decente,
Senão eu chamo o Antenor, que, atendendo ao clamor, vai te enfiar outro “stent”!
Seu bosta!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O FIM ESTÁ PRÓXIMO, IRMÃOS!





A. J. de O. Monteiro
                Há 65 milhões de anos, diz uma teoria científica – a mais aceita – um enorme meteoro colidiu com a Terra, mais precisamente na região de Golfo do México, desencadeando uma série de fenômenos naturais como terremotos, maremotos, tsunamis, erupções vulcânicas, além de envolver o planeta com densa nuvem de poeira que impediu a penetração dos raios solares por um longo período, o que provocou uma ruptura na cadeia alimentar e consequentemente a morte dos grandes répteis então existentes, os dinossauros e de quase todas as espécies de então.
                Milhões de anos mais tarde, com a natureza refeita e sob o domínio humano, Deus chamou Noé e disse-lhe que construísse uma arca grande o suficiente para caber nela toda sua casa – seus filhos Sem, Cão e Jafé, sua mulher e as mulheres de seus filhos – e um casal de cada animal existente na face da Terra, pois faria chover durante 40 dias e 40 noites. Pretendia o Criador refazer a humanidade, livrando-a dos corruptos, dos impuros e dos infiéis. Escolheu Noé e sua família, por serem puros, para dar origem a todos os povos a partir de então. Foi a primeira faxina étnica de que se teve notícia. Mas, mesmo assim, não obteve êxito. Desde então centenas de milhares de gerações se passaram trazendo com elas centenas de milhares de corruptos, impuros e infiéis. Creio que nem uma hecatombe nuclear extinguirá tais seres, eles e as baratas sobreviverão.
                Mas, como se vê, nenhum dos dois eventos – um natural e o outro decorrente de desígnios divinos – se constituiu em “fim do mundo”, como apregoado no apocalipse, com a humanidade sendo chamada à presença do Criador para dar conta de suas ações e receber as glórias ou os castigos merecidos.
                O homem, no entanto, não se dá por satisfeito e vive rebuscando no passado evidências para preconizar o “fim do mundo”. Recorre à escritos e escrituras. Relata visões e desenvolve teorias místico-científicas prevendo o termo final: hecatombes naturais, colisões de corpos celestes com a terra, pandemias e outras que tais inventadas por espertalhões que buscam benefícios pessoais, principalmente econômicos, através do domínio de mentes frágeis (idiotas, mesmo!)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O BRASIL ESTÁ NU!




Manoel Emílio Burlamarqui de Oliveira
      
      Até que enfim! Agora, não dá, mais, para continuarmos só, rolando, na Sapucaí, fantasiados e idolatrando nossa cultura, coitada, nunca levada a sério; só, rolando, nos campos de futebol, aprestando tatus-bola de nomes esquisitos, pra não dizer imorais, só, correndo, atrás de Timões e Timecos, feitos loucos, ou imbecis?; só, rolando, nos palcos de nossos representantes vereadores, deputados, senadores, assistindo como brincam com nossa dignidade, quando dá pra pegar "um por fora" das catadupas e cachoeiras que serpenteiam, abrindo caminhos e enfeitando os palácios de Brasília e dos estados brasileiros; só, rolando, e se ufanando com Bilac, e com o "rouba, mas faz", com o "ame-o ou deixe", do Médici, com o "negócio" do Gérson, com os "vagabundos" do FHC, com os "não sei de nada" do Lula, com o "nada mais posso fazer da Dilma"; só, rolando, no picadeiro, como palhaços, (e otários) deste Grã Circo brasileiro, para gáudio dos Senhores do Poder e dessa Mídia, que, por mais que se perfume, fede de longe!
      Abriram-se as cortinas do passado! O Supremo Tribunal Federal, com tudo de bom que tem por lá, e do que não presta, também, ousou julgar o tal "mensalão" e abriu a mala preta do Poder! Uma mala que não tem fundo, onde devem caber Presidentes, Congressistas, Ministros (até do próprio STF), Banqueiros e outros que tais...vai ver, que não vão, mais, soltar, as personagens maiores do mundo do crime, como já o fizeram, até há pouco tempo...mensalões, mensalinhos, privatarias, piratarias, o diabo a quatro, como falava minha avó...É isso mesmo, meu povo, agora, que desnudaram o poder, vamos aproveitar e gritar para que acabem com a corrupção, antes que ela acabe conosco! Pois, ela, é igual à saúva...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

NATAIS



Poncion Rodrigues

Naquele tempo era assim; o Natal tinha um cheiro e aquele cheiro era portador da melhor das fantasias que inebriava a ansiedade infantil de cada um de nós. Rua Elizeu Martins, nº 1703, a felicidade morava ali, onde também se alimentava e descansava Papai Noel, no fim da estafante expedição ao redor do planeta, no nobre sobe-e-desce da entrega de presentes para as crianças do mundo. Nas manhãs de vinte e cinco de dezembro a infalível chuva da noite e madrugada havia deixado úmidas as ruas calçadas (sem asfalto) de então, e o aroma bom da terra molhada era gulosamente aspirado por mim.
                Em algum momento da vida ELE desistiu; talvez por puro cansaço, senilidade, decepção com os adultos ou falta de credibilidade, que fora o combustível de sua encantadora existência. Foram anos de tristeza e natais etílico-gastronômico, até a sequência de nascimento dos meus filhos, que em número de cinco trouxeram de volta a mágica do verdadeiro embaixador do menino Jesus.
                Papai Noel havia voltado! E trazia consigo a fantasia que ele salpicava pela sofrida terra dos homens. Hoje, num mundo técno-cibernético do pragmatismo insensível, o bom velhinho é personagem coadjuvante de campanhas publicitárias. Descaracterizou-se até no volume corporal: sai o gordo de bochechas rosadas e terno sorriso; entra o magro de sorriso e barba falsos, trenó de shopping center e inimigo da ternura.
                Na revista “Seleções do Reader’s Digest” , edição de dezembro de 1951 (isso mesmo, dezembro de 1951), um breve conto de natal relata a história de um funcionário dos correios em certa cidade inglesa, cujo espírito mutilado pela morte de um filho ainda criança, foi resgatado da escuridão do desespero por uma carta ao Papai Noel, escrita singelamente por sua filha sobrevivente que pedia ao bom velhinho paz de espírito para seu pai.
                A fantasia se alimenta da pureza das crianças.
                Nesse contexto já necessito de um neto ou neta que traga de volta a fantasia do Natal à minha vida, antes que a demência da velhice me mergulhe na inevitável obscuridade do limbo, entre a existência real e o desconhecido.
                Pelo menos neste mês, viva o espírito de Nata, viva sempre o recém-nascido Jesus e viva, pela eternidade, aquele velhinho glutão e simpático que não quero aprisionado nos tempos longínquos da minha infância.
                Feliz Natal para aqueles que ainda conseguem sonhar com guizos e renas aladas! Feliz Natal também para as pobres criaturas que veem na data apenas um feriado a mais; afinal os pobres de espírito são, como toda a humanidade, merecedores da paz de Jesus.

Nota do Postador: Crônica escrita em dezembro de 2005. Hoje o autor já desfruta do amor de quatro netos e um quinto está a caminho.                 

FELIZ 2015






UM FELIZ NATAL PARA TODOS E QUE 2015 SEJA UM PERU RECHEADO DE PAZ, AMOR, SAÚDE, FELICIDADE E MUITO DINHEIRO NO BOLSO!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

REVESTRÉS



Wilson Seraine

Ariano Suassuna, que dispensa apresentações, sempre, quando alguém fala em cantoria, remete-se ao cantador piauiense Domingos Fonseca, considerado, ainda hoje, o maior de todos os tempos na arte. Esse cantador, depois de ser chamado de negro e pobre, fez uma sextilha, citada por Suassuna como uma das grandes:

Falar de pobreza e cor
É um grande orgulho seu
Morra eu e morra o rico
Enterrem o rico e eu
Que depois ninguém separa
O pó do rico do meu

Negro e pobre na década de 1910, era quase pedir pra morrer, como de fato acontecia com frequência no sertão nordestino. Mas, vai que nasce um indivíduo com estas três características negro, pobre e sertanejo que vingou, contrariando as estatísticas (acho por que era sexta feira 13).

Nascido no longínquo Exu, terras povoadas pela tribo da nação Cariri, os Ançus, daí a origem do nome da cidade, Gonzaga teve a infância como toda crianças pobre do sertão, brincadeiras e trabalho na roça. Mas um diferencial o acompanharia por todo o tempo, seu Pai, Januário.  Seu Januário era tocador, afinador e consertador de fole, assim com interesse próprio, o menino Gonzaga começo muito novo na arte da música. Aos doze anos já tocava sozinho nos “sambas” da região. Adolescente, fugiu com vergonha de uma surra que levou dos pais. Foi para o Exercito em Fortaleza, quase dez anos depois, já fora do Exercito, tenta a vida tocando nos cabarés. Parece comum esta história para muitos nordestinos, mas Luiz Gonzaga mostrou que era diferente.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

IGNORÂNCIA E CULTURA





Manoel Emílio Burlamarqui de Oliveira
Quando cheguei a ZÉ DOCA - Ma. sede do Projeto de Colonização do Alto Turí, iniciado pela SUDENE, antes do Golpe Militar de 64, paralisado por esse Golpe, e reiniciado em 1972/73, participei, como Coordenador daquele Projeto, já então, a ser executado pela recém-criada Companhia de Colonização do Nordeste (COLONE), do processo seletivo dos futuros colonos, que, entre outras benesses, receberiam um lote de terras, com 50 hectares, assistência técnica, educação, saúde, e financiamento para suas atividades econômicas, via Cooperativa, já criada, quando da época da SUDENE, e posta em funcionamento com a criação da Colone.
Pequenos lavradores chegavam de quase todo o nordeste, advindos, a maioria, dos latifúndios, onde eram "moradores", "agregados" ou outro nome que se lhes davam, verdadeiros servos de patrões que eram como imagens dos senhores feudais da época do Descobrimento e continuístas dos donatários das Capitanias Hereditárias, que, vez por outra, ainda se encontram por este Brasil afora, principalmente, na nossa Amazônia, e alguns resquícios aqui, no nordeste.
Na esperança de serem donos de sua própria terra, de sua lavoura, de seus criatórios, ou seja, de, para ele, serem "libertos", faziam qualquer cousa para serem selecionados, agindo de acordo com sua "ignorância", ou sua "cultura", no exame médico, obrigatório, para evitar doenças contagiosas ou incapacidade para o trabalho.
Pais chegavam a bater nos filhos, para recolher fezes e urina, para os exames laboratoriais, como se não pudessem esperar a hora normal de suas "evacuações", com medo de perderem aquela oportunidade...

LIÇÃO GRAMATICAL




Isaias Coelho Marques


Um sinal
               longe

Vírgula
            entre nós

Dois pontos
                     eu e você

Ponto final
                   nós dois

Eternamente...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

OSCAR RIBEIRO DE ALMEIDA NIEMAYER SOARES FILHO




A. J. de O. Monteiro

Poema das Curvas (Oscar Niemayer)

"Não é o ângulo reto que me atrai,
nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual,
a curva que encontro nas montanhas do meu país,
no curso sinuoso dos seus rios,
nas ondas do mar,
no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo,
o universo curvo de Einstein."
            
              Nestes últimos trinta dias acompanhei pelo noticiário a evolução do estado de saúde de Oscar Niemayer com a certeza do irreversível e com a esperança dos sonhos que ele nos ensinou a sonhar. Em vão. No meio da noite passada, já sonolento, mas ainda com os fones de ouvido conectados ao rádio senti os sonhos se desfazerem pela voz embargada do locutor, sentenciando: “Morre no Rio, o arquiteto Oscar Niemeyer”. Demorei a dormir novamente tomado por uma retrospectiva pessoal que me fez passear em Brasília, onde vivi por 22 anos, revendo seus monumentos, criados pela genialidade do grande arquiteto.
            Deixei Teresina por força das circunstâncias do momento. Segui para Brasília tomado pelo medo do desconhecido e pela imagem negativa que se tentava passar da nova capital, principalmente a arrogante e ressentida imprensa carioca que tentava a todo custo mitificar Brasília como uma cidade desumana, sem alma, sem futuro e sem esquinas. Quem hoje pode desfrutar das famosas esquinas do Rio, em Paz?
            Desembarquei na Rodoviária do Plano Piloto no dia 30 de maio de 1973 e, assustado, olhei para os todos os quadrantes e vi horizontes; horizontes que ele, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa deixaram livres como se dissessem ao Brasil: vai, teu futuro está logo ali, vai ao encontro dele!.
            Hoje, de volta a Teresina, vivo o futuro que conquistei em Brasília – modesto, em virtude de minhas próprias limitações, mas que não sei se alcançaria aqui, por força das circunstâncias.
            Por fim, encerrando esta minha homenagem ao verdadeiro gênio da raça que a partir de um sonho de Juscelino Kubstschek e ao lado de Lúcio Costa, Bernardo Sayão, Darcy Ribeiro e milhares de candangos, principalmente nordestinos, traçou não só uma cidade, mas um futuro para o Brasil e para os brasileiros, digo: Obrigado Oscar, teus tormentos não foram em vão.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

AS TÁBUAS DO ÓDIO





A. J. de O. Monteiro
                A saga do povo judeu é contada no velho testamento, pelos seus profetas. É uma narrativa tendendo ao épico, repleta de feitos heroicos, de superações e de resistência a toda sorte de perseguição e à escravidão. Essa saga todos conhecemos se não pela leitura do Velho Testamento, conhecemo-la através dos filmes hollywoodianos bancados pelos próprios judeus interessados em preservar sua história e firmar conceitos positivos no mundo atual, pós 2ª Guerra Mundial, holocausto e implantação do estado de Israel. Quem não se lembra do clássico “Os Dez Mandamentos”, de Cecil B. DeMille?
                Depois, quando o cristianismo se firmou como religião dominante, a história tomou outro rumo e os judeus perderam sua imagem épica e passaram a ser tratados como traidores responsáveis pelos martírios e crucificação do Messias – Cristo, que eles, judeus, não aceitam como tal. Nem os romanos, que condenaram Cristo à morte por crucificação e executaram a sentença, foram tão execrados por seus seguidores quanto os judeus.
                Dizem que a história ensina. Não acredito. Pois se ensinasse, os cristãos, tão perseguidos, torturados e assassinados de formas brutais em arenas romanas não teriam promovido a também brutal perseguição aos judeus através do Santo Ofício. Tão pouco os judeus que, escorraçados por Nabucodonosor - Rei da Babilônia – do Reino de Judá, viram-se dispersos pelo mundo, perseguidos e escravizados em diversos países no período que antecedeu Cristo. Depois do advento de Cristo e, como mencionei acima, com a prevalência do catolicismo no mundo, voltarem a ser perseguidos e condenados à morte em fogueiras caso não aceitassem o Cristo como o verdadeiro Messias filho de Deus. Nem assim houve aprendizado histórico. Também não houve com o holocausto na 2ª Grande Guerra onde, se diz, Hitler mandou matar seis milhões de judeus. Nada disso lhes ensinou. Hoje de perseguidos, passaram a perseguidores do povo palestino.
                Israel não aprendeu que a terra que lhe foi prometida não lhe foi dada por Deus, mas sim, pela Assembleia Geral da ONU. Essa mesma Assembleia que reconhece a Palestina com Estado Observador – tão somente – e que Israel solenemente ignora e, pior, adota medidas retaliativas contra aquele povo.
                Israel é hoje novamente protagonista e conta a história conforme sua visão e seus interesses com o beneplácito de uns, a omissão de outros (países) tentando firmar para o resto do mundo que todos os palestinos são terroristas ensandecidos e precisam ficar isolados, e sem identidade territorial. “Esquecem” quem foram Bem Gurion, Golda Meir, Moshe Dayan, Shimon Peres, dentre outros, nos anos que precederam a decisão da ONU.
                O novo profeta de Israel – Benyanim Netanyahu – demonstrando seu total desprezo pelas convenções e leis internacionais diz: “Não há decisão da ONU que possa romper 4.000 anos de vínculo entre o povo de Israel e a terra de Israel”.
                Vai profeta, sobe o Monte Sinai para receber as novas tábuas da lei. Nelas trarás insculpidos os dez mandamentos de Lúcifer. Teu trabalho será bem menos árduo que o de Moisés, pois contas com a tecnologia do raio laser.  

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

RETRATO*



João José de Andrade Ferraz

                Simpático, apesar de bronco e xucro; alienígena, inexperiente, “responsável” por negócio alheio (então quase sem concorrentes), onde figurava como interessado. Entre incontáveis erros e acertos mínimos, obteve apoio e tolerância na incipiente atividade.
                Dado a frequentar ambientes considerados elegantes, era alvo de constantes e impiedosas pilhérias que não alcançava: cordeiro indefeso, no meio de bestas, incapaz de captar (ou reconhecer) evidente malícia nesses relacionamentos. Arrostando tudo, conheceu pessoas e angariou “amizades”.
                Nessa roda viva, logo se viu enleado por bajulador (e insidioso mau-caráter), tornando-se aplicado discípulo. Amparado nesse adjutório, fez carreira e se tornou comensal de tuxauas locais: gente da pesada, importante.
                Cavaleiro de grana (muito) fácil, gostava de receber: oferecia, quase diariamente, animadíssimas tertúlias etílico-gastronômicas. Estipulava dias (ou noites) e locais para convívio interesseiro – por faixas de valoração que, do alto do seu discernimento, o próprio atribuía: dias tais e tais eram destinados à presença de figurinhas carimbados do primeiro time; nos intervalos para outros níveis, tidos como inferiores.
                Em certa campanha resolveu apoiar, escancaradamente, candidato à sucessão – escorraçado pelas urnas e pelo carisma do adversário. Como decorrência dessa postura amargou ostracismo (correcional, disseram) que o deixou, literalmente, beijando a lona: exatamente no ponto nevrálgico do corte sumário de linhas creditícias oficiais, ilimitadas. E mais: execução imediata de débitos pendentes. Abalado, baixou facho e tomou chá de sumiço.
                Mas nada disso tem a ver com o caso; são simples detalhes de época.
                Num desses entretenimentos chega, janota, um “convidado”. Trajando calça do mais puro linho branco, assim como a camisa (fechada apenas com botões inferiores – para exibir enormes corrente e medalha de ouro maciço), engomadíssimas; cinto e chinelas café. Se tivesse composto, isto é, abotoado, ficaria numa elegância sem paralelo.
                Tentando ser gaiato, cumprimentou. Ao notar sujeito aparentemente humilde – acompanhante de primeira viagem – no meio daqueles expoentes, resolveu debochar. Não sabia, porém, da presença de espírito invulgar, conhecida, do .
                Perdendo excelente oportunidade de ficar calado, teve que escutar imediata e ferina observação de quem pensava gozar. - Ó aí, gente! Acabar dizem que consórcio não entrega... – referindo-se à roupa do pretenso almofadinha.
                Quem entendeu, na hora, se abriu; outros nem notaram o chiste.
                Tendo – finalmente – percebido a ferroada, murchou: alegando outro compromisso, desapareceu.
                Bem feito.
*Do livro “Casos Lembrados”


terça-feira, 27 de novembro de 2012

MAS QUE CALOR



A. J. de O. Monteiro
Todo ano é a mesma coisa. A temperatura nos meses chamados B-R-O-BRÓ oscila em torno dos 40º Celsius e a população reclamando. Aonde se chega o assunto é o mesmo, o insuportável calor de Teresina. Com um gesto, um olhar, um assovio as pessoas procuram demonstrar a quem estiver mais próximo, seu desconforto. Os mais comunicativos, mesmo que não te conheçam, fazem algum comentário esperando assentimento: “Nossa, esse calor está de rachar, está bem pior que no ano passado”, e outros do tipo. Nada disso, o calor é suportável, caso contrário ninguém viveria mais aqui; também não está pior que no ano anterior, está a mesma coisa e para comprovar isso basta pesquisar dados meteorológicos disponíveis no INMET/MAPA para constatar que as temperaturas alcançadas nessa época do ano se repetem ano após ano.
                É possível que a sensação térmica se torne a cada ano mais alta, é possível e aceitável, pois o crescimento vertical da cidade vem diminuindo a circulação do ar e acumulando calor em estruturas de concreto, além da grande quantidade de veículos em circulação produzindo calor, contribuindo para aumentar essa sensação.
                A questão é que, nós teresinenses, temos vergonha do nosso calor como se esse fenômeno não fosse natural e sim uma vergonha. É como se o calor dos trópicos tornasse nossa cidade inferior. Costumamos aceitar que visitantes de qualquer lugar, até de lugares tão quentes quanto Teresina, façam comentário preconceituosos como se a climatologia local fosse um fator de desfavorecimento do povo. Às vezes, até rimos das piadas de mau gosto que esses visitantes, sem o menor respeito por nossos valores contam as gargalhadas. Precisamos reagir a essas provocações mostrando a essas pessoas que temos amor e nos orgulhamos de nossa cidade e que não somos apenas essa “gente simples, humilde entre os humildes do Brasil”, como o hino que se propõe exaltar-nos, equivocadamente nos define. Afinal, como diz um velho ditado popular, “quem muito se abaixa o fundo aparece”.
                Não quero com isso dizer que o calor excessivo não causa desconforto, causa sim, tanto quanto o frio intenso, mas esse desconforto pode ser neutralizado por meios artificiais disponíveis e para isso foram inventados ventiladores, condicionadores de ar, climatizadores, etc. É claro que nem sempre podemos desfrutar desses confortos, mas, ainda assim, uma cervejinha gelada ou um bom refresco de limão ameniza.
                Mas, o calor não é nada, convivemos com ele normalmente. O grande problema desta região é a seca que ciclicamente - portanto previsivelmente – se abate sobre seus habitantes, devastando roças e lavouras, dizimando rebanhos, separando famílias, gerando órfãos e viúvas de pais e maridos vivos. Isso sim é motivo de vergonha porquanto elegemos governantes insensíveis que nada fazem para prevenir tais flagelos. Tecnologia para isso existe e vários estudiosos do semiárido já demonstraram que com medidas simples é possível neutralizar os cruéis efeitos da seca no Nordeste brasileiro. Alguns países já superaram esse problema, mas os políticos que elegemos não querem acabar com a festança que as verbas emergenciais liberadas pela União lhes proporcionam.
Isso sim é de causar vergonha, o calor não.

PASSAREMOS



Isaias Coelho Marques

Passa a vida
passa Deus
passam os segundos
passam amigos meus

passa a mulher ao lado
mas
não passa despercebida

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A POESIA NÃO PEDE LICENÇA



Isaias Coelho Marques

Ah! Quando pego um livro bom
Quintana, Pessoa ou Drummond...
Como me sinto esquisito
uma aflição solta no ar,
pulsam-me as veias,
quero gritar.

Ah! Poesia desenfreada,
quem te deu licença para entrar?
Quem te disse: Vem!
Quem te convidou a esta festa inacabada?
Quem?

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

QUERIDA MÍDIA




A. J. de O. Monteiro


             Vi no “Facebook”, a seguinte postagem: “Querida mídia, o Furacão Sandy nos destruiu também.                    Atenciosamente, Cuba e Haiti”.
                Imaginei, então, a seguinte resposta da mídia brasileira, representada por sua maior expressão:
                Rio de Janeiro, 08 de novembro de 2012.
                Desprezíveis Republiquetas,
             Recebi sua insidiosa missiva, na qual, em tom de protesto, vocês reclamam da falta de isonomia entre a cobertura da passagem do Furacão Sandy por suas miseráveis ilhotas em relação àquela dada à apoteose do mesmo nos EE. UU.
                É muita pretensão de republiquetas miseráveis como vocês aspirarem que uma respeitável rede como a nossa dedique rentáveis minutos de nossos telejornais para mostrar escombros de escombros. Isso mesmo! Vocês já eram escombros mesmo antes da passagem do Sandy por seus insignificantes territórios, vitimando apenas algumas dezenas de seu povinho sem jaça.
                Vocês acham, por acaso, que iríamos deslocar nosso mais charmoso âncora para cobrir o merecido castigo que a mãe natureza lhes infligiu? Ah, tem graça! Nosso apolíneo Bill Bonner trajando seu elegante sobretudo inglês e com seu lindo cachecol italiano, narrando, com sua bela voz, suas merecidas desventuras tendo como pano de fundo restos de velhos carros empilhados pelas ruas lamacentas com seus velhos casarões carcomidos pelo tempo e por balas revolucionárias e, pior, rodeado de horrendas crianças esfarrapadas a tocar com mãos sujas a impecável indumentária do nosso digno repórter.
                Comparemos, esse mesmo repórter, com a mesma roupa, com sua soberba postura tendo ao fundo a portentosa silhueta de Nova York e expelindo fumacinha da boca ao falar. Ah, tem graça comparar? Nesse cenário é possível aspirar algum prêmio internacional de reportagem, no de vocês, estaríamos expostos ao ridículo.
                Contentem-se com os flashes que fizemos, com muito esforço, apenas para preparar nossos telespectadores para o “gran finale” do agora maléfico Sandy castigando cruelmente as costas do grande irmão do Norte.
                Como consolo, informo a vocês que a cobertura que lhes dedicamos tem a mesma proporção da que temos dedicado à seca que castiga o Nordeste brasileiro. A mesma! Pois igualmente não queremos comprometer nossa estética hollywoodiana mostrando legiões de famélicos desdentados, com pele cinzenta e encarquilhada perambulando pela caatinga ou chorando abraçados a carcaças de vaquinhas mimosas que lhes garantiam o leite da enorme prole. Também quem mandou fornicar tanto?
                Isto posto, não me perturbem mais com suas lamúrias.
                Com desprezo,
                Vênus Platinada.
                 Plim-Plim

PASSADO



Isaias Coelho Marques

Ressurjo de antigas cinzas,
meu olhar olhou minhas estradas.

Atrás de mim, esteve sempre o menino fútil.
Por quais caminhos ninguém sabe,
mas pensou um dia ser útil.

Observo triste e alegre,
Por entre frestas,
 essa barafunda que, em meu espírito, virou orquestra.
Dentro de mim, dormem outras festas.

Muito longe, entre rios,
pensava-se em Sierra Maestra.
Desenganos vieram,
sobraram apenas tédios.

A alma comporta tantas espirais
que me vejo agora como nunca fui.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

PÃO SÍRIO



A. J. de O. Monteiro

                Um fenômeno comportamental vem ocorrendo mundo afora e está sendo tratado com naturalidade pela mídia – não deveria ser diferente – e sem grande preocupação pelos sociólogos ou pelos setores conservadores da sociedade. Nem mesmo as instituições religiosas tem se manifestado a respeito. Refiro-me a essas manifestações onde pessoas ou grupos de pessoas exibem partes íntimas de seus corpos para protestar contra alguma coisa, em favor de algo ou por mero exibicionismo. Assim é com o Movimento “Femen”, surgido na Ucrânia, ex república soviética, no qual jovens mulheres exibem os seios e os tórax rabiscados com palavras de ordem. Assim, ocasionalmente, ocorre nos estádios de futebol e em outros eventos públicos quando homens ou mulheres, isoladamente roubam a cena lançando-se despidos no meio do cenário sem uma motivação aparente que não seja apenas chamar atenção sobre si. Mas, em ambos os casos, seja por protesto ou reinvindicação, ou por puro exibicionismo, as manifestantes têm o que mostrar em termos estéticos.
                No Brasil, durante o movimento “FORA COLLOR”, algumas jovens, durante as manifestações dos “caras pintadas”, abriram suas blusas ou levantaram suas camisetas para exibir a palavra de ordem pintada em seus seios juvenis.  
                 Também surge agora um movimento mais pudico, denominado “a marcha das vadias” onde mulheres protestam contra a exploração sexual feminina pelos diversos setores econômicos. Nesse caso, elas desfilam pelas ruas das cidades usando apenas “lingeries” mas, igualmente, têm do que protestar e o que mostrar.
                Nesse final de semana passado, em meio a um show em Brasília, nossa querida e aguerrida roqueira Rita Lee, resolveu, sem motivação aparente – pelo menos o noticiário não mencionou – abaixar a calça e mostrar ao público sua alva “derriere”. Já fizera isso antes em show realizado em Saquarema/RJ, no início deste ano.
                Rita Lee, em minha opinião, é a maior expressão feminina do rock nacional, rivalizando com Raul Seixas no cenário geral do ritmo que venceu preconceitos e virou clássico. Os dois, sem sombra de dúvidas, foram também responsáveis por essa façanha. Rita Lee, na sua quase cinquentenária carreira, produziu pérolas inesquecíveis como “Ovelha Negra”, “Mania de Você”, “Desculpe o Auê” e “Amor e Sexo”, apenas para citar algumas, além do álbum “Fruto Proibido”, considerado pela crítica especializada, o mais marcante na história do rock brasileiro.
                Ora, minha querida e admirada roqueira, com sua brilhante carreira de compositora, intérprete e atriz, você não precisa dessas apelações e exibir em público parte de sua anatomia que mais lembra um pão sírio com um risco no meio... além de, mais acima, nas costas, uma leve protuberância que indica, talvez, uma escoliose... Não sei, não sou ortopedista. Recomendo consultar o Dr. Poncion...

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DE VOLTA ÀS ANCORETAS*



A. J. de O. Monteiro

                Não temo, ao escrever artigos memorialistas, ser taxado de saudosista pois minha memória remota está repleta de boas lembranças dos 1960/70, vividos nesta querida e quente Teresina. Além disso, fatos e atos do presente vira e mexe me remetem àqueles tempos de infância e adolescência...
                Agora mesmo, durante os dois grandes cortes no abastecimento de água, vieram-me à lembrança as agruras que nossos pais viviam, naqueles anos, com a crônica falta do “precioso líquido” nos canos do IAEE (Instituto de Águas e Energia Elétrica), cuja água, quando “vinha”, era captada em uma cisterna cavada até o nível do cano da rua. Mas, mesmo assim, era raro dispor-se da água pública. O mais comum era comprar água de poços particulares.
                O transporte da água dos poços às residências, e esse é o tema, era feito em “cambos” que consistia em um pedaço de madeira resistente que os carregadores atravessavam nas costas, trazendo em suas extremidades duas latas de querosene “jacaré”, presas por cordas. Esse tipo de transporte ocasionava certo prejuízo ao comprador devido ao natural balanço do caminhar do carregador alguma quantidade de água ficava pelo caminho. Imaginem quantas “viagens” eram necessárias para encher uma cisterna de 2.000m3 de água.
                Por sua vez, os carros pipas abasteciam apenas as repartições públicas e, é claro, as residências das “autoridades” de então.
                Havia também o transporte por ancoretas (espécie de barril de madeira de lei), feito em lombo de jumentos equipados com cangalhas apropriadas. Nesse caso o produto era encarecido pois, além da água, o consumidor tinha que pagar o transporte ao dono do conjunto. Por isso algumas famílias mais abastadas trataram de adquirir seu próprio conjunto (o semovente, a cangalha e, no mínimo, duas ancoretas). Via de regra mantinham um moleque de recados para tocar o jumento e fazer outras tarefas domésticas em troca de casa, comida, vestimenta e, às vezes, estudo. Era próprio da época.
                Mas isso, que era um tormento para os donos e donas de casa, para nós, a criançada, era uma verdadeira festa.  Com cambos improvisados em tamanhos adequados às nossas forças, íamos aos poços pegar água e participar do furdunço. O piseiro, a gritaria e as brigas em torno da enorme torneira do poço eram o mote das conversas da turma, à noite, nas esquinas da rua, enquanto os pais ouviam a “Voz do Brasil”, pensando nas agruras do dia seguinte. As famílias eram grandes e a água das cisternas não durava muito.
                Hoje, não confiando nas ações de governo para corrigir definitivamente os problemas que provocaram os tais cortes no abastecimento ou adotar medidas preventivas para evitá-los, vou recorrer ao “Google” para saber onde comprar o kit água (jumento, cangalha e ancoretas)...
*Publicada originalmente em 02/11/2012

SEXALESCENTES


Mirian José Goldenberg
(Publicado a pedido de Manoel Andante)

           
          Se estivermos atentos, podemos notar que está surgindo uma nova faixa social, a das pessoas que estão em torno dos sessenta/setenta anos de idade, os sexalescentes- é a geração que rejeita a palavra "sexagenário", porque simplesmente não está nos seus  planos deixar-se envelhecer.
          Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica - parecida com a que, em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da adolescência, que deu identidade a uma massa jovens oprimidos em corpos desenvolvidos, que até então não sabiam onde meter-se nem como vestir-se.
          Este novo grupo humano, que hoje ronda os sessenta/setenta, teve uma vida razoavelmente satisfatória.
          São homens e mulheres independentes, que trabalham há muitos anos e que conseguiram mudar o significado tétrico que tantos autores deram, durante décadas, ao conceito de trabalho. Que procuraram e encontraram há muito a atividade de que mais gostavam e que com ela ganharam a vida.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

POEMA AO SETE



Nelson Nunes

Somos elos de uma áurea corrente
Reflexo de um sol puro
Partículas de um todo indiviso.
Juntos navegamos num mesmo barco
E temos as mesmas cores
Fundidas numa mesma ideia.
Juntos corremos, juntos encontramos a brisa
Juntos paramos, juntos sonhamos
E fazemos o nosso mundo.
Somos vida e vivemos
De sorrisos conscientes
Temos as mãos cheias da alegria
Sentimos a mesma dor
A mesma tristeza e vemos a mesma beleza.
Choramos e nos consolamos
Dançando ao mesmo som
Amando o mesmo amor.
Belém 06/07/73

INQUIETAÇÃO




Isaias Coelho Marques

Laços que descerram a alma
e a deixam inquieta;
Espada luminosa de paixão cortante.

À primeira vista,
conquistam-me o impulso adormecido.
Não mais eu quem lhe fala,
São monstros medrosos
Do amor-desejo-medo.

Todo meu ser só pensa em ebulição,
em evaporar-se em direção
às suas-minhas nuvens de sonho,
em subir sempre
à busca de suas mãos.

TANTO SANGUE DERRAMADO...




Poncion Rodrigues
               
                Em escala planetária, assistimos todos, embora nem todos vejamos, aos verdadeiros sinais do fim dos tempos, que vinham sendo anunciados por religiões, seitas e crendices, das mais antigas até as manifestações fanáticas contemporâneas. Como costuma dizer um folclórico político piauiense, citando termos bíblicos com o olhar soturno de um velho profeta: “Atentai bem!”.
                De forma insidiosa e não brusca, como anunciavam as antigas gerações, o fim vem sendo progressivamente confeccionado com o trabalho primoroso de hábeis tecelões. Salta aos olhos que diante da beleza e serena harmonia do cosmo misterioso, apenas nossa casa “Terra” é vitimada continuamente pelos seus inimigos – habitantes, que se empenham com fervor em envenenar o ar, a água e o solo, além de criminosamente exterminar a vida animal. Parece haver um torpor coletivo impedindo que se pares e se repense as perigosas ações da maldade humana contra o planeta e em última instância contra a própria existência dos que se nomeiam “imagem e semelhança de Deus”.
                Era de se esperar que o termo “evolução humana” se referisse ao progresso da qualidade de vida e da qualidade espiritual do próprio homem, que iria lapidando sua essência filosófica e espiritual ruma à perfeição no caminho do verdadeiro equilíbrio respeitoso transcendendo as limitações morais do indivíduo e da coletividade. Leigo engano! Aqui, a palavra evolução identifica-se com a evolução de uma enfermidade com a evolução de uma enfermidade incurável que depois de dolorosa trajetória destrói a esperança e finalmente, a vida do paciente moribundo.
                Já no plano interpessoal, a criatura dita humana, em nome de diabólica competição generalizada, rompe todas as barreiras da decência e da dignidade, desde a disputa por espaços no mercado de trabalho até as ações mais rasteiras na guerra sem regras pela conquista ou manutenção do poder e do dinheiro. Alguém já se perguntou por que existe hoje no Iraque uma rotina monstruosa de derramamento de sangue, consequência de uma invasão militar ancorada no motivo cínico de libertar o povo de um tirano cruel? Então, por que a maior força militar do planeta não liberta da sanha assassina dos seus déspotas, as populações de miseráveis países africanos dizimadas pela fome, a AIDS e perversidade das suas eternas guerras civis?
                Não, não é a nobreza que move as ações dos homens que detêm o poder, e sim aquele irresistível desejo de derramar sangues de sua própria espécie.
                VIGIAI E ORAI!!!  

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A COMPANHEIRA



Isaias Coelho Marques

quando acordo
tenho a tosse
como companheira
e, ainda que me roces,
ela
a tosse
será a amante
                    última
                            verdadeira.      

TOURADAS EM MADRI



Poncion Rodrigues

A velha Espanha, que deu ao mundo os geniais Cervantes e Picasso, entre incontáveis outros ícones da boa qualidade na produção humana, também tem horrorizado a dignidade ao longo da sua sinuosa história. Vejamos: Que país foi palco da mais selvagem ação, durante a chamada Santa (aliás, santíssima) Inquisição? Emblemática foi a figura do padre Torquemada, príncipe das torturas e das fogueiras que, com patológica dedicação, perpetrou as perversidades determinadas pelos tribunais do Santo Ofício. Que país promoveu o genocídio contra as civilizações pré-colombianas, apagando com crueldade e ignorância histórica a pujança de MAIAS, INCAS E ASTECAS? Já na contemporaneidade, qual nação, dita civilizada, patrocinaria, através dos seus líderes, o genocídio de parte do seu próprio, como fez a Espanha “revolucionária” do generalíssimo Francisco Franco? Seu estilo materializou-se no bombardeio de Guernica, imortalizado na obra do bom espanhol Pablo Picasso, que envergonhado diante do banho de sangue entregou-se ao autoexílio. Naquela época, Franco já flertava com a Alemanha nazista e recebeu de Hitler apoio político e também bélico, pouco antes de a loucura alemã incendiar a Europa.
                Sob Franco, a Espanha consolidou sua vocação de estado policial que ainda hoje é presente, disfarçado de país moderno e democrático. Seu rei, se bem observado, apresenta olhar soturno e ibérica feiura, produto dos cruzamentos consanguíneos na nobreza europeia.
                Sibilino, o país das touradas repleto de chifres e de castanholas protagoniza uma robusta presença financeira em nosso país. Seu grupo SANTANDER já engole um naco importante do Brasil e avança célere em todos os ramos. Da telefonia à indústria hoteleira, lá estão eles. Os espanhóis que nos visitam curtem com avidez a nossa abundante oferta de turismo sexual. Em contrapartida, os “bravos” descendentes de EL-CID nos tratam como criminosos em seu país. Humilham nas dependências do seu aeroporto-prisão de Madrid, turistas, estudantes e profissionais em viagens científicas, inclusive aqueles que estiverem apenas em escalas de voos, destinados a outros países.
                Sofrendo sede e fome, confinados, incomunicáveis e insultados, nossos compatriotas são lá chamados de “porcos” e “cachorros” pelos seus algozes. Esquecem os vermes que porcos e cachorros são animais infinitamente mais nobres do que aquele povo de negra história.
                O que dizer de uma gente que compraz, emitindo urros trogloditas diante do sádico massacre de um pobre touro? Naquele momento eles babam de prazer. É a herança coletiva da pátria de Torquemada.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

OS FILHOS BASTARDOS DE HIPÓCRATES



Poncion Rodrigues

O dia 18 de outubro é data dedicada aos médicos e médicas, homenageados com justiça pela sua nobre profissão. De repente me ponho a pensar naqueles “colegas” que, abdicando da nobreza, se despem também da honra, quando se associam a agenciadores, proprietários de pensões e hospedarias, numa confraria de mercadores da tragédia humana. Antes agiam sub-repticiamente praticando seu comércio entre quatro paredes. Hoje uma nova geração de uns tantos pobres-diabos já se orgulha do volume dos “negócios” mantidos com a pior espécie de gente, de quem não são diferentes, no seu desprezo pela ética e pelo sentimento humanista, que deveriam nortear os seres humanos de boa qualidade.
                Consta que montam seus alçapões nas proximidades da rodoviária e dos grandes hospitais, onde colhem suas vítimas, geralmente oriundas do Maranhão, Tocantins, Pará e outros estados; pobres criaturas fragilizadas pela doença e por estarem distantes de seu habitat. O agenciador aborda a “mercadoria” falando da imensa capacidade profissional do Dr. Fulano, das incríveis curas cirúrgicas promovidas pelo Dr. Sicrano, com quem, coincidentemente mantém laços de amizade que podem facilitar ao sortudo paciente o acesso à consulta, tão difícil para as pessoas comuns. Está então fechado o cerco, só restando saber de quanto dispõe a vítima, para proceder a divisão do butim. Se essas ações não são ilegais, constituem-se, com certeza, em uma imoralidade condenável sob todos os ângulos.
                Neste triste país onde a propriedade cultural é roubada nas barbas da polícia e da justiça, através da comercialização aberta de produtos pirateados (vide cds e dvds); onde as cadeias estão abarrotadas com os párias sociais, enquanto os grandes abutres da nação se refestelam no banquete do dinheiro público, não poderia faltar, em nome da democracia, um espaço de atuação para os filhos bastardos de Hipócrates.
                Quanto aos colegas médicos, que dignamente mantém acesa a chama divina do seu mister, me dobro em reverência e gratidão.
                É tudo muito simples: Sejamos dignos!                                                                       

terça-feira, 16 de outubro de 2012

DEIFICAÇÕES X DEMONIZAÇÕES




A. J. de O. Monteiro

        A revista Veja, em sua edição nº 2.290, de 10 de outubro de 2012, traz em sua capa a reprodução de uma fotografia tamanho 3x4 do Ministro do STF, Joaquim Barbosa e a seguinte manchete: “O MENINO POBRE QUE MUDOU O BRASIL.” A capa, a manchete e a matéria em si, me levaram à reflexão sobre uma prática muito comum da imprensa de construir heróis, deificar ou demonizar pessoas ou instituições. As razões para esse comportamento devem ser estudadas por especialista, o que não é o meu caso, mas isso não me impede de conjecturar: Seria por razões econômicas, aproveitando um assunto acompanhado com muito interesse pela sociedade e com isso alavancar a venda da publicação? Seria para sedimentar na sociedade a ideologia que defende? Não sei, talvez as duas coisas juntas e, talvez outras mais, não sei.
     A História recente do Brasil oferece vários exemplos dessa prática os quais, creio, ainda estão bem nítidos em nossas memórias. Heróis construídos nos mais diversos ramos da atividade humana. Entre artistas e esportistas, a muitos são outorgados títulos nobiliárquicos (reis, rainhas, príncipes e princesas) e alguns, picados pela mosca azul, já chegaram a posar em trajes reais – manto, cetro e coroa. Vocês sabem de quem estou falando.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

ANGICAL REVISITADA



Isaias Coelho Marques

Seriema canta solidão
sol de flechas corta o sertão.

Um olhar de Angical,
o menino entranhado aqui
não foi para o bem nem para o mal.

Ciclo completado:
tristeza de aragem seca,
renasço em meus antepassados.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

NOITES DE IRA





Poncion Rodrigues

                Existe nas madrugadas de Teresina um mundo insuspeito; um universo paralelo de violência e medo, que dão o tom de insensatez e perversidade à rotina dos bairros e vilas que circunvizinham o chamado centro urbano da capital. Se já é tão perigoso circular nas ruas dos ditos bairros nobres, imaginem a versão mafrense dos bairros  selvagens de Nova York. É a Teresina marginal que liberta sua ira no avançar da noite; quadrilhas se digladiam e se matam peal posse do não-sei-o-quê. Vidas adolescentes se perdem nas escaramuças entre gangues em guerra que são registradas apenas parcialmente pela rotina das crônicas policiais, passando despercebidas pela nossa atenção seletiva na leitura matinal dos jornais.
                As madrugadas de ódio amedrontam os médicos e demais membro das equipes do SAMU, que socorrendo as vítimas se deparam quando em vez com seus algozes muito frequentemente impedindo o socorro que está tentando acontecer. Leio nos jornais que um certo indivíduo foi preso enquanto comemorava em uma festa o que teria sido seu quarto assassinato, façanhas até então não punidas pela eficiente e célere justiça brasileira, que, como sabemos todos, nos tem garantido os direitos constitucionais e castiga com rigorosas sentenças (cumpridas integralmente) os matadores que proliferam em nossas cidades. Sabe-se que certos juízes têm tanto amor à liberdade que não admitem que assaltantes e assassinos permaneçam presos, ainda que pegos em flagrante após troca de tiros com a polícia. Ouvi de uma autoridade policial que a constelação de bandidos em Teresina é composta por, não mais de trinta “estrelas”; são sempre os mesmos! Presos e soltos no jogo bizarro da impunidade que fascina os adolescentes, filhos da miséria, crescidos no vácuo da ausência total do Estado “protetor”.
É o caldo de cultura que transforma a criança pedinte em menor infrator e posteriormente no insensível assassino frio e irrecuperável, que pode estar à espreita de cada um de nós ou de nossas famílias, em esquinas e sinais de trânsito na perigosa Teresina. É da infância abandonada e ultrajada que são confeccionadas com progressiva perfeição as criaturas que protagonizam os terrores das noites desta triste cidade.

domingo, 7 de outubro de 2012

EU




Isaias Coelho Marques

Sou mar e carne,
mas de uma carne
que não há no mar.

Soletro ínfimos desejos
sem, no entanto,
saber falar.

Derivo de terra batida,
seca, sem aves no ar.

Acalmo minha certeza
em vastidão pequena,
espaço aberto
entre o coração e meu pisar.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

ESOFROMATEM*





A. J. de O. Monteiro
            Lá estava eu perambulando pelo mundo exterior, na cotidiana luta pela sobrevivência, catando migalhas, restos de comida caídos no chão, quando aquela densa nuvem me envolveu completamente. O odor era inconfundível: Inseticida! Desesperado e quase sem forças corri para o ralo, que era nossa comunicação com o mundo exterior. Joguei-me ralo abaixo semi-inconsciente. Movia-me o puro instinto. Senti todo meu exoesqueleto estalar ao chocar-se em decúbito dorsal com o cimento úmido do esgoto. Tudo escureceu.
            Acordei sentindo dores por todo o corpo e minha cabeça doía a ponto de explodir e uma sede como nunca sentira antes me atormentava. Parecia que todo o líquido da minha composição química evaporara. Pensei (pensei?): - Os humanos desenvolveram uma nova e poderosa arma na sua eterna luta por exterminar-nos... Tentei virar-me e caminhar em busca de água e aplacar aquela terrível sede. Balancei as pernas com toda a força que me restou e aí veio o primeiro susto: faltavam-me as pernas mesotoráxicas, mas, paciência, conheço muitas baratas que se saem muito bem sem elas, devem ter-se desprendido na queda. Liberei o que ainda retinha de feronômios na tentativa de atrair os demais membros da colônia, mas eles não se aproximaram, ficaram distante agitando freneticamente suas antenas e olhavam pra mim com expressão de pavor. Invoquei Barateus enquanto continuava agitando as patas restantes e, como num milagre, consegui virar-me. Agradeci e arrastei-me penosamente em direção a uma poça d’água para aliviar aquela sede lancinante.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

AO MESTRE, COM CARINHO




 Manoel Emílio Burlamarqui de Oliveira
            
          Sempre me pareceu quase impossível planejar o desenvolvimento. Relativamente fácil é planejar a economia, a saúde, a educação, etc, desde que sejam conhecidos objetivos, metas e recursos disponíveis. Mas, esse planejamento setorial pouco tem a ver com o desenvolvimento, pelo menos, como eu penso.
            Tenho o desenvolvimento como um espaço compreendido entre o nascimento e a morte de qualquer coisa, seja uma de uma ideia, de um projeto, ou de um ser, animado ou não. Penso o desenvolvimento como sobrevivência do homem na terra, como continuidade de sua existência em um universo do qual faz parte.
            E, pensá-lo assim, torna-se-me muito doloroso, pois aquilo em que foi transformado, meio de dominação e não preservação, é, apenas, uma arma para a manutenção do poder em mãos de poucos.
            O poder nunca se preocupou com o Homem, com pensar o mundo. Deixou essa tarefa para os “filósofos”, estigmatizados e afastados dos simples mortais, como teóricos, utópicos, criaturas inteligentes mas, muito chatas... No entanto, sempre utilizou seus ensinamentos, para deturpá-los e distorcê-los em causa própria. Pelo que parece, todos eles foram considerados subversivos, até Aristóteles, depois de ajudar Alexandre a dominar o mundo.
            Mas alguma cousa está mudando... Com o salto no mundo da comunicação, a Aldeia Global materializou-se. Compreende, hoje, que o projetado em qualquer parte do mundo, atinge o mundo todo. O desenvolvimento não se faz em ilhas, não elege regiões, não privilegia povos. Não há, mais, o que esconder, O REI ESTÁ NU! A Aldeia Global dá início ao seu clamor por solidariedade e fraternidade, participação, até subversão (dos seguidores do Buda, de Jesus, do Mahatma, de Mandela...), quer a humanização do poder.
            Continuarão, sem dúvida, os planos setoriais, a se multiplicarem insuportavelmente, seguindo os seus fracassos, uma vez que não visam, ou não veem o amanhã, no seu imediatismo descompromissado. O poder, ao pensar só o poder, atrasa o desenvolvimento, se não o destrói. O choque entre poder e desenvolvimento é o dilema atual: O Apocalipse está aproximando-se, ou a humanidade continuará sobrevivendo?
            Fez-se a luz no final do túnel! Descubro o papel dos planejadores do desenvolvimento, dos planejadores da conservação da vida:planejar a organização dos que clamam por um poder humanizado, para que transformem o Poder-dominação, em Poder-libertação!
                Talvez, o que escrevi acima sejam bobagens de um “caducante”. Se as publico, é que foi o meio, escolhido por mim, para expressar a minha admiração e o meu respeito por um querido e velho amigo, que me propiciou o distinguir o sério do caricato. Pensador e Mestre, ousou pensar o Mundo para chegar ao Piauí. E, ousou propor à Academia Piauiense de Letras, que se tornasse palco de discussões de ideias novas. O meu abraço, caríssimo professor Raimundo Nonato Monteiro de Santana, pioneiro do planejamento no meu Piauí.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

COMPASSO DE ESPERA


Isaias Coelho Marques

Meu amor,
não demore tanto
- nem tão pouco –
ao ponto da espera transformar-se
Em triste olor.

Passados os dias
e as horas brancas e vazias,
não espere que esse perfume
dure eternidades.

Não faça pouco caso,
nem chegue depois.
Saiba ouvir a voz do momento exato.

Não demore tanto
- nem tão pouco.

Aprendido isso,
terá, para sempre,
meu humilde encanto.

ANARQUISTA, EU?



Poncion Rodrigues

Eu que não sou de pensar, resolvi pensar agora.
Por que cada eleitor não joga seu título fora?
Imaginem em cada rosto, a alegria estampada, se na hora do imposto nenhum de nós pagar nada...
E a canalhice coitada, instalada no planalto, vai ficar sem combustível para promover seus assaltos!
É de partir corações olhar para os desvalidos...
...órfãos injustiçados dos saudosos mensalões...
Quem meu Deus, há de cuidar dos nossos pobres ladrões?
Mas se a justiça exige que nós temos que votar, pela justiça velo eu, tu também velas!Vamos votar nas putas e não mais nos filhos delas! Pois não honraram suas mães, essa cambada de felas!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A IMBECILIDADE HUMANA




Manoel Emílio Burlamarque de Oliveira


      Quero confessar, aqui, que, em todos os professores que tive, em todos os contistas de fábulas que conheço, em todas as aventuras maravilhosas com que sonhei, em toda a Mitologia Grega que me encantou, em toda a matemática, a história, em toda a geografia que aprendi, do Brasil e do mundo, e no grande amor que tenho por meu Brasil, a presença de Monteiro Lobato sempre é uma constante, como fonte principal de minha formação moral, ética, e de cidadão, desde minha infância/juventude, escritor genial que, sempre, foi meu candidato ao Premio Nobel de Literatura.     
     Agora, sua obra está sendo julgada, no STF, acusado, ele, de racista! E por quê? Por haver tido a ousadia, de incluir, no meio de princesas, piratas, aventureiros, bem como de personagens do nosso folklore, junta a Dona Benta, ao Pedrinho, à Narizinho, à Emília, ao Visconde de Sabugosa, e a outras admiráveis criações suas, uma negra, livre, bondosa, cozinheira de quitutes que me enchiam a boca d’água, digna, cujo amor ao próximo transbordava em seu coração, onde não cabiam maldades, nem maledicências, adorada pelos "sobrinhos" do mundo inteiro - a Tia Nastácia. Ah! quem dera que meus netos queridos, todos eles, tivessem a ventura que tive, de ler as obras de Lobato!       
    Ah!, quem dera, que os detratores de Lobato, imbecis travestidos de defensores da liberdade, e da igualdade, dos que lutam contra o preconceito racial, fossem, todos, pra puta que pariu!