quarta-feira, 6 de março de 2013

REFLEXÕES DE FIM DE ANO (Fugindo da Realidade crua)



Poncion Rodrigues
                O tempo esse devorador de vidas e de sonhos, acaba de engolir mais um ano. Mas, afinal, passam-se anos ou nós passamos por eles, como viajantes de dimensões que se articulam em uma incompreensível teia? Qual será o sentido do ciclo imutável do nascer, empreender a aventura da vida e desaparecer para sempre do meio humano? Na maioria dos casos seremos castigados pela decrepitude mental e pela degradação física que, lenta e inexoravelmente, transforma viço em rugas.
                No atual estágio do conhecimento já se suspeita fortemente de que é falsa a nossa impressão do velho tempo, fluindo linearmente em passado, presente e futuro. A verdade suposta é que o tempo não existiria como o imaginamos, e os acontecimentos ocorreriam sim, em dimensões diferentes e todos ao mesmo “tempo”. Sendo assim, o que seriam nossos passeios pelas recordações senão embaçadas revisitas ao que chamamos de passado e que estaria novamente se apresentando diante de nossos sentidos?
                Poucas pessoas se dão conta de que os talentos de nossas mentes não se atrelam a limites, e que possuem tal elasticidade que, ao mesmo tempo em que possibilitam a certos homens iluminados a criação de uma divina sinfonia, se permitem a ocupação anã dos devaneios medíocres. Incontestavelmente, a mais fantástica das viagens está disponível, lá dentro, nas abissais profundezas do pensar.
                Ultimamente, alguns físicos e matemáticos eminentes admitem a possibilidade de viajar pelo passado, que era categoricamente negado há alguns anos. Ainda no século XIX, Camille Flamarion, o intrépido explorador do conhecimento, teve a coragem de afirmar que as portas de outras dimensões abriam-se nesta.
Universalmente respeitado, Teilhard de Chardin, jesuíta e paleontologista francês (1881 – 1955), cujos escritos teológicos e filosóficos foram proibidos pela Igreja durante toda sua vida, é autor de um livro muito interessante chamado o “Fenômeno”.  Dizia ele que “em escala cósmica, somente o fantástico tem a possibilidade de ser verdadeiro”. Portanto mergulhemos no fantástico que se abriga nas cavernas de nossas almas coletivas e empreendamos a viagem de nossas vidas, através das portas do tempo que nos escancaram a fantasia. E, pelo menos enquanto a ciência ainda não nos possibilita a expedição física através desse profundo mistério do universo, vamos driblando os empecilhos, com a sublimação do pensar. Essa é, enfim, a verdadeira liberdade de ir e vir, pois não se aprisionam os pensamentos. Convém lembrar que pertencem aos sonhadores o espírito do Natal e a esperança do ano novo feliz.
(dezembro/2008)

MULHER ÚNICA



Isaias Coelho Marques

No campo de visão do poeta,
passam homens inteligentes,
homens amedrontados,
homens otários.

No vasto campo de visão do poeta,
passam homens vários,
passa boi,
passa boiada.

Só não passam os passos
Da mulher amada.