Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
(do livro “De Corpo Inteiro”)
Saí
da vida adormecida de um velho aposentado (do INSS) para o reboliço do Rio de
Janeiro, a fim de, com minha mulher e meu filho Pedro, assistir o casamento de
minha filha, Gilda, com o Fernando, e participar da linda festa, oferecida pelo
casal aos convidados, sem jamais imaginar que, na escala de Brasília, pudesse
acontecer o causo que vou lhes contar, não sei se envergonhado, decepcionado,
ou emputecido... só sei que vou processar o aeroporto de Brasília, ah, isso
vou!
Duas
horas de espera para pegar o voo que nos levaria ao Rio. Lanche pra cá, lanche
pra lá, quem não fica com vontade de ir ao banheiro? Olhei para o relógio,
faltavam ainda, uns 20 minutos para a nova decolagem, e lá vou eu, carregando
sacola, blusão de frio (por precaução) e minha bengala, em busca do “cavalheiros”.
Encontrei,
entrei, e, surpresa, pequeno, para poucos visitantes. Entrei na fila, que,
ainda bem, andou depressa, e, com uma mão (a outra estava ocupada com os
trambolhos), procurei pelo pinto, que, então, já era pintainho, sem conseguir achá-lo,
busca essa que me consumiu alguns minutos e, uma agravante, chamou a atenção
dos demais xixizantes. Valha-me meu santo milagroso, será que vou me molhar?
Eis que, o colega do lado, junto a uma meia-parede, termina seu afazer e sai,
deixando uma vaga preciosa, pois tinha onde colocar minha bengala, (pendurada
na parede), a sacola e o blusão, no canto, para, com as duas mãos, vazias
tentar agarrar aquele pinto fujão.
Foi
o que fiz: calças arriadas nas pernas, procura que procura, agarro o safado e o
coloco no lugar apropriado para abrir o bico... Suspirei, aliviado, mas escutei
um suspiro mais elevado, de quem? Dos espectadores, cretinos, gozando do pobre
velho... Tem nada não, que saio já. Quem disse? O safardana daquele pinto, só
podia tá gagá, não abriu o bico, o xixi não saia. Nova expectativa, e os
cretino passaram a fazer xiii, xiii, xill... Teve, até, um que cantou “mourão,
mourão, vara madura não cai, mourão, mourão, catuca por baixo, que sai” – “Vai
catucar teu pai, cretino!” Risadaria geral, mas serviu, pois o xixi saiu.
Pensei
que minhas atribulações haviam cessado. Quem disse? O gagá se recusava fechar o
bico... olhei de soslaio, e os visitantes daquele banheiro, (ou espectadores?),
estavam com a respiração suspensa, sem acreditar no que viam. E, eu, não tinha
nem um pregador de varal para acabar com aquela comédia, que, inevitavelmente,
teve um fim, com o cansaço do imprestável, sem dúvida...
Agasalhei,
convenientemente, o pinto gagá, e fui saindo de mansinho. De mansinho, uma ova,
estrondou uma salva de palmas e de parabéns dentro daquele banheiro fajuto,
como seu fosse um verdadeiro herói...!
Não
me contive, mandei-lhes uma “banana”, levantei minha mão desocupada, com o
dedão no rumo daqueles gozadores, e gritei: “taqui pra vocês, bando de felas!”
Graças a Deus, mulher e filho não souberam desse causo, senão, nem ao casamento
me deixariam ir, piis diriam que o gagá era eu...
E,
ainda, ficam falando do nosso aeroporto...