quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

ONDAS




Isaias Coelho Marques

Ando como ondas
que passam,
ondas de outro mundo
que não voltam
                            nunca

Ando assim,
dispensando meu nome,
sendo eu
em coisa nenhuma.

Passem ondas!
Voltem, voltem!
Encontrem o eu
                            que nunca
                                               fui.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

YES, HABEMUS PAPAM.


Um nada santo Papa!

A. J. de O. Monteiro
            
             Depois que morreram D. Helder Câmara, o físico César Lattes,  Irmã Dulce e o escritor Jorge Amado, a imprensa brasileira desistiu de cogitar um prêmio Nobel para nosso país, pois após os acima citados, nenhum patrício com chances de disputar tal laurel apareceu.
                Mas a nossa briosa e patriota mídia não desiste de elevar um brasileiro a um posto de relevância internacional. No momento atual com a anunciada renúncia de Bento XVI, temos observado a postura farsista dos maiores veículos de comunicação passando para a o povo, principalmente para os católicos, que existem cinco cardeais brasileiros entre os “papáveis”. Isso é sofisma, porquanto todos os cardeais com menos de 80 anos são elegíveis. O que eles não dizem – mas nós sabemos – é que a igreja brasileira não tem representatividade política no Vaticano. Senão vejamos: O Brasil – dizem – tem o maior número de católicos dentre todos os países, mas, com apenas cinco cardeais, está bem distante da representatividade de países com bem menos católicos – Itália (28); EUA (11); Alemanha (6) e Europa como um todo (63). É de se observar que em toda história do catolicismo, apenas dois não italianos foram escolhidos Papa, mesmo assim, europeus.
                Mas, assim mesmo, façamos um exercício de imaginação elegendo um papa brasileiro. Creio que a coisa seria mais ou menos assim: Tão Logo a fumaça branca saísse da chaminé do Vaticano e o Cardeal Francisco da Silva assomasse à sacada do palácio ouviríamos a musiquinha tan-tan-tan tan-tan-tan e o ufanista brado do locutor de todos os grandes eventos: FRRRRRRRANISCO DA SILVA É É É É É É É DO BRASIL!!!! O cardeal camerlengo anuncia o nome adotado pelo novo pontífice: FRANCISCO BENTO I (Francisco em homenagem ao seu patrono – São Francisco e Bento em homenagem ao seu antecessor Bento XVI). Confesso que achei uma temeridade a escolha de tal nome pois irreverente como é o brasileiro, logo, logo começarão a chamá-lo de Xico Bento I.
                Imaginemos também a primeira audiência do nosso papa, na Praça de São Pedro, para a bênção “Urbe et Orbi”. Uma apoteose! A famosa Praça colorida com bandeiras de todos os times de futebol e escolas de samba do Brasil, dois trios elétricos com duas baianas pernudas berrando e pinoteando. Banquinhas vendendo fitas do Senhor do Bonfim, outras com CDs piratas com os hits homenageando o pontífice, churrasquinho de gato e, pasmem, uma ala de baianas de escola de samba acompanhada da ensurdecedora bateria. Enfim, o momento mais esperado Xico, digo, Francisco Bento I surge no balcão e ai ecoa em uníssono: A-HÁ, U-HU, O VATICANO É NOSSO!
                Por fim, como bom brasileiro, gostaria de contribuir para o sucesso do papado de Xico, digo, Francisco Bento I, sugerindo-lhe o nome do ítalo-brasileiro Salvatore Cacciola para presidente do IOR – Instituto de Obras Religiosas o Banco do Vaticano.
                

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

SÓ SEI QUE NÃO SEI DE NADA





Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira


    Meu querido amigo, o jornalista Cláudio Barros, em sua "Frente Ampla". no jornal Meionorte, deste domingo, fez-me ver o quanto preciso aprender para engolir minhas ignorâncias... Pois não é que encontrei uma observação onde a nossa inflação (sei que ela está pedindo passagem às nossas autoridades monetárias, feito escolas de samba no nosso carnaval) se prenuncia pela "facilidade com que estão circulando notas de R$100"? Será que, com tanto carro zero rodando na cidade, com tantos apartamentos sendo construídos e vendidos em Teresina, e no Brasil, com tanto aumento salarial, não vale a pena creditar à distribuição de notas de 100 pelos Bancos a, também, uma crescente queda do desemprego, um crescente poder aquisitivo da população, a um crescimento de nossa indústria e de nosso comércio, bem como de nossa produção agrícola? Gostaria de pensar que o dragão estivesse, apenas, nos sobrevoando, e que será abatido, antes que permaneça por "uma longa temporada"...

     Em outro local, vejo que a demanda de serviços e de produtos básicos, como alimentos, vestuário, moradia, e outras "besteirinhas" mais, crescente com a distribuição de renda, não tem maior influência na nossa produção, no crescimento de nossa indústria, de nossa agricultura e de nosso comércio, pois, pareceu-me que foi dito que a renda dos brasileiros aumenta, misteriosamente, como decorrência da benevolência do empregador, mesmo sem o crescimento da produção e do lucro que esse crescimento propicia... A distribuição dos lucros da empresa já existe em nosso país (?), a um nível de poder substituir programas de transferência de renda? Esse BIRD...
     Finalmente, eu, que não consigo entender criatura sem criador, nem evolução do nada, vejo que me tornei um fundamentalista, incomodando, terrivelmente ao Criador, sem dúvida por achar, Ele, que seria o Grande e Único Fundamentalista! Peço desculpa ao Claudio, por querer uma vida melhor no outro mundo, ao procurar ser justo, honesto, coerente com o que penso, sem ter medo do maldito buraco negro. Agora, explica-me, amigo velho, essa tua intolerância com a "ignorância" dos que têm fé, essa tua convicção de que o "instinto biológico da preservação da espécie é o responsável pelo fundamentalismo de qualquer raiz”, também não se incluiria como um tipo de fundamentalismo, a ponto de desejares que morramos todos, que apelidas de fundamentalistas, ou tu acreditas que a sobrevivência da espécie não é um mero dogma? Olha que já não sobrevive uma porção de espécies...
     Fica certo, escriba, que não morrerei para te fazer um favor. Quando o dia chegar, partirei sem medo, com fé, esperança e amor, como aprendi com minha religião, sem nem saber que isso poderia ser chamado de fundamentalismo... Credo!


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

CARNAVAL





Isaias Coelho Marques

Meu poema sem ritmo,
quando deveria,
atravessou na avenida,
feriu os olhos de quem viu
no quesito alegoria,
morreu por falta de enredo
e, assim sem segredo,
sambando inteiramente nu,
foi jogado nesta folha
como cinzas de uma quarta-feira.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

MÁSCARAS






Poncion Rodrigues
               
                  Exerciam verdadeiro fascínio sobre mim e os outros meninos daquele tempo. Confeccionadas de forma tosca, em cartolina branca, com “lentes” de papel celofane colorida, recebiam aleatórios borrões de tinta, distribuídos pela sua superfície como a natureza o fez, na pele da onça pintada. Vocês nem podem imaginar como as máscaras, conduzidas por seus vendedores, penduradas em enormes cabides de buriti enfeitavam a cidade feito alegorias vivas, dançando sopradas em sua leveza pelos poucos ventos da pequena Teresina. Além dos vendedores ambulantes espalhados por todas as ruas, tal quais pedintes de hoje em dia, as máscaras tinham na calçada do CLUBE DOS DIÁRIOS, uma espécie de QG, onde dividiam espaço com os lança-perfumes, chapéus, fitas, apitos, rolos de serpentina, sacos de confetes e outras bugigangas carnavalescas.
                Nas semanas que precediam a festa propriamente dita, as pessoas já respiravam o carnaval. Adultos e crianças pensavam suas fantasias; os blocos ensaiavam uma barulhenta algazarra em endereços dispersos, e as marchinhas antigas se revezavam com novas canções de ritmo “pulante” e letras gostosamente jocosas, nas programações das duas únicas emissoras de rádio (lembra Deoclécio?).
                E tinha o corso. Ah, o corso! Ele intermediava a alegria infantil e pré-adolescente dos bailes matinais com a desenvoltura etílica e etérea dos adultos, que invadiam a madrugada nos clubes com impressionante vigor físico e tolerância hepática.
                Lá no corso, nos e nossas máscaras, a irreverência infanto-juvenil, os olhares pecaminosos em direção ao caminhão das raparigas, cheio de mulheres, ditas de vida, com abundante oferta de sonhos para prazeres futuros. Que carnavais!
                Mal sabiam as máscaras, coitadas, que como o próprio carnaval, o seu círculo de beleza e glamour provinciano se encerraria na quarta-feira, junto com a alegria folião de toda uma cidade, que finalmente dormiria em silêncio.
                Nos tempos de hoje, o uso da máscara tem sido prerrogativa de incontáveis adultos que relutam em retirá-las, ao longo de suas vidas desprovidas de graça e da autêntica alegria.

NO TEMPO DA PALMATÓRIA




Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

O fato aconteceu em 1958, portanto, há cerca de 55 anos. No Brasil, pouco se falava em Direitos Humanos, e, muito menos, do uso da palmatória, principalmente, em crianças. Este uso era apreciado nas delegacias de polícia, onde se transformou em instrumento de persuasão, para que ladrões informassem onde escondiam seus furtos, parece que com bastante êxito... No velho Mercado Central de Teresina, as vendedoras de verduras andavam se queixando de que estava sendo furtado, o dinheirinho que recebiam de suas vendas, desaparecia, de vez em quando, sem que soubessem como e nem pra onde ia... Foram fazer queixa na Delegacia competente, e o delegado, de então, mandou um investigador verificar o que estava acontecendo. A descoberta veio logo: um garotinho, de 8/10 anos, andava, entre as bancas das verdureiras, com uma varinha e um punhado de visgo, e, quando via uma lata sem tampa, usada para guardar o fruto das vendas, "pescava" o dinheiro ali depositado, sem que ninguém o percebesse, todos ocupados com a compra-e-venda das mercadorias expostas... Dia seguinte, o garoto foi seguido até ao bairro onde morava com sua mãe, que, informada dos acontecidos, jurava que o menino era inocente. Entretanto, pegado "com a boca na botija", não havia como negar o fato, e, pior, o investigador viu um tijolo solto num canto da sala que, levantado, cobria um monte de cédulas, "arrecadadas" pela criança em dias anteriores. A mãe foi levada à Delegacia, onde, chorando, pediu ao Delegado que desse um jeito de acabar com o "vicio" do filho, pois ela já havia recorrido, até, ao juiz de menores, sem nada conseguir de prático. O Delegado pediu àquela senhora que assinasse um termo de responsabilidade, em que declarava que era sabedora das artimanhas da criança e que, nunca mais, o filho voltaria ao Mercado. Feito isso, chamou um investigador mais forte e o mandou buscar uma enorme palmatória, com um furo pequeno no centro (jamais soube de sua utilidade), que assombrou a pobre mãe: "doutor, o senhor vai mandar bater em meu filho com isso aí? tenha piedade, Dr., por amor a Deus!" O Delegado retrucou, "Deus me livre de tal desgraça! a palmatória é pra senhora"! E ordenou ao seu subordinado que aplicasse meia dúzia de "bolos" bem dados, em cada mão, que a coitada se mijou toda... Terminada a melódia, informou à mãe safada que "se o garoto voltar a furtar serão 12, em cada mão!" Tenho a impressão de que, daquela vez, a velha palmatória foi bem aplicada, pois nunca mais as verdureiras se queixaram de furto e a criança passou a frequentar a escola”.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

REGISTRO



Isaias Coelho Marques

Nascido
entre dois rios
sou de espírito
líquido & incerto 

CULTURA GLOBAL OU, O CABARÉ PRECISA DE UMA NOVA MADADME



Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

Essa, eu escrevi em janeiro de 2008, numa coluna que denominei de “Passando do Tempo”, com o título de “Voltando”...
                “Após três anos, e, um pouco mais esperançoso pelas mudanças que começam aparecer no mundo, e, consequentemente, no Brasil, estou voltando para minhas análises e minhas críticas, sobre o acontecido, o acontecendo e o acontecerá...
                Hoje serei breve, e, fazendo um esforço para não vomitar, apenas perguntarei: Até onde vai a rede globo com o cabaré que montou em sua TV? É isso que eles chamam de cultura? O tal Pedro Bial deverá ser candidato à ABL, como apresentador do BBB, pois não?”
                 Quatro anos depois, a merda continua, cada vez mais audaciosa, inundando o Brasil dessa cultura global, desconhecendo – será que algum dia conheceu? – todo e qualquer princípio moral, ou ético, e bestializando o chamado 4º poder!
                Estou pasmo que o Bial não esteja, ainda, na academia Brasileira de Letras! Creio que a Globo não encontrou uma nova madame, à altura, que venha substituí-lo nessa função, no BBB, mais importante que o galardão imortal, e, evidentemente, que a própria ABL...