Poncion Rodrigues
O
tempo esse devorador de vidas e de sonhos, acaba de engolir mais um ano. Mas,
afinal, passam-se anos ou nós passamos por eles, como viajantes de dimensões
que se articulam em uma incompreensível teia? Qual será o sentido do ciclo
imutável do nascer, empreender a aventura da vida e desaparecer para sempre do
meio humano? Na maioria dos casos seremos castigados pela decrepitude mental e
pela degradação física que, lenta e inexoravelmente, transforma viço em rugas.
No
atual estágio do conhecimento já se suspeita fortemente de que é falsa a nossa
impressão do velho tempo, fluindo linearmente em passado, presente e futuro. A verdade
suposta é que o tempo não existiria como o imaginamos, e os acontecimentos
ocorreriam sim, em dimensões diferentes e todos ao mesmo “tempo”. Sendo assim,
o que seriam nossos passeios pelas recordações senão embaçadas revisitas ao que
chamamos de passado e que estaria novamente se apresentando diante de nossos
sentidos?
Poucas
pessoas se dão conta de que os talentos de nossas mentes não se atrelam a
limites, e que possuem tal elasticidade que, ao mesmo tempo em que possibilitam
a certos homens iluminados a criação de uma divina sinfonia, se permitem a
ocupação anã dos devaneios medíocres. Incontestavelmente, a mais fantástica das
viagens está disponível, lá dentro, nas abissais profundezas do pensar.
Ultimamente,
alguns físicos e matemáticos eminentes admitem a possibilidade de viajar pelo
passado, que era categoricamente negado há alguns anos. Ainda no século XIX,
Camille Flamarion, o intrépido explorador do conhecimento, teve a coragem de
afirmar que as portas de outras dimensões abriam-se nesta.
Universalmente
respeitado, Teilhard de Chardin, jesuíta e paleontologista francês (1881 – 1955),
cujos escritos teológicos e filosóficos foram proibidos pela Igreja durante
toda sua vida, é autor de um livro muito interessante chamado o “Fenômeno”. Dizia ele que “em escala cósmica, somente o
fantástico tem a possibilidade de ser verdadeiro”. Portanto mergulhemos no
fantástico que se abriga nas cavernas de nossas almas coletivas e empreendamos
a viagem de nossas vidas, através das portas do tempo que nos escancaram a
fantasia. E, pelo menos enquanto a ciência ainda não nos possibilita a expedição
física através desse profundo mistério do universo, vamos driblando os
empecilhos, com a sublimação do pensar. Essa é, enfim, a verdadeira liberdade
de ir e vir, pois não se aprisionam os pensamentos. Convém lembrar que pertencem
aos sonhadores o espírito do Natal e a esperança do ano novo feliz.
(dezembro/2008)