quarta-feira, 30 de outubro de 2013

“SE ESSA RUA, SE ESSA RUA FOSSE MINHA...”



Ricardo Cruz
                Agora no almoço conversava com colega psicólogo carioca e falávamos do espaço da rua e suas possibilidades. Lembrávamos como a rua nos ajudou no nosso brincar, esconde-esconde, pião, bola de gude, “soltando pipa”, a velha baladeira, barquinho de papel quando vinha a chuva (no Piauí demora, mas chega), jogando bola na rua que deixava suas marcas nos joelhos e ajudava a construir a nossa história. Quantas amizades não se construíram no decorrer de nossa caminhada? surgida nesse espaço de transformação onde permitia um encontro livre dos muros e grades das casas e prédios. Permitindo que o nosso imaginário fosse ampliado pelas trocas de olhares, sorrisos, duvidas vividas, vindas do nosso crescimento.
                Essa mesma rua que foi abandonada por muitos, aterrorizadas por outros, porém para muitos jovens ainda existe um desejo de resistir compreendendo a rua como espaço de sonhos, de troca, de uma nova sociedade humana e igualitária. Essa mesma rua que a mídia ajuda a destruir, associando a miséria e ao caos colocando-a como local de perigo tendo em vista que as nossas relações, o individualismo, as desigualdades o nosso modo de viver é que tem trazido tanto sofrimento.
                Que sociedade estamos sonhando, lutando e construindo onde os nossos jovens tem se distanciado dos espaços de encontro, espero que possamos resistir para podermos permitir dias melhores para a MASSA (no qual fazemos parte). UM SONHO DE SONHADOR MALUCO QUE SOU....
                É nesse sentido que caminho com o Querido Mujica ao dizer: “Pertenço a uma geração que busca outro mundo, fui afastado, derrotado, pulverizados, porém sigo sonhando que vale apena LUTAR (nas RUAS) para que a gente possa viver um pouco melhor e com um maior sentido de IGUALDADE”.
                Continuarei caminhando NA RUA esse espaço de possibilidades “...Porque Se essa Rua, Se essa Rua fosse minha...”
RUA DA GLÓRIA
Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
                Lembrar da minha Rua da Glória, já calçada nos anos 30, cheia de amendoeiras, com frutos, ora amarelos, ora vermelhos, todos de fazer a gente ficar de boca cheia d’água, lembrar de Rua da Estrela, ainda na areia, e das travessas que as ligavam, só areia, e capim, e de todas as brincadeiras e peraltices de que falou teu filho, e, mais, dos "cavalos", feitos dos talos de buriti que cercavam os quintais... tempos "idos e vividos", "que não voltam mais", mas que resistem em permanecer dentro de mim!
                Ah, se aquela rua fosse minha! eu esfolaria qualquer gestor que tivesse o desplante de transformá-la num simples caminho de usuários do comércio, em nome de uma urbanização irracional, em que a humanização foi pras cucuias... Obrigado a ti, amigo, e a teu filho, por me fazerem chorar, de saudade do que foi, e de pena do que é...
               Aguenta, coração!

GENTILEZA GERA GENTILEZA



José Luiz Santiago

                O incêndio do Gran Circus Norte-Americano em Niterói no dia 17 de dezembro de 1961 deixou mais de 400 mortos, a maioria crianças. O empresário do setor de cargas José Daltrino, com 44 anos, não suportou ver tanto sofrimento e foi para o local, consolar as pessoas. Ali começava a belíssima história do Profeta Gentileza, um homem praticamente rico que abandonou tudo para pregar, de um jeito bem carioca, e se dedicar ao semelhante.    Seguramente muitos do Rio se lembram daquela figura singular de cabelos longos, barbas brancas, vestindo uma bata alvíssima com apliques cheios de mensagens, com um estandarte na mão com muitos dizeres em vermelho, que a partir dos inícios de 1970 até a sua morte em 1996 percorria toda a cidade, viajava nas barcas Rio-Niterói, entrava nos trens e ônibus para fazer a sua pregação e oferecer flores aos passantes.
                A partir de 1980 encheu as 55 pilastras do viaduto do Caju, perto da rodoviária, com inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar de nossa civilização, denunciando as ameaças à natureza, pregando o "AMORRR" (ele tinha um modo peculiar de escrever) e a gentileza como salvação do mundo.
                Tempos depois, suas palavras foram cobertas de tinta cinza por ordem da prefeitura. Hoje, recuperados por meio de um projeto da Universidade Federal Fluminense, os textos do Profeta Gentileza são considerados patrimônio artístico-cultural no Rio de Janeiro. Aos que o chamavam de louco, respondia: - "Sou maluco para te amar e louco para te salvar".
                Que a gente possa, nesta semana, espalhar um pouco da gentileza do Profeta e tornar o Rio mais humano. Vale tudo: um elogio, um sorriso, um cumprimento, uma atitude! Podemos não mudar o mundo, mas tornar a vida do semelhante mais leve já será um grande feito! Boa semana para todos!

NOTA: Copiado do perfil do autor no "facebook"

terça-feira, 29 de outubro de 2013

FELICIDADE VELOZ


Isaias Coelho Marques

Canto o mundo
vivo maravilhado
esses segundos.

Depois, depois
é tempo longo.
Morde-me monstro
misterioso.

Desencanto, pranto
para tão poucos
segundos maravilhosos.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

AMOR INCONDICIONAL


Isaias Coelho Marques

Mesmo que essa noite
venha caindo sobre mim,
feito criança, mesmo assim,
trôpego, o coração vai ao açoite.

Não adianta desprezar-me dessa maneira infinita
pois, quando passas em frente ao botequim,
vendendo meus sonhos,
ai de mim, estás mais bonita!

Não adianta!
um amor desses não se rende,
enrola-se feito papel sobre si mesmo até o fim.
Um amor desses jamais se rende,
você entende?
nunca,
até o fim...

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

“TEJE PRESO”*


Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
             
                  1º de abril de 1964 veio com uma surpresa para o povo brasileiro: o golpe militar. Iniciaram-se as prisões em todo o País. No Piauí não foi diferente. Pessoas acusadas de serem comunistas e/ou subversivas foram levadas para as prisões em quartéis militares, maioria delas nem sabiam definir os termos “comunismo” e “subversão”. Não era o meu caso, evidente, que os conhecia muito bem, ainda que não fosse, por convicção própria, seguidor da ideologia marxista ou praticante de atos contra a ordem estabelecida, o Estado ou, mesmo, o Governo.
                Na primeira semana daquele mês, procurei duas pessoas, importantes, para mim, o Governador Petrônio Portella, para saber de sua posição face ao golpe e colocar-me à sua disposição, e o meu Bispo, Dom Avelar, a quem tinha uma devoção filial e a quem devia obediência, como católico militante.
                Petrônio, de cuja amizade pessoal sempre me honrei, mandou-me ir para casa, pois nada havia a ser feito, ele próprio estava com dois coronéis em seu gabinete. Não o prenderam graças à argumentação dos ex-governadores Pedro Freitas e General Gayoso, do irmão deste, também General reformado, e do Cel. Façanha, comandante da Guarnição do Exército, em Teresina, conforme informações posteriores.
                Já Dom Avelar, informou-me que procurou interceder a meu favor, em virtude dos boatos sobre minha próxima prisão, mas não alcançou qualquer êxito... (Também, pudera, ele, coitado, sempre fora marcado pelos “golpistas”). Pediu-me que ficasse com minha família e, se fosse preso, mandasse minha esposa, Magda, procura-lo, de imediato. Assim o fiz. Magda foi tratada por aquele Pastor inigualável, como verdadeira filha! Sua bênção, meu querido bispo!
                13 de abril. Estava terminando de me barbear, para tomar o café da manhã com minha família, quando adentra minha casa um Tenente do Exército, perguntando se eu era o Dr. Manoel Emílio. Resposta afirmativa, o rapaz, parecendo encabulado, disse, apenas, que o Ten. Cel., comandante do 25º BC, convidava-me a comparecer a seu gabinete. Permitiu que tomasse o café com minha mulher e filhos e que levasse uma Bíblia e um Missal, pois pensava que, por lá, houvesse uma capela...
                Fui de Jeep, com o tenente e um soldado armado, até a sede do 25º BC, e fiquei aguardando, na ante-sala do gabinete do comandante, o seu chamado. Muito tempo depois, entra um capitão e pergunta: “Quem é o senhor e o que faz aqui?” Respondi-lhe, e nova pergunta: “Não deram ordem de prisão?” – “Não senhor” – “Pois vou dar-lhe: Dr. Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira, o Sr. Está preso por ordem do Comandante do 25º BC, por atentar contra a Segurança Nacional” – “Muito obrigado, capitão.”
                Continua o diálogo: “Que livros são esses?” – “Bíblia e Missal.” – “O Sr. É teólogo?” – “Não, sou católico.” – “Pois bem, acompanhe-me, por favor, vou levá-lo para onde o Sr. vai ficar.” E o Capitão, de quem posteriormente, me tornaria amigo, colocou-me, preso, nas acomodações (quarto e banheiro) do Major subcomandante daquele batalhão.
                *Do livro “De Corpo Inteiro”

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

SONETO DE FIDELIDADE




Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

GLOBAL


Isaias Coelho Marques

São vazios os olhos.
Imensas as possibilidades
na tela.
Vazios os contatos.
Estrelas de nós
mesmos
internet.
Vazio, vazio
o coração conectado.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

"NORDESTINAÇÃO"


Baião de Dois (foto do site do restaurante Nação Nordestina)

Marcos Vinícius Chagas Spinelli
                Quem chama nordestino de "DO NORTE", mostra mesmo é que não tem norte algum e que Geografia nunca foi o seu forte. Pois quem é realmente do Norte, tem mesmo é muita sorte, porque lá (no Norte) a natureza é exuberante, os rios caudalosos, de águas muito fortes, isso aqui (no Nordeste), seu menino, não tem!!!
                Como também, quem chama nordestino de "BAIANO", não está totalmente enganado, pois nem todo nordestino é baiano, mas, com certeza, todo baiano é nordestino, sim senhor!!
                O certo mesmo é que todo nordestino é um forte, como um dia, Euclides da Cunha, em sua obra maior, “Os Sertões”, observou: "O nordestino é, antes de tudo, um forte".
                Também é certo que com todas as agruras da vida e as adversidades climáticas, o nordestino ama o seu torrão e expressa esse amor na forma de canções dolentes (quem já não se emocionou ouvindo o Gonzagão cantar “Triste Partida”). Mal o “pau de arara” arranca no rumo do Sul, ele já está pensando na volta, juntamente com a “asa branca” ao ouvir o primeiro “ronco do trovão”.  O coração do nordestino não sai do Nordeste. Como um bom menino, seu pé de lá nunca arredou. Mas, nunca é muito tempo, pois como o grande "Lua" cantou: "quem deixa sua terra natal em outros campos não para, só deixo meu cariri no último pau de arara". Então só no último “pau de arara”, o nordestino se rende e isso, pra mim, é procedimento de um forte!!!
                Mas no nordeste também tem muita beleza, gente boa e muita festa. A mais famosa e a maior de todo Brasil é a que ocorre no mês de junho, a festa de São João. Nesta festa tem forró e baião, balão, pamonha, canjica, quentão, carne-de-sol, pé-de-moleque, mungunzá e baião, não a dança, mas o de dois.
                De barriga cheia a brincadeira fica muito mió, o rastapé vara a madrugada, o nordestino toma muita cachaça, cerveja e, pra rimar, com empada, come também sarapaté com cheiro verde e como ele é muito hospitaleiro, chama todo mundo pra cá, não importa como venha, seja de pé, de carro ou de veleiro, pra ver como é que é.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

PASSIONAL


Isaias Coelho Marques

Sem teu amor
eu passo mal.

“RIR É O MELHOR REMÉDIO”


                

Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

             Todos vocês estão lembrados dessa frase, que era usada, como título, de uma página da quase centenária revistinha “Seleções Readers Digest”. Pois é, depois de criticar nosso “estado democrático de direito”, fiquei a me perguntar: “e agora, Manoel?” (com mil perdões a nosso poeta maior...). Agora, me respondi, o negócio (alô Gerson) é quebrar todas as bolas de cristal, aminha e a de vocês, amigos do faceboook, e rir, pra não chorar, desse Brasil aprendiza de feiticeiro. E, para não rir sozinho, passo a lhes contar um sonho, resultante de minhas vãs preocupações com o andar de nossa carruagem.
                Após ingerir umas e outras, em roda de amigos desocupados e despreocupados com o andar dos anos, retornei ao meu ninho, em busca de uma cama amiga... Foi encontra-la e nela cair já de olhos fechados... De repente, vejo-me em Brasília, frente a duas enormes cuias (uma emborcada), fazendo parte de uma multidão enorme, que adentrava àquele niemayerano, sabe Deus, em busca de que! 
                Atravessamos muitas salas, com nomes esquisitos, tais como, “o negócio é levar vantagem”, onde se encontravam boxes chamados “compras e vendas”, subdividido em “a grosso” e “em retalhos”; “é dando que se recebe”, com outros boxes, sendo que um me chamou a atenção pois trouxe a minha lembrança a nossa Teresina, o de nome “troca-troca”; mais um, com o nome de “miudezas em geral”, e mais outro, o “leilões”... E fomos andando, até uma imensa sala, cujo nome, Maquiavel, homenageava o gênio político que condenou a ética, a moral, o pudor, ao ostracismo, por serem tais valores, inventados pelas religiões, principalmente, o cristianismo, impeditivos da “arte do possível”.
                Vi que tal sala era ondo o Congresso fazia suas sessões plenárias. E, coincidência (ou não) estava havendo uma... De relance, notei que umas três “bancadas” faziam uma zoada danada. Aproximando-me vi seus nomes: pragmatistas, hipocrisistas e idealistas (esta última, bem pichichitinha). Então, quando toda aquela massa humana estava dentro do plenário, deu-se a melodia.
                Cada homem, cada mulher, cada jovem, que, ali, adentou, puxou uma chibata e começou a usá-la nos senadores e deputados, ali reunidos, salvando-se uns poucos, protegidos por que conhecia suas posturas em defesa da sociedade. Eu mesmo aproveitei para resguardar da taca, o Romário e o meu amigo Cristóvam Buarque, e assisti outros, com o Pedro Simon e o Suplicy, sendo salvos por conterrâneos! Foi feito um corredor polonês, e o pau comeu. Gritos, gente que se mijava, choros, e pedidos de perdão... Foi quando, não sei explicar como (só em sonho) vi-me com uma grossa palmatória na mão, castigando uma bunda branquinha, e, surpresa, do homem do cura-gay!
                Credo, a coisa estava ficando pra lá de boa! Mas, como o que é bom dura pouco, chamaram os defensores da democracia de direita (oops) quis dizer “estado democrático de direito” e lá veem as forças de terra, mar e ar, para botarem fim naquela marmota... Foi quando acordei, pois não aguentaria mais uma prisão, ainda que, por motivos relevantes...
                Tô ficando é mais veio, num é mais besta... 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

JURO QUE ESTOU VIVO!


A. J. de O. Monteiro
                Em agosto do ano passado, determinada pessoa, que não tinha como comprovar renda para alugar um imóvel para moradia, pediu-me que o fizesse. É um risco, sei, mas não tive problemas. A favorecida pagou rigorosamente os alugueres, sem atrasar um dia sequer.
                Vencido o contrato em julho passado, a mesma resolveu mudar de moradia, mas, desta vez, conseguiu um contrato direto com a proprietária da nova casa, não precisando, portanto, de novo favor.
                Como inquilino de direito, tive que assumir os trâmites da devolução do imóvel: acompanhar vistoria de entrega, providenciar desligamento de água e energia elétrica junto às concessionárias, etc. Tudo feito com relativa facilidade, para minha surpresa.
                De posse das declarações de quitação, voltei à imobiliária que intermediou o contrato de locação, para a devolução das chaves. Aí sim, começaram meus problemas. Esperei um pouco, na sala de atendimento, até ser chamado por uma sorridente funcionária, a quem entreguei os documentos. Ela os examinou, reexaminou, pesquisou algum tempo no computador, balançou a cabeça de um lado para o outro, olhou para mim e disse: - “Desculpe-me senhor, mas está faltando a certidão de óbito do locatário.” Sem entender, reagi: - “Como!? Certidão de óbito!? A senhorita não estaria querendo dizer certidão de nascimento..., certidão de casamento...?” Assumindo um ar professoral, ensinou, pausadamente: -“ Não, senhor, quando a pessoa morre, todos os documentos civis são substituídos pela certidão de óbito, é a lei.”
                 – “Claro, claro, sei disso, mas a senhorita está querendo a certidão de óbito de quem?” Já demonstrando irritação, respondeu: - “Do inquilino; de quem mais haveria de ser? Ora bolas!” Em ato contínuo virou o monitor do computador para mim e lá estava, na tela, o meu cadastro completo, sem rasuras. Lá estava toda minha identificação: filiação, RG, CIC, local de trabalho, endereço, etc. Mas, para minha estupefação, após meu nome, entre parênteses e em letras garrafais, a sentença: FALECIDO. Com a voz trêmula, a visão embaçada e a língua seca, quase num sussurro, atrevi-me perguntar: - Senhorita, o falecido é mesmo esse aí?” Novamente, demonstrado nervosismo, quase berrando, falou: - É claro! Quem mais haveria de ser...?” No mesmo tom de voz, respondi: - “Qualquer um, menos esse aí!” Gritando, ela retrucou: - “O senhor é louco? Se no cadastro está dizendo que ele está morto é porque está. “Vá providenciar a certidão de óbito e depois volte aqui para concluirmos os trâmites...” Respondi, então: - “Não posso.”

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

BILHETE



Isaias Coelho Marques
Palavra
ancestralmente
enrugada

depois
de bem
maquiada
e arrumada
foi a que
mais suspiros
arrancou
no bilhete
do poeta
à namorada

terça-feira, 1 de outubro de 2013

MORAL, ÉTICA E PRAGMATISMO


Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

                Conceitualmente, Moral “é um conjunto de regras, normas, que orientam, regulam, o comportamento do homem na sociedade”. Já, a Ética, “é a forma, individual, de como age, reage, face a esses regulamentos morais.” (Ponho as aspas, por serem conceitos milenares, encontrando-os, com palavras semelhantes, nos escritos dos filósofos de todos os tempos...) Enquanto a moral, e/ou, seus princípios, acompanham o surgimento da sociedade e tem caráter obrigatório (Durkheim), a Ética é relativa ao caráter das pessoas. O Pragmatismo, cujo valor principal, é a obtenção dos resultados que o indivíduo ou as instituições almejam, desdenha da Ética e da Moral, seguindo o seu filósofo, político, e criador, Maquiavel, quando afirma que ´”a política é a arte do possível”. Quem leu seu livro “O Príncipe”, pode ter escandalizando-se, não, apenas, com seu princípio filosófico “os fins justificam os meios”, mas, sobretudo com seus conselhos ao Príncipe para aprender a não ser bom, por que, para se dar bem, mentir, trapacear, não ter palavra, roubar, deveriam ser encarados como necessários ao sucesso ( Parecido com “o negócio é levar vantagem”, não?). O povo brasileiro nunca teve acesso a um conhecimento que lhe permitisse analisar e criticar nossas instituições, os atos e as ações de “nossos” representantes, os julgamentos de nossos juízes, a legalidade dos protestos e das reivindicações dos excluídos, a ilegitimidade de leis imorais, caducas, contraditórias, injustas, que, ainda hoje, se aplicam no nosso quotidiano. O povo brasileiro acostumou-se e aceitou a “lei de Gerson”, o “dando é que se recebe”(uma injúria a um homem santo!), às promessas não cumpridas, `as falcatruas, aos roubos de toda a natureza, a privatarias e mensalões, aos escandalosos abraços e acordos com quem, antes, eram considerados malfeitores públicos, pois, foi-nos incutido que tudo isso, e muito mais, é uma exigência da tal “governabilidade” e é uma característica desse malfadado “estado democrático de direito" Os letrados, os intelectuais, os doutores, os jabotis que colocamos em cima da árvore, leram, gostaram , assimilaram, e puseram em prática, o maquiavelismo. É preciso citar nomes? Não o creio. Eles ainda estão trepados, ou querendo ser colocados, lá, de novo. Acredito na mudança. Não tão rápida, como desejamos, nem tão lenta, como esperam nossos políticos. Novos agentes entraram em campo, pondo a tal mídia de orelhas em pé. A “liberdade de imprensa” deles está indo pro beleléu, com suas falsidades, sua subserviência, paga, naturalmente, seu comprometimento e sua conivência com o poder. Esperemos as novas campanhas políticas, as novas eleições, para sentirmos o que prenunciarão. 

EMBARGOS... EMBARGOS...


Poncion Rodrigues
Foi assim, o nobre ministro Celso de Melo, honrando as sólidas tradições brasileiras, manifestou-se com seu voto pela ajuda cristã aos nossos amados bandoleiros do mensalão, ameaçados de prisão pela insensatez de alguns dos seus pares, como se fossem criaturas comuns. Parecia estar em curso uma crudelíssima conspiração contra uma das mais intrínsecas características da vida nacional: O brasileiríssimo direito de roubar o dinheiro público. Neste delicado momento, caso Deus e o outro supremo não tomem rigorosas e didáticas providencias, essa tal onda de legalidade haverá de tentar impedir que sua excelência, a cleptomania, canalize como sempre o fez, uma reles porcentagem da nossa carga tributária para as contas e bolsos dos que sempre fizeram por merecê-la.
Mil vezes maldita é a intolerância audaciosa, que acaba de ser freada em sua sanha punitiva, pela monolítica barreira dos intocáveis senhores da justiça. É por isso que eu me ufano do meu país. Quem afinal, não se orgulharia do STJ? Após oito anos em busca do perfeccionismo de um julgamento limpo, revestido da grandeza que caracteriza a verdadeira humildade, impediu a prisão de nossos heróis já apenados. Consideraram, pois, que errar é inerente à criatura humana, enquanto a possibilidade do perdão pertence à condição divina. E foi bafejada pela inspiração divina que uma singela figura jurídica, com pornográfico nome de “embargos infringentes” foi evocada por pura preocupação em promover a verdadeira justiça. O senhor Deus lhes recompensará.
Quanto aos intolerantes, descomprometidos com a decência e com o perdão dos pecados alheios, os horrores do inferno serão seus prêmios.
Viva, pois, para sempre, o sagrado direito de roubar! 

GOVERNABILIDADE E GOVERNANÇA.


               
            

              Nas buscas, em meus alfarrábios, de suporte para minhas diatribes contra esse “estado democrático de direito” brasileiro, e nossa incipiente democracia, encontrei o magnífico texto, inserido nesse “status”, que seria a continuidade de meu artigo anterior, pois, além de encher minhas medidas, não me permitiu elaborar um texto meu, sob pena de estar plagiando a autora, educadora Amélia Hamze. O conselho final da autora, segui-lo-á quem quiser...
Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

 GOVERNABILIDADE E GOVERNANÇA
                Governabilidade diz respeito às condições de legalidade de um determinado governo para atentar às transformações necessárias, enquanto que governança está relacionada à capacidade de colocar as condições da governabilidade em ação. Governabilidade e governança dizem respeito à democracia e cidadania, não a projeto de poder. No entanto, deploravelmente o Brasil apresenta um vício de raiz, que emperra as significações. O termo governança, originado do inglês g o v e r n a n c e, no sentido de regulação social com vistas à governabilidade, vincula-se à probabilidade normativa de “bom governo”, no sentido da participação, eficácia, inovação, confiabilidade, como condições para evitar métodos de pirataria nos governos: tais como o clientelismo, favorecimentos imorais, corrupção, etc. Seria então, controlar as políticas do governo, sem ser incriminado de ingerência no plano político e social, transformar o ato governamental em ação pública, o ambiente governamental em espaço público, para articulação das ações do governo, questionando a governança através da demarcação do alcance da governabilidade, imperando aí o consenso controlado.
                A capacidade de governabilidade resulta da afinidade de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade, enquanto que governança é a capacidade abrangente financeira e administrativa de uma organização de praticar políticas. Sem governabilidade é impossível governança. Então governança é o conjunto de normas, persuasão e procedimentos que são adequados à vida coletiva de determinada sociedade. É fundamental destacar que a governança congrega o povo a uma sociedade cada vez mais livre e participativa. A transparência da estrutura de poder estatal respeito a sociedade são a única segurança de paz social. Há necessidade de se mobilizar toda a sociedade para esse extraordinário esforço de superar as dificuldades desse cenário político, reduzindo a fragilidade gerada pelo momento, transformando a situação do Brasil, para que o povo brasileiro se torne sujeito e não apenas objeto de sua própria história.
                O novo panorama político que desejamos para o Brasil terá como principal desafio reconstruir com rapidez e energia as organizações de solidariedade e de participação, dilaceradas pelos excessos do economismo e de uma corrupção dissoluta, que já não obedecem a objetivos sociais. No meu ponto de vista os partidos devem ser responsáveis pela governabilidade, pois somente assim existirá maior propriedade na governança. Aconselho aos políticos interessados na reconstrução política do nosso país a leitura do livro de Stephen R. Covey “Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes”.

Autora: Amelia Hamze (Educadora)