Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
Penso
que, muita gente, principalmente da minha geração, conhece a história do homem
que quis enganar a morte... Não me lembro bem, mas, parece que ele pediu um
prazo, quando ela veio buscar, da primeira vez, o que conseguiu, com suas
alegações de que precisava resolver uns problemas pendentes...
Dona
morte apiedou-se dele e lhe concedeu mais um ano de vida! A alegria que o homem sentiu foi tanta que esse tempo
decorreu rápido, para ele, até que alertado, por sua mulher, que o dia fatal
havia chegado.
Depois de muita alegria e muito choro, resolveu
enganar, mais uma vez, a velha ceifadora de vidas e, combinando com a mulher,
raspou a cabeça, deixando-a pelada, pedindo à esposa, quando a more chegasse,
que a informasse que ele estava viajando...
E
assim foi feito: Dona morte chegou, sendo atendida pela diligente esposa do
homem, e perguntou – “Onde está ele”? E, veio a resposta – “Encontra-se
viajando”. A velha não gostou, mas, “conformada”, informou: - “Tá bem, pra não
perder a viagem, vou levar esse careca aí do lado”!
Acho
que “Fortunato não conhecia esta tal “História de Trancoso”... Antigo
funcionário do estado, amável e pequena figura, uma espécie de servente,
apaixonado pela política, defensor do povo humilde, pois era um deles, foi
cooptado pelos “camaradas” para distribuir/vender” um dos jornais do Partido – “A
Voz Operária”. Não sabia o que era subversão. Com o golpe, perdeu as forças, e,
medo medonho, pelou e escondeu-se em casa, pensando não ser preso...
Debalde,
o exército bateu à sua porta, na forma de um sargento e soldados, perguntando
por ele. O coitado, em sua tremedeira: - “Viajou”! O sargento falou: “Deixa de
besteira, ‘Fortunato’, que tua cabeça pelada não me engana, vamos embora, você
está preso”!
E
lá vai o “Fortunato”, levando “biscas” dos soldados até chegar ao quartel, com
a cabeça tão vermelha quanto à de um cardeal, ou galo de campina!
Tem
nada não, “Fortunato”, você deu sua contribuição na luta contra a injustiça!