(*) Ferrer Freitas
Desde que me entendo como
gente, e isso já faz algum tempo, ouço falar do porto de Luís Correia. Amarração (bem mais bonito) até 1935. Sai, não
sai, o tempo passa e nada... E pensar
que foi aventada sua construção bem antes da nossa faixa litorânea de 66
quilômetros ser viabilizada pela troca com o estado do Ceará dos municípios
piauienses Independência e Príncipe Imperial, sendo que este, desmembrado em 1880 do município de Castelo do
Piauí, em 1889 passou a chamar-se
Crateús. E, vejam só, quem primeiro falou da necessidade de um porto no litoral
piauiense foi, nada mais nada menos, que Dom João VI, em 1817, ele por aqui
desde 1808, correndo de Napoleão, isso após criar a Alfândega de Parnaíba.
Também Manoel de Souza Martins, o Visconde da Parnaíba, que governou o Piauí,
de Oeiras, por quase vinte anos, via no porto uma saída para a exportação de nossos
produtos nos navios de Simplício Dias da Silva, até, afiançam os desafetos de
Né de Souza, como forma de segurar o Simplição no litoral. Já pensou se este aceita
o convite para presidir a província?
Ele, seu Né, é que ia ficar a ver navios.
Pois bem. Nesses anos todos o que ocorre,
fiel ao tema, é um mar de dinheiro jogado fora.
Já aventou-se até a possibilidade de opção pela cabotagem, navegação
entre portos, hipótese que tem no engenheiro Cid de Castro Dias, sem dúvida o
maior estudioso da obra, o grande crítico. Acha o brilhante sanraimundense (bem
que poderia já estar na APL) que o desassoreamento permitirá a capacidade para
navio de qualquer calado.
Enquanto isso, os esquerdistas
de plantão (Frei Beto, quem diria, acha a maior bobagem essa coisa de esquerda e
direita) não veem nada demais no BNDES construir um porto em Cuba com um aporte
de 1 bilhão de dólares que, convenhamos, é dinheiro pra cubano nenhum botar
defeito, mas, segundo a presidente Dilma, não tem nada a ver com alinhamento
ideológico. O comandante Fidel, do alto
de seus 87 anos bem vividos, surpreso de ainda estar do lado de cá, barba rala
que só, nunca esperou desta nossa pátria gentil tanta generosidade. Por conta (cairia bem aqui até o trocadilho: “quem
vai pagar?”), recebeu-a em audiência e conversou por mais de duas horas ,
encantado com o gesto.
Engraçado é o nome da cidade onde a obra foi construída, Mariel, que vem
a ser o mesmo de um famoso policial que marcou época no Rio de Janeiro nos anos
sessenta. De sobrenome Mariscot, pertencia
à “Escuderia Le Cocq”, adrede criada para vingar a morte em serviço do detetive
Milton Le Cocq, que chegou a integrar a guarda pessoal do presidente Getúlio
Vargas. Mariel do porto é um município
que dista 40 quilômetros de Havana.
Agora, engraçado mesmo em toda essa história é a manchete da matéria de
Luís Kawaguti, enviado especial da BBC Brasil a Cuba: “Dilma inaugura porto em
Cuba de olho em exportações para os Estados Unidos.”
(*) Ferrer Freitas é do Instituto
Histórico de Oeiras