segunda-feira, 31 de março de 2014

ESQUERDA X DIREITA




Ilustração UOL.


(*) Ferrer Freitas                                                                      
            Nos anos cinquenta, ainda muito menino em Oeiras, gostava de ouvir (melhor, entreouvir), sobretudo das rodas de calçadas das farmácias, notícias e comentários sobre política, até mesmo em nível nacional.  Vivia-se o tempo do PSD (Partido Social Democrático), UDN (União Democrática Nacional) e PTB (Partido Trabalhista Brasileiro, entre outras agremiações partidárias). O PCB (Partido Comunista Brasileiro) fora extinto e seu líder maior, Luiz Carlos Prestes, que se elegera senador em 1945, volta à clandestinidade após cumprir mandato de 1946 a 1948. Adeptos (ou simpatizantes) do comunismo em Oeiras no período constitucional do presidente Vargas eram poucos, mas existiam, como era o caso de Luíz Sobreira, que homenageou Prestes pondo num filho seu nome, Luiz Carlos, Djalma de Sá Rocha, os irmãos Antônio Guaraná e Luiz Guanabara e, se não estou equivocado, João Diogo.
Vida que segue, em julho de 1987, a convite do então prefeito B. Sá, por sugestão do ex-deputado João Mendes Nepomuceno, que lera, com vivo interesse, artigo do mestre Possidônio Queiroz sobre a passagem em 1926 da Coluna Prestes por Oeiras, publicado na revista do Instituto Histórico, o comandante retorna, já bem velhinho mas lúcido, acompanhado de sua filha com Olga Benário, a escritora Anita Leocádia. E, vejam só, uma das primeiras visitas que recebeu na Pousada do Cônego foi a do já citado Luiz Guanabara que, do alto de seus 80 anos, sem cometer um só equívoco, disse como era formado o estado-maior da Coluna, o local escolhido para quartel-general (Sobrado João Nepomuceno, atual Museu de Arte Sacra) e a casa cedida para atendimento de urgências médicas, espécie de enfermaria, a de fazenda, Canela, onde nasceu e morreu o excelso poeta Nogueira Tapety.
Mas, afinal, o que tem a ver o título com o até aqui exposto? É pra dizer que nos anos sessenta, muitos jovens, alguns até bem nascidos, pra não dizer riquinhos, após o golpe de 1964 se alinhavam ao que se convencionou chamar esquerda (no Rio havia até a chamada festiva, de mesas de chope em bares famosos), em outras palavras, contrários à violência advinda com ele, golpe, além, evidentemente, de se nomearem socialistas. À época, residindo no então Estado da Guanabara, participei de acalorados debates no famoso restaurante Calabouço, administrado pela UME (União Metropolitana dos Estudantes), presidida pelo alagoano Wladimir Palmeira, nosso líder maior.
  Pois bem. Li, há poucos dias, artigo que me interessou sobremodo de Frei Beto (Carlos Alberto Libânio Christo), dominicano, escritor com mais de 50 obras publicadas, natural de Belo Horizonte, MG, e socialista convicto. Diz o religioso, com muita propriedade, que nada se parece mais a um esquerdista fanático que um direitista visceral, que identifica comunista até em Chapeuzinho Vermelho. E acrescenta: “os dois padecem da síndrome de pânico conspiratório. O direitista, aquinhoado por uma conjuntura que lhe é favorável, envaidece-se com a claque endinheirada que o adula. O esquerdista, cercado de ‘adversários’ por todos os lados, julga que a história resulta de sua vontade”.  Precisa dizer mais?
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras

segunda-feira, 24 de março de 2014

PERDA


Isaias Coelho Marques

Corpo
Teu corpo distante.
Olhos
Teus olhos
Traem tua decisão.
Alma
Onde andará
Tua alma
Tua pele
Teus seios pequenos?
Teu amor despedaçado?
Entre nós
Paira o que ficou
E tudo foi perdido...

REFLEXÃO




Marcílio Costa Soares

                
           O “déjà vu”, o acelerar no futuro, a nossa maquina do tempo, o momento real e instantâneo já vivido, como decifrar e buscar o significado importante daquele momento, geralmente nos esquivamos, ficamos apreensivos será bom ou ruim? Sei que existe, você sabe também, já passou por isso muitas vezes, já passei também, tão bom seria se pudéssemos controlá-los e ordená-los, muitos erros seriam evitados, o passado e futuro seriam menos pesados, a vida se tornaria mais bela, enfim estaríamos mais perto da perfeição.

quinta-feira, 13 de março de 2014

A QUE NÃO VEIO


Isaias Coelho Marques

A que não veio
entre diamantes flutuou.

A que não veio,
desvaneceu
em olhares promissores.

A que não veio,
sorriu
em alma de flores.

Por que não veio,
se nunca a esperei
e sempre estive aqui?

Onde me deixou
a que não veio? 

REFLEXÃO SOBRE UM DIA TRISTE


Rui Azevedo

Hoje, a tristeza bateu em minha porta. Entediante, o dia amanheceu. Envolto em recordações lembrei-me de quando era professor. Quando a preocupação com o planejamento de minhas aulas trazia-me prazer e alegria. Afinal, à noite eu estaria interagindo com meus alunos, motivos de minha alegria, como diz meu conterrâneo Ariano Suassuna - todos precisamos de um motivo para fazer ou deixar de fazer alguma coisa. De repente e não mais do isso, como diria Drumond, veio-me à lembrança, o semblante de uma jovem senhora, ex-aluna, uma das melhores alunas, a quem tive o prazer de ensinar alguma coisa no curso de Administração do Instituto Camillo Filho, onde lecionei por quase dez anos. Quem é ou foi professor, sabe ou deveria saber que as boas lembranças de ex-alunos, acompanha-nos pelo resto da vida, enquanto as más, aquelas que nos entristece, nós a deletamos da memória, haja vista que são elas que nos forçam a abandonar a cátedra. Felizmente, durante esses dez anos, nunca fui alvo de uma crítica de alunos, como o que se dirigiu a uma conceituada mestra, também professora do ICF e com a maior insensatez disse pra ela: Professora não esqueça que quem paga seu salário, sou eu. Ao tomar conhecimento desse fato, fiquei temeroso que isso também acontecesse comigo, pois eu não teria o mesmo equilíbrio que a conceituada professora teve e tem ainda hoje. Temeroso, pedi que me demitissem. O ICF atendendo aos meus apelos e de alguns alunos insatisfeitos com minha postura, resolveu me demitir, a quem hoje, eu agradeço. E o dia, continuou triste? Não o dia não continuou triste. Fiz a refeição matinal e sair a caminhar por entre a relva do terreno rural onde hoje moro e vivo. Caminhando encontrei centenas de "covas" onde, com minhas mãos, plantei feijão e milho. Foi prazeroso constatar que, o mesmo carinho com que eu deslizava o pincel sobre a lousa, quando professor, as minhas mãos foram capazes de novamente, fazer vicejara vida. Aí, lembrei-me de Sócrates quando escreveu sobre a Maiêutica. Novamente, eu estava ali. Dando vida a quem estava inerte, sem ou quase sem luz. Novamente, eu e a natureza estávamos juntos, em prol da vida. E o dia se tornou alegre ao ponto de me abstrair e escrever o que ora concluo.

sexta-feira, 7 de março de 2014

NÃO TEM REMÉDIO*

Tesourinhas.

Daniel Cariello**
              
                - Alô!
                - Alô!
                - onde?
                - Aqui, onde marcamos.
                - Eu também, mas não te vejo.
                - Mas eu aqui, na rua das farmácias.
‘              - Das farmácias? Você não disse das torcidas?
                - Não, de jeito nenhum. Eu disse pra você pegar o carro, passar pela rua das torcidas, virar no balão, pegar a rua das elétricas,  seguir pelo Eixinho W e entrar quando visse a rua das farmácias.
                - Putz. Vou voltar para o carro. Já chego.
               
                - Alô!
                - Alô!
                - onde?
                - Mesmo lugar, rua das farmácias, te esperando. E você?
                - Eu estou na rua, em frente a uma farmácia, mas não sei se é a rua das farmácias. Pera aí, vou perguntar pra um carinha aqui.
                - ...
                - Ele disse que me enganei completamente. Aqui é a rua das noivas. Parece que passei muito.
                - Passou mesmo. Faz a tesourinha e volta pra Asa Sul. È logo depois da rodoviária, fácil de ver.

                - Alô!
                - Alô!
                - Cara, perdido.
                - Isso eu já sei faz tempo.
                - Descobri que parei na rua dos restaurantes. Aproveitei pra comer um sanduba, que a fome apertou. Você não que me encontrar aqui?
                - Como? Tô a pé. Daqui até aí é perto, mas complicado de ir. Ou cruzo o Eixão, arriscadíssimo, ou atravesso pelas passarelas subterrâneas, superperigosas, ou então pego um ônibus, que vai demorar eras, pois vai dar a volta em toda a Asa Sul. É melhor você vir pra cá. chegando perto, uma hora você encontra.