Ilustração UOL. |
(*) Ferrer Freitas
Nos anos cinquenta, ainda muito
menino em Oeiras, gostava de ouvir (melhor, entreouvir), sobretudo das rodas de
calçadas das farmácias, notícias e comentários sobre política, até mesmo em
nível nacional. Vivia-se o tempo do PSD
(Partido Social Democrático), UDN (União Democrática Nacional) e PTB (Partido
Trabalhista Brasileiro, entre outras agremiações partidárias). O PCB (Partido
Comunista Brasileiro) fora extinto e seu líder maior, Luiz Carlos Prestes, que
se elegera senador em 1945, volta à clandestinidade após cumprir mandato de
1946 a 1948. Adeptos (ou simpatizantes) do comunismo em Oeiras no período
constitucional do presidente Vargas eram poucos, mas existiam, como era o caso
de Luíz Sobreira, que homenageou Prestes pondo num filho seu nome, Luiz Carlos,
Djalma de Sá Rocha, os irmãos Antônio Guaraná e Luiz Guanabara e, se não estou
equivocado, João Diogo.
Vida que segue, em julho de 1987,
a convite do então prefeito B. Sá, por sugestão do ex-deputado João Mendes
Nepomuceno, que lera, com vivo interesse, artigo do mestre Possidônio Queiroz
sobre a passagem em 1926 da Coluna Prestes por Oeiras, publicado na revista do
Instituto Histórico, o comandante retorna, já bem velhinho mas lúcido, acompanhado
de sua filha com Olga Benário, a escritora Anita Leocádia. E, vejam só, uma das
primeiras visitas que recebeu na Pousada do Cônego foi a do já citado Luiz
Guanabara que, do alto de seus 80 anos, sem cometer um só equívoco, disse como
era formado o estado-maior da Coluna, o local escolhido para quartel-general
(Sobrado João Nepomuceno, atual Museu de Arte Sacra) e a casa cedida para
atendimento de urgências médicas, espécie de enfermaria, a de fazenda, Canela,
onde nasceu e morreu o excelso poeta Nogueira Tapety.
Mas, afinal, o que tem a ver o título
com o até aqui exposto? É pra dizer que nos anos sessenta, muitos jovens,
alguns até bem nascidos, pra não dizer riquinhos, após o golpe de 1964 se
alinhavam ao que se convencionou chamar esquerda (no Rio havia até a chamada
festiva, de mesas de chope em bares famosos), em outras palavras, contrários à
violência advinda com ele, golpe, além, evidentemente, de se nomearem
socialistas. À época, residindo no então Estado da Guanabara, participei de
acalorados debates no famoso restaurante Calabouço, administrado pela UME
(União Metropolitana dos Estudantes), presidida pelo alagoano Wladimir
Palmeira, nosso líder maior.
Pois bem. Li, há poucos dias, artigo que me interessou sobremodo de Frei
Beto (Carlos Alberto Libânio Christo), dominicano, escritor com mais de 50
obras publicadas, natural de Belo Horizonte, MG, e socialista convicto. Diz o
religioso, com muita propriedade, que nada se parece mais a um esquerdista
fanático que um direitista visceral, que identifica comunista até em
Chapeuzinho Vermelho. E acrescenta: “os dois padecem da síndrome de pânico
conspiratório. O direitista, aquinhoado por uma conjuntura que lhe é favorável,
envaidece-se com a claque endinheirada que o adula. O esquerdista, cercado de
‘adversários’ por todos os lados, julga que a história resulta de sua
vontade”. Precisa dizer mais?
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de
Oeiras