sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O MENINO QUE COMIA VENTO*


Daniel Cariello**

Todos os dias, fizesse chuva ou sol, Bento banhava-se no rio. Com passo curto, embrenhava-se na mata atrás da quitanda e começava a se despir logo depois da Árvore Mãe. Jogava as roupas displicentemente no grande rochedo e de lá lançava-se à água. Jamais experimentava a temperatura antes, pois era invariavelmente fria. Jamais olhava se havia outras pessoas no local, porque estava sempre só. Ali era o seu santuário secreto.
Atravessava o rio pulando em pedras submersas. Quem olhasse de longe teria a impressão de vê-lo saltar sobre as águas calmas, com a leveza do bailarino que sonhava ser e a desenvoltura da criança que ainda era. Falava com os passarinhos, testemunhas de seu mergulho matinal. Inventava canções e poemas sobre árvores, pedras e águas, sobre sol, vento e chuva.
De todos seus pequenos rituais, havia um preferido. Após o banho matinal, subia na Árvore Mãe com a agilidade de um mico. De cima do último galho, esperava o vento soprar mais forte e, então, cerrava os olhos e abria fartamente a boca. Quando sentia os pulmões tomados de ar, unia os lábios e assim permanecia por longos instantes. Ao fim de duas ou três repetições, abria os braços e permitia-se balançar, como fosse um galho, confundindo-se com a natureza ao redor, fazendo parte dela.
Bento estava sempre descabelado e descalço, vestindo uma de suas camisetas furadas. Apesar do apetite voraz, era magrela de se ver as costelas. E tinha tanta energia que a mãe brincava que ele havia sido amamentado com leite de leoa. Seria uma criança igual às outras de sua idade, se possuísse amigos e falasse com os outros.
Na escola, apesar das notas razoáveis, julgavam-no um misto de bobo e louco. Era alvo de piadas, mas não ligava para as provocações e ainda mantinha um permanente sorriso no rosto, o que lhe rendeu o apelido de Bobento.
Movidos pela curiosidade sobre aquele menino preso em seu próprio mundo, os colegas de classe decidiram segui-lo depois da aula, acompanhando seus passos de longe. Frustrando os perseguidores, Bento voltou para casa e por lá ficou.
No dia seguinte, pouco depois da aurora, já estava tomando café da manhã em pé. Bebeu o leite de um fôlego só, comeu duas bananas, mordeu repetidamente o pão com queijo e saiu para a rua. Como sempre, a mãe perguntou onde ele ia. E, como sempre, recebeu um beijo por resposta, resignando-se a lembrá-lo que ainda havia os deveres da escola a fazer.
Dois garotos da escola haviam feito tocaia perto da casa e o seguiram até o seu santuário. Escondidos, impressionaram-se com a coragem com que ele pulou do rochedo direto na água gelada. E assustaram-se quando o viram bailar nu sobre o rio. Um quis gritar, mas o outro tapou sua boca, havia mais a descobrir.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A CASA TORTA*



Daniel Cariello**

Tio Dédalo chegou mais uma vez voando pela janela, que vivia aberta pra aliviar o calor inclemente da Casa Torta. “Mas esse rapaz não aprende nunca? Um dia ainda se esborracha”, resmungou a avó, Dona Florinda. “Basta a fenestra estar fechada e ele se arrebenta inteiro. Por que não entra pela porta ou pela chaminé, como todo mundo?”.
Sob ovações das crianças, cambalhotou antes de aterrissar. Sentou-se no sofá aparafusado ao solo e deu ao caçula Nino uma piscada de olho e um pote cheio de fumaça.
— Pra você! Vai gostar.
O pequeno se colou ao regalo e saiu gritando pela Casa.
        — Pai, pai! O tio trouxe um pedaço de nuvem só pra mim! Já posso criar minhas próprias chuvas e tempestades!
— Isso é ótimo. Mas, ó, não faça nevar na sala, sua mãe morre de frio, respondeu, afagando o menino e retornando ao subsolo, onde se empenhava em um projeto secreto. O fracasso do anterior, o lava-cachorro, continuava a perturbá-lo. E mais ainda o labrador Speed, que nunca se recuperou do banho a 200 r.p.m..
Nino voltou correndo à sala e ainda conseguiu acenar para Dédalo, que já decolava novamente. O petiz também não parou ali. Pegou os gêmeos pelas mãos e os levou a seu quarto.
Como sempre, o tio voador trouxera presentes a todos os sobrinhos. Lua ganhou uma flor, um enorme dente-de-leão, coberto por uma cúpula de vidro: “É pra soprá-la quando todo mundo estiver triste”. Peri tirou do bolso um objeto protegido por um lenço de tecido. Pediu para fecharem as cortinas e apagarem a luz. No escuro, revelou uma pedra azul perfeitamente redonda e tão brilhante que transformou em dia o breu do quarto. Jamais deveria se separar dela. E nunca, nunca mesmo, utilizá-la sem verdadeira necessidade.
O relógio de parede tocou cinco badaladas. No momento em que deveria haver uma sexta, ouviu-se um baque seco. As crianças abriram a porta e viram a avó estatelada no chão. Sentaram-se ao lado e a aguardaram se levantar, alisar o vestido com as mãos e continuar a subida pela estreita escada que levava ao quartinho do 3º andar. Speed foi atrás, escorregando e voltando um degrau a cada dois vencidos.
— Ele quer me matar. O pai de vocês me colocou lá em cima de propósito, sabe que eu não tenho mais o equilíbrio de outrora. Não vai com a minha cara porque eu não gosto dessas baldrocas que ele passa o tempo todo maquinando. Se o avô de vocês não tivesse desaparecido, tudo seria diferente por aqui. Se ao menos eu soubesse por onde você anda, Floriano, se você pudesse nos...

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

MENGÃO À MEIA-LUZ*


Daniel Cariello**

Outro dia, inventei de arrumar o armário ao lado da porta de entrada. De organizar tudo que ali estava entulhado: papéis, notas fiscais, chaves, clipes, pilhas novas e velhas, DVDs, guarda-chuvas, revistas antigas, cartões de 2 bombeiros hidráulicos, 3 chaveiros, 4 eletricistas, 2 especialistas em gás e de uma loja de suprimentos agrícolas, que nem imagino foi parar ali. No meio das tralhas, escondidos lá no fundo, havia 5 benjamins, aquele aparelho em forma de T de onde saem 3 tomadas, e 6 extensões elétricas. Seis!
Faço aqui uma confissão: tenho certa fixação por extensões elétricas. Sempre que vou a uma loja onde tem de tudo dou uma paradinha na seção das extensões, pra checar se tem novidade na área, mesmo que o setor não tenha visto muitas evoluções nos últimos, digamos, 50 anos.
Essa obsessão vem possivelmente do tempo em que minha banda de rock da adolescência ensaiava lá em casa e precisávamos ligar quatro amplificadores, uma mesa de som, um teclado e um gravador de fita cassete na única tomada disponível. Fazíamos uma gambiarra de dar inveja à rede de energia carioca, juntando extensões, anexando benjamins e plugando tudo até formar algo parecido com uma instalação, não elétrica, mas de arte contemporânea. Aquilo tinha tudo pra dar ruim, porém incrivelmente nunca deu, pra tristeza dos vizinhos que nos aguentavam transformar nossos hormônios pubescentes em algo parecido com música, nas tardes de sábado.
Mas então eu encontrei todos esses benjamins e extensões e, apesar de surpreso com a quantidade, arrumei uma caixa e guardei-os bem guardados, pois um dia poderiam ser úteis. E foram, antes do que poderia imaginar.
Naquela noite, a chuva forte fez cair a luz de metade da minha casa. Um desses fatos inexplicáveis do Rio de Janeiro que, no entanto, não choca os cariocas nativos. A cozinha, a área de serviço e um banheiro tinham energia. A sala, os quartos e o outro banheiro, não. Comentei com vizinhos e amigos e tudo o que diziam era “fica tranquilo, logo volta ao normal”. Ficaria tranquilo, caso não houvesse um jogo decisivo do Flamengo em 15 minutos.
Aí me lembrei das extensões. Peguei todas e montei uma gambiarra digna do Daniel adolescente. Saía da cozinha, entrava pela sala e passava por detrás da estante, onde incluí um benjamim para religar o aparelho de som, caso quisesse escutar uma musiquinha no intervalo. A fiação seguia inabalável seu rumo até o quarto de TV, passando pelo sofá, duas poltronas e uma mesa de centro. Chegou à porta do cômodo, mas não até o aparelho (se eu tivesse mais uma extensão…), que fui obrigado a empurrar até que os fios se alcançassem.
Liguei e tudo funcionou às mil maravilhas. O jogo havia acabado de começar. Pra comemorar o êxito da empreitada, fui buscar uma cerveja na geladeira. O Flamengo levou um gol. Puto da vida, levantei novamente, pra pegar amendoim. O rubro-negro encaçapou o segundo. Puxei aquela cobra de fios da tomada e fui dormir. Não era só a casa que estava às escuras.
* https://www.facebook.com/cartasdaguanabara
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

MANHÃS INQUIETAS


Isaias Coelho Marques

Todas essas palavras
silenciosas
sem término...

Manhãs que atravessam
outras manhãs
Apitos de trens
no infinito
inquietação deste corpo
plantado no pórtico
de possibilidades

PINTOU SUJEIRA*


Daniel Cariello**

- Lavanderia Lava Lento, boa tarde.
- Tô ligando pra reclamar de um serviço.
- Mas o que houve?
- A capa do meu sofá foi mal lavada.
- Jura? Qual a ordem de serviço?
- 3921.
- Xovê. 3921. Achei.
- Então, gostaria que você viessem buscá-la aqui em casa, pra lavar de novo.
- Com certeza. Custa sessenta reais.
- Já foi pago. Pode verificar aí.
- Xovê. Achei. Verdade, foi pago, sim.
- Vocês podem vir buscá-la?
- Claro. Custa sessenta reais.
- Você não está entendendo. Eu já paguei pra lavar.
- Ué, não foi lavado?
- Foi.
- Qual a reclamação?
- Foi mal lavada.
- Então... Precisa lavar outra vez.
- É exatamente o que estou tentando te dizer desde o começo.
- A gente realiza esse tipo de serviço aqui. Podemos ajudá-lo?
- Jesus! Vocês não entendem nada? Só preciso que venham buscar essa capa.
- Ele saiu de férias.
- Ele quem, pelamor?
- Jesus, nosso entregador. Tem o Fábio, pode ser?
- Pode ser até o diabo, mas enviem alguém!
- Esse aí não dá. Vou mandar o Fábio mesmo.
- Não tenho que pagar mais nada?
- Dessa vez, não. Fui com a sua cara, mesmo sem te ver.
- Valha-me...

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

NA RUA DAS LARANJEIRAS*


Daniel Cariello**

Na Rua das Laranjeiras tem o Mercado São José, um lugar cheio de bares e restaurantes que não tem nada de mercado. Não adianta passar ali de manhã, você não vai encontrar frutas, verduras ou ervas, carne de vaca, de porco, de frango ou peixe, tapioca, queijo ou café, temperos, pimentas ou flores. Exceção feita aos dias em que fica um senhor português na porta, vendendo legumes geralmente murchos.
Na Rua das Laranjeiras tem o Instituto Nacional de Educação de Surdos, um lindo prédio antigo localizado em um dos seus pontos mais movimentados, em frente a um sinal e uma bifurcação, com constantes engarrafamentos e buzinas se sobrepondo umas às outras, causando um barulho infernal que, ouvi dizer, não atrapalha as aulas.
Na Rua das Laranjeiras tem uma loja de suco cujos proprietários são chineses que não falam direito português quando você pede pra trocar o tomate do sanduíche por mais queijo, mas tornam-se incrivelmente fluentes na hora de apresentar a conta.
Na Rua das Laranjeiras tem uma nova ciclovia que os ciclistas muitas vezes não podem usar porque está bloqueada por algum carro que estacionou ali só pra ir à farmácia, coisa rápida, nem tá atrapalhando, veja bem.
Na Rua das Laranjeiras tem bancas de jornais e revistas que vendem suco, refrigerante, pipoca, chocolate, amendoim, chiclete, salgado, sorvete, capa de chuva, cigarro, chinelo Havaianas, chip de celular e cada vez menos jornais e revistas.
Na Rua das Laranjeiras tem uma churrascaria instalada em um casarão antigo que nas noites de fim de semana serve cantores passados e grupos requentados, acompanhados de chope.
Na Rua das Laranjeiras, bem no início, tem o Largo do Machado. Uma praça larga, é verdade, mas onde nunca vi alguém segurando um machado. Aliás, se visse, mudava de calçada e ia pra longe da Rua das Laranjeiras.
Na Rua das Laranjeiras não tem pé de laranja. Nenhum.
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                **Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

ASAS NEGRAS.


A. J. de O. Monteiro
            
            Era apenas mais um princípio de manhã ensolarada, daquelas que chama a refastelar-se numa rede em alpendre de casa de praia e eu estava exatamente assim, quando me peguei observando um bando de urubus voando alegremente – me pareceu – em círculos, com é próprio daquela espécie. Acho bonito o voo do urubu, além de tecnicamente perfeito, utilizando-se das correntes de ar termais a ave, em voo planado, faz manobras de deixar extasiado o observador.
Daquele bando de urubus, um em especial tomou minha atenção. Postava-se como um líder, voando afastado dos demais, parecendo delimitar o espaço de voo de todos e somente ele fazia manobras diferenciadas, subindo e descendo além da linha em que os demais voavam. Por vezes passava tão próximo que via seus olhos pretos brilhando como que de prazer.  Noutros momentos tive a impressão de que ele parava no ar, o que me lembrou do folclórico e bom jogador de futebol Dadá Maravilha, que afirmava parar no ar tal qual o colibri e o helicóptero. Naquele dia acrescentei mais um: O urubu!
De repente, com o sol já meio alto, o bando começa a se afastar, sob o comando do líder, sempre aumentando os raios dos círculos concêntricos até saírem do alcance da minha visão. Fechei os olhos, mas as imagens daquele “show aéreo” insistiram em ficar na minha retina...

MENSAGENS VOADORAS*


Daniel Cariello**

Estava eu sentado na praia de Ipanema, observando duas gaivotas gaivotando em dupla, quando passou um daqueles teco-tecos puxando uma faixa de tecido anunciando uma marca de creme condicionador. No mesmo instante, deixei as aves para lá, roubei discretamente a pazinha de uma criança ao lado e me pus a rabiscar na areia frases para esse antigo e ainda fascinante meio de comunicação, imaginando como ele seria se abrisse espaço para anúncios pessoais e de utilidade pública:
. Atenção, banhistas: próximo arrastão às 15h45. Favor deixar o caminho livre.
. Temperatura da água: 24ºC. Com xixi: 27ºC.
. Praia lotada. Favor conferir se a criança que está levando embora é mesmo o seu filho. Prefeitura do Rio.
. Está sozinho nesse verão? Ha ha, sifu!
. Amola-se faca e tira-se unha encravada. Barraca do Victor, Posto 9.
. Tininha, te amo. # SQN. Fui!
. Maconheiros, fumar erva causa danos à memória e prejudica o… o... o...
. Aê, bombados do Coqueirão, essa sunga curtinha de vocês é muito ixcrota, hein? Bombados do Posto 8.
. Caution! Do not accept the 4 Real notes. They are as false as Hillary Clinton’s hair colour.
. Attention! N’acceptez pas les billets de 4 Reais. Ils sont aussi faux que la bonne humeur française.
. Atención! No acepte notas de 4 Reais. Son tan falsas como los perfumes paraguayos.
. Manda nudes! (21) 9999-8888.
. Surfista solitário oferece parafina a surfistas solitárias. Aplicação gratuita.
. Foi roubado? Sentimos muito. Prefeitura do Rio.
. Pablo, você esqueceu o gás ligado e sua casa explodiu. Cancelo o churras?
. Bigode, aquela parada chegô. Tu me deve duas onças. Taturana.
. Vende-se rifa de Xbox. Procurar o Caio na barraca no Jão.
. Você aí, branquelo. Sai do sol, caramba! Prefeitura do Rio.
. Pimpo, passa no mercado e traz mortadela. Minha mãe vem lanchar com a gente. Beijos da Pimpa.
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**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br

ENTARDECER DE RIO


Isaias Coelho Marques

Tempo queima
nada a fazer
nesse entardecer
de rio

Fogo teima

Longe, uma coroa
afoga o Parnaíba

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

A NUDEZ DA YONÁ*


Daniel Cariello**

Ali pelos meus 11 anos, descobri a puberdade e as revistinhas de sacanagem (N.R.: Jovem, não havia ainda internet e muito menos o XVideos. A vida era mais dura, se é que você me entende). Na minha cabeça, tudo aconteceu ao mesmo tempo, em uma explosão de hormônios iniciada quando o primeiro exemplar desses gibis eróticos caiu no meu colo (ops!), trazido pelo Wagner, cujo pai possuía uma banca de revistas usadas, paraíso do pornô impresso.
Durante boa parte da minha adolescência, Wagner teve o papel de fornecer o enredo - ou o enredo de fornecer o papel, você decide a melhor construção - das minhas fantasias eróticas. Usava sempre a mesma estratégia: chegava com uma Bizz antiga recheada de diversos exemplares de magazines libidinosos, que eram os primeiros a serem devorados. A Bizz, dedicada à música, era lida depois. Uma espécie de cigarro pós-coito.
Nessa época, passava na TV a novela Roque Santeiro. Um boato na escola, provavelmente espalhado pelo André Bolinha, garantia que às 4 da manhã a Rede Globo exibia as cenas proibidas do folhetim, com os atores fazendo sexo de verdade. De verdade! No dia seguinte, é óbvio, eu me levantei às 3h55 e liguei a televisão da sala, sintonizando aqueles chuviscos que passavam enquanto a programação não entrava no ar. As cenas surgiriam ali, sem aviso prévio, juravam os colegas. Lutei contra o sono cada segundo até amanhecer, a causa valia a pena, mas nada apareceu. Repeti a operação algumas vezes, sem sucesso. Fiquei frustradíssimo de não conseguir acompanhar as atuações impudicas da Patrícia Pillar, da Cássia Kiss, da Cláudia Raia, da Ísis de Oliveira e até mesmo da Yoná Magalhães, que já tinha seus 50 anos mas continuava em grande forma.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

A AÇÃO PARA A MUDANÇA – II


Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

Desenvolvimento e Mudança de Rumos


          Vimos que Democracia é o governo do povo. E, o que seria o desenvolvimento? O resultado do conhecimento humano em cada momento, em cada etapa, da caminhada do homem? Seria, esse desenvolvimento, representado pela nossa cultura? E a nossa cultura, seria o fruto das nossas descobertas, nossas pesquisas, nossas invenções, nossas ciências? O Prêmio Nobel elege, todos os anos, os que mais contribuem para a melhoria de vida do ser humano... (Porem, poucos sabem, que o seu criador e instituidor, Alfredo Nobel, foi o inventor da dinamite, que, provavelmente, arrependido de tê-la inventado, pelo mau uso que dela fizeram, quis compensar o mal causado, com um incentivo aos lutadores pela paz, por uma vida melhor da comunidade humana, aos autores de obras literárias que expressem valores positivos para a existência). As marcas do nosso desenvolvimento, do chamado progresso humano, e o uso do conhecimento adquirido, compõem um quadro de caminhos percorridos onde, para o alcance dos objetivos do poder, os fins justificam os meios, ambos, quase nunca elogiáveis... Se, descobertas e invenções foram extremamente benéficas ao prolongamento da vida humana, também foram usadas nas guerras e lutas pelo poder e pela dominação, (territorial, econômica, cultural, etc.) e suas consequências, ainda hoje, condenadas, nos discursos, bem ou mal intencionados, dos políticos do mundo inteiro: escravidão, servidão, extermínios, dizimações, mortandades, racismos, pilhagens, e todas as formas de desrespeito à vida humana. Claro, não queremos o desenvolvimento a qualquer preço, que, como a democracia, deve ser de todos, construído por todos, querido por todos. Bem sei que há formas de governo, em países “desenvolvidos”, mesmos liberais, ainda que se denominem de capitalistas, como os nórdicos, que não comungam com o estado imperialista e que assumem a responsabilidade pelo bem-estar da população desses países. Mas não será aqui o palco de discussões dessas realidades, de suas culturas, de suas histórias. Minha proposta se limita ao Brasil, como o brasileiro poderá mudar os seus rumos, a sua realidade.

SEM TÍTULO


Isaias Coelho Marques

No bolso
Fragmentos amarelados
De amores passados
Essa mão trêmula
Ainda espera teu tesouro
Perdido na ilusão do tempo

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

RIO, 42*


Daniel Cariello**

- Quer um limão?
- Mais tarde.
- A banda de Ipanema sai amanhã.
- Prefiro o Bola Preta.
- Tá doido? Esse tá cheio demais. Ano passado deu mais de um milhão.
- Sanduíche natural, olha o sanduíche.
- O sujeito abre uma lata de atum, coloca no pão e chama isso de sanduíche natural.
- Chamou, freguês?
- Chamei não.
- Quem quer empada? Empada praiana.
- Tem de frango?
- Tem, mas acabou. Sobrou palmito.
- Duas.
- Dez reais.
- Ontem era oito.
- Hoje é dez. Quer ou não?
- Dá, vai...
- Açaí, açaí.
- Domingo tem o cordão do Boi Tatá.
- Eu gosto, mas é cedo demais.
- Parece que a Teresa Cristina vai tocar.
- Ela sempre dá uma palhinha.
- Tem coco, moço?
- Geladão.
- Um bem verde, faz favor.
- Tá aqui. Pega o canudinho.
- Laranja com cenoura! Suco natural.
- Caraca, que calor!
- Ontem fez 42.
- Em Paris caiu a maior nevasca.
- Olha, vou dar um mergulho. A água tá ótima hoje.
- Quer brinco, freguesa? Sou eu mesma que faço.
- Hoje não.
- Dá só uma sacada naquele argentino com camisa do River Plate.
- Tirou a camisa. Vai entrar no mar.
- Cacete, levou o maior caldo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A AÇÃO PARA A MUDANÇA – I


Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

Amigos, depois de muito ler, muito pensar, muito analisar, muito criticar, verifiquei que as mudanças só acontecem com a ação, consciente, dos que lutam por elas, no sentido de propor uma maneira de levar ao povo ideias para o debate e o bom combate, que torne a verdadeira democracia e o desenvolvimento social o caminho a ser seguido por uma maioria, cada vez mais, consciente. Estou rabiscando algo a respeito, para saber da opinião de vocês e de como daríamos esse passo, sem nos envolvermos com a política partidária brasileira atual. Inté.
Iniciando nossa prosa...
Estou de volta para dar continuidade ao meu pensamento, submetendo-o à opinião, acréscimos, críticas, de todos vocês, quanto a sua validade, exequibilidade e viabilidade. Acho que a sua objetividade é fundamental, daí por que abandono incursões na História e na Filosofia, para me ater ao "Estado ideal", que persiga a implantação de uma verdadeira democracia e de uma política voltada, permanentemente, para o bem-estar do povo. Para tanto, necessário se torna que tal Estado seja do povo, isto é, seu Governo seja do povo, via uma representatividade escolhida livre e conscientemente pelo povo. Atrevo-me a ironizar aquela definição de democracia, "GOVERNO DO POVO, PELO POVO, E PARA O POVO, como se um governo do povo pudesse existir sem ele, fosse dirigido por ETs, e para o não povo... Como estaremos a falar da democracia brasileira, como explicar a não participação de 90% do nosso eleitorado na escolha dos candidatos a cargos executivos e legislativos do País, legalizando, ou chancelando, o "processo democrático" apenas com o voto em gente que nem conhecem direito, escolhida pelos donos dos partidos políticos existentes? Uma escolha consciente pressupõe o conhecimento da realidade brasileira, e do porque dessa realidade, um somatório das realidades de cada pessoa, de cada comunidade, de cada região, de como sobrevivemos, e o conhecimento de que essa realidade pode ser mudada, dependendo, tão somente, da escolha, que fizermos, de verdadeiros representantes de nossos desejos e esperanças... E, olhem, nem cheguei a falar de competência!
Vamos em frente!
A construção da Democracia

VÊNUS COLIDINDO COM SATURNO*


Daniel Cariello**

Eu, como bom aquariano que não nega sua racionalidade, sou descrente de horóscopo. Não sei onde está minha lua, em que quadrante se encontra Mercúrio ou se Vênus vai colidir com Saturno (e quais as consequências disso, além de uma hecatombe espacial).
No entanto, identifico-me com características atribuídas ao meu signo, talvez de tanto tentarem me imputá-las. Um dos traços mais ressaltados é a descrição dos filhos de aquário como seres solitários, e me vejo perfeitamente representado aí. Fico muito bem em minha própria companhia, adoro viajar sozinho e não me incomodo de permanecer em casa sem ver ninguém durante dias a fio.
Depois que casei e virei pai, ficou mais complicado levar essa solidão adiante. Não me queixo, que fique claro. Adoro a vida em família. Mas estou sempre tão cercado de assuntos e pessoas que já ando celebrando o momento de ir buscar um copo d’água sozinho na cozinha.
Pra desanuviar, gosto andar sem rumo pelas ruas (aquarianos precisam de espaço, pois pertencem a um signo de ar, dizem os estudiosos dessas ciências). Invariavelmente, coloco fones no ouvido. Às vezes os preencho com música. Às vezes, com silêncio. Mas os fones são a garantia que ninguém interromperá meu exílio interior voluntário.
Outro dia entrei em um café no Flamengo e pedi um expresso, tentando retomar hábito corriqueiro de quando morava em Paris. Na França, você pode comandar uma xícara da bebida e passar um dia inteiro ocupando uma mesa, lendo, escrevendo ou apenas observando tempo e pessoas passarem, e não será incomodado. Café e solidão era tudo o que eu buscava naquele momento.
O expresso chegou trazido pelo garçom, que não parava de mexer a boca. Desliguei a música que berrava em meus ouvidos e pedi pra repetir. Perguntou se precisava de algo mais. Disse não e agradeci, retornando à estridente guitarra de Bombino. Passei a alternar pequenos goles de café e longas contemplações daquele micro universo à minha volta, com a visão desfocada de qualquer ponto, embalado pela música, pelo dialeto niger, pelo ritmo tuareg, pelas melodias incomuns, pelo conjunto baixo-bateria, pelo solo distorcido, pelo garçom que se aproximou certeiro e parou à minha frente e se pôs a movimentar o maxilar enquanto me encarava como se eu tivesse dois narizes. Respirei fundo, pausei a trilha sonora e solicitei que falasse novamente.
— O café estava bom, senhor?
Olhei fixamente para ele e senti vontade de derramar um bule de água fervente pela sua goela abaixo, como punição por ter interrompido um valioso e raro momento de êxtase solitário.
Mais tarde, comentei o episódio com um amigo astrólogo amador e ele me disse que aquariano, apesar de pacífico, às vezes pode partir pra soluções violentas.
              Sorte do garçom que não acredito em horóscopo
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**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

terça-feira, 29 de setembro de 2015

O UMBUZEIRO, O CIRCO E O BERRO DO QUINCAS


A. J. de O. Monteiro

Aquelas férias se prenunciavam como as mais monótonas. Não havia perspectiva de viagem para o litoral; tão pouco para alguma outra cidade do interior e, nem mesmo, para alguma fazenda ou sítio nas proximidades. Não recebi qualquer convite de parentes ou de amigos, como sempre ocorria nessas épocas de férias escolares.
A cidade pequena pouco oferecia em termos de lazer, o que provocava um verdadeiro êxodo da estudantada nesses períodos. Rumavam para o litoral, para o interior, ou para fazendas e sítios onde se pudesse desfrutar do justo e merecido descanso de livros, professores e deveres de casa. Que inveja! Eles lá curtindo o mar, ou delícias do interior e eu cumprindo entediante rotina para um menino de dez anos. O drama só não foi maior porque uns poucos amigos também ficaram na cidade, com os quais preenchia o ócio com atividades possíveis. Nossa primeira semana de férias foi assim: Da segunda ao sábado, futebol pela manhã e a tarde. À noite reunião na esquina mal iluminada para a resenha do tédio. No domingo, uma pequena quebra dessa rotina, mas caindo na rotina de todos os domingos do ano: Logo cedo banho e roupa de missa na capela do bairro, levado por condução coercitiva e em jejum para o sacramento da comunhão. Cumprida a obrigação espiritual estava liberado para a manhã de sol na piscina do pequeno clube local onde, cada centímetro cúbico d’água era disputado promiscuamente por crianças, adolescentes e adultos. Na tarde havia a possibilidade de optar entre a vesperal nos cinemas e o futebol, acompanhando pelo rádio os jogos do Rio e S. Paulo, ou assistindo jogos do campeonato local no acanhado estádio da cidade. A noite domingueira era animada, pois além da resenha sobre os filmes em cartaz, rolava gozação das torcidas dos times vencedores em cima dos que perderam. A maior zoeira que, não raro, terminava em discussão, rapidamente contornada pela turma do deixa disso.
A primeira semana foi suportável, até mesmo pelo sentimento de descompromisso com colégio, aulas, deveres de casa e professores... Mas, na semana seguinte, na segunda feira mesmo, o enfado de todos era aparente. A esquina da resenha noturna virou um verdadeiro muro das lamentações, até que o Quincas levantou-se e propôs a ideia mais idiota que já ouvira: — “Vamos montar um circo!”. A gargalhada foi geral. — “O Quincas endoidou”, disse um. — “Que ideia maluca é essa, Quincas, fazer um circo?... Como?”. O camarada, que provavelmente já trouxera o assunto pensado, explicou: — “Ora, não é tão difícil assim, não... Compramos uns metros de corda, pegamos uns cabos de vassoura e armamos dois pares de trapézio nas galhas do umbuzeiro da casa do Manteiga... Serei o trapezista, obviamente, por ser o mais atlético da turma...” Isso era verdade, o Quincas vivia marombando... Alguém ainda questionou: — “Um circo só com número de trapézio... Vai mesmo ser um sucesso...” Nisso Dofim, o engraçadinho da turma levantou a mão e disse: — “Vou fazer o palhaço!”. Pingo, animado, complementou: — “Faço escada para o palhaço!”. Suçuarana, que recentemente havia sido sorteado com o uniforme completo de patrulheiro toddy (camisa, calça, botas, chapéu, estrela e um cinturão com dois pares de coldres e revólveres de espoleta) – do qual só saia para tomar banho – prontificou-se a treinar e apresentar números de habilidades com revólveres e laço, tal qual nos filmes de “cowboy”.  Até a Fatinha, que depois da premiação do Suçuarana passou a frequentara as nossas resenhas, autoproclamou-se mocinha e assistente dele, acrescentando que tinha uma fantasia de dançarina de “can-can”, ideal para o Papel... Hora de ir pra casa, dormir... Acertamos reunião para a manhã seguinte, bem cedo, no quintal da casa do Manteiga, a fim de discutirmos a operacionalização da empreitada.

domingo, 27 de setembro de 2015

TEU NOME


Isaias Coelho Marques

Sei do tempo
Quase nada
Apenas essa Madrugada insone
Onde o tempo parou
Suado, sufocado
Pela presença
De teu nome

sábado, 26 de setembro de 2015

SEM TÍTULO


Isaias Coelho Marques

Ser original
È copiar de maneira única.

O PORTEIRO E O PRESIDENTE*





Daniel Cariello**

Bom dia, Seu Antônio. Bom dia, presidente, tá chique hoje! Chique, seu Antônio? Só coloquei uma calça jeans. Então, pra quem vive de bermuda, calça jeans é quase terno. Obrigado, mas pode esquecer essa história de presidente, não mando em nada. Você é presidente da sua própria existência. Quem me dera, seu Antônio. Depois que virei pai, meu poder de decisão sobre minha vida se limita a escolher entre doce de leite ou iogurte na sobremesa. Sei como é, meu filho, mas no meu caso o iogurte já acabou.
Faz tempo que é porteiro? Onze anos. Tenho sessenta e seis. E antes, fazia o quê? Copeiro do Banco do Brasil. Gostava? Gostava, mas começou a cansar as pernas. Aqui é melhor, chego cedo, fico sentado, bato papo e vejo o biguibrod. Vê o quê? O biguibrod, aquela TV ali com câmera pra todo lado, mostra quem entra, quem sai, quem sobe, quem desce, quem chama, quem espera, quem tudo. E dá pra acompanhar? Dá, mas de vez em quando eu tonteio todo de tanta TV e abro a porta da frente achando que é a de trás, a de trás pensando ser a garagem e a garagem imaginando atender o interfone. E é verdade o que dizem por aí, o síndico controla as câmeras da casa dele? Olha, o povo fala de tudo, mas eu não sei de nada. Tá certo. Vou sair. Abre a porta pra mim? Abro, claro.
Seu Antônio, abre a porta, por favor! Seu Antônio, aqui fora. Onde? Agora vi! Obrigado. De nada, mas você não tava aqui agora mesmo, presidente? Tava, mas saí e voltei. Voltou tão rápido que não deu nem tempo de ir. Era coisa simples, só fui comprar um parafuso do outro lado da rua. Pois não precisava, aqui na gaveta tem aos montes. Também tem aos montes lá em casa, menos o que eu preciso. É sempre assim, 
Você de novo, presidente? Voltei, o parafuso não era o certo, ficou solto no furo, não tenho grandes habilidades de bricolagem. E o que colagem tem a ver? Parafuso se parafusa, não dá pra usar cola. Bricolagem, seu Antônio, esses pequenos serviços manuais. Tá certo. Vou trocar ali na loja.
Seu Antônio, tô aqui fora, pode abrir? Ô, presidente, vai desculpando, não te conheci no biguibrod, você tava de lado, não deu pra ver o rosto. Tudo bem, mas a campainha não tá funcionando? Apertei que nem um doido. Ah, o barulho era da campainha, tava pensando que vinha do rádio. Trocou o parafuso? Troquei. Agora, vai.
Presidente, vai me dizer que o parafuso não funcionou. Funcionou nada. Deixa ver. Tenho o que você precisa aqui na gaveta. Leva esses dois.
Seu Antônio, seu parafuso resolveu. Toma aqui o que sobrou. Fica de presente, presidente, ainda vai ser útil. Aproveita e joga uns velhos fora. Valeu! A gente adora acumular coisa inútil e aí não sobra espaço pro necessário. E como descobrir o que é necessário, seu Antônio? Ah, isso a gente vai aprendendo, presidente.
* https://www.facebook.com/cartasdaguanabara
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Pariswww.cheriaparis.com.br.


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

CERTIDÃO*


Daniel Cariello**
Na fila do cartório, ele achou que a havia visto. Mas não, não podia ser. Diziam que ela se mudara pra outra cidade. Outro país, até. Ele escutara boatos de que ela teria entrado em um convento ou virado aeromoça, o que pra ele dava no mesmo.
Mas era incrível, o nariz era muito parecido com o dela, aquela curvinha arrebitada. Ele se lembrava bem do nariz, ponto proibido de tocar, terminantemente interditado, pois ela sentia muitas cócegas.
- Vinte e nove, vinte e nove, quem é o vinte e nove?
A funcionária do setor de autenticação olhava com ar desolado aquele amontoado de gente, provavelmente sabendo que chegaria mais uma vez tarde em casa. E ele, geralmente solidário com a miséria alheia, ao menos na intenção, não estava preocupado com a novela que a atendente perderia naquela noite. Seu pensamento, bem como todos seus sentidos, tinham um único alvo: a moça da fila, localizada sete ou oito posições à frente.
Ela soltou os cabelos presos. O movimento era idêntico ao de quinze anos atrás, mas o comprimento das madeixas havia mudado. Antes, chegavam no meio das costas. Agora, mal passavam a linha do ombro.
Puxa vida, já faz tanto tempo, ele pensou, e tudo durou exatamente três anos, dois meses, quatro dias e duas horas cravadas. Ele sabia os números, datas, lugares, canções e sabores de cor. Só não sabia, nunca soube, por que tudo havia acabado.
Ela se virou para buscar um papel no fundo da bolsa e ele teve certeza de que era realmente seu antigo amor. Estava tão linda quanto em sua lembrança congelada. Os mesmos olhos um pouco puxados e estrábicos, a mesma boca carnuda, escondendo uma arcada tão perfeitamente alinhada que poderia figurar em um comercial de pasta de dentes, as mesmas sobrancelhas cuidadosamente alinhadas, as mesmas três argolas em uma orelha e duas na outra. Tudo exatamente como antes.
- Trinta e dois, o trinta e dois tá aí?
Era ela o trinta e dois. Tirou um envelope e entregou pra moça copiar e autenticar. A atendente resolveu tudo de forma eficiente e automática, como os funcionários dos cartórios geralmente fazem. Não sorriu e nem fez cara feia. Entregou o pacote de volta, uma notinha para o pagamento e retribuiu o agradecimento.
- Trinta e três, cadê o trinta e três, hein? Trinta e três.
Ele não poderia deixá-la escapar sem antes falar algo, qualquer coisa. Quando pensava em como iria abordá-la, ela tropeçou, como sempre fazia, e esparramou os papéis pelo chão. Ele, mais do que depressa, abaixou-se para recolhê-los. Ela também. Ele pegou antes o documento autenticado.
- Certidão de casamento? Você casou?
A frase saiu em voz alta. E no mesmo instante seus olhares se cruzaram. Ela, que ainda não o havia visto, descobriu-o com um misto de surpresa e horror. Ele, que não sabia da nova vida de sua eterna amada, permaneceu petrificado. O que os dois pensaram nesse átimo só eles sabem, mas ela juntou desordenadamente a papelada e apressou-se em alcançar a porta de saída.
Pela parede de vidro ele a viu enxugar uma lágrima. E ela nem percebeu que a certidão ficara com ele.
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Pariswww.cheriaparis.com.br

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

ESFORÇO HERÓICO*


Daniel Cariello**

Igreja da Penha. São 382 degraus. Trezentos e oitenta e dois! Onde estava com a cabeça quando fiz essa promessa? E ainda adiantada? Nunca vi isso, pagar antes do milagre realizado. Fui empolgando e, quando vi, já tinha me comprometido, na frente de todo mundo. Agora, tenho que cumprir. Tentei negociar subir a pé, de costas, de cachorrinho, fazendo moonwalk, lendo Paulo Coelho em albanês, batendo uma maionese, mas eles não quiseram saber. “Nada disso, de joelhos!”, decretou o Julinho. “Assim, a promessa tem mais força. E você sabe bem o quanto estamos precisando". Tá bom, vamos começar. Espero que o sacrifício valha a pena.
Degrau 135. Ainda restam 247 e o fôlego já tá rareando. Minha calça rasgou nos dois joelhos. Ô, de cima, anota aí. Isso deve valer um bônus. “Penha, Penha, eu vim aqui me ajoelhar”, cantava Luiz Gonzaga, todo pimpão, na maior alegria. Du-vi-do que tenha subido. Escadaria no joelho dos outros é refresco, né?
Duzentos e setenta e seis. Tem mais de 100 pela frente. E para cima, o que é pior. Quero minha mãe. Quero a virgem Maria. Quero a Gisele Bündchen. Aliás, mereço a Gisele Bündchen me fazendo cafuné. Ela pode até me puxar com uma coleira, contanto que me ajude a escalar. Ei, olha lá: eu sofrendo e aquele carinha ao lado subindo plantando bananeira e na maior velocidade. Nem sente. Acho que o conheço. Será?
Trezentos e setenta e oito. Faltam 4! Quatro longos degraus. Vale se eu me arrastar como uma lagartixa? Posso usar o queixo pra me puxar? Eu só quero chegar. Depois, desço rolando, nem me importo.
Três. Não sinto minhas pernas. Não sinto meu tronco. Não sinto minha cabeça. Sinto saudades da Dona Creuza, que nem sei quem é, mas com certeza está em situação melhor que a minha.
Do-is. O da bananeira já chegou. Ele está fazendo flexões com três crianças nas costas? Devo estar delirando.
Um. Força. Cheguei... Meu cérebro vai...
Ele apaga e acorda duas horas depois, cercado de curiosos. Um desconhecido o aborda. Ele toma fôlego pra responder.
— Tá bem?
— Acho que sim.
— Você chegou e desmaiou. Espero que a promessa tenha valido a pena.
— Vai valer. Tem que valer... Vim em nome de toda a nação brasileira. Pedindo para o Hulk não voltar à seleção.
— Hulk, aquele ali, fazendo embaixadinha com uma estátua de bronze? Ele chegou mais cedo, veio agradecer pela nova convocação do Dunga. Ei, vai aonde?
Ainda deitado, ele se dobra, como se fosse uma bola, e sai rolando escadaria abaixo, enquanto canta o hino alemão.
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                 **Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

domingo, 6 de setembro de 2015

INTICARAM-ME COM VARA CURTA – III



Manoel Emílio Burlamaqui de  Oliveira

Chegamos, agora, ao segundo mote "As nuvens passam, as estrelas mantêm seu brilho!"
Antes de mais nada, todos sabemos que ha nuvens e nuvens. Nuvens naturais, nuvens artificiais; nuvens produtos da natureza, nuvens produzidas pelo homem; nuvens benéficas, nuvens malignas; nuvens necessárias à sobrevivência da terra e da humanidade e nuvens que nunca deveriam existir. As nuvens produzidas pela natureza, e, por isso , benfazejas, mesmo quando provocam desastres, causados pelas tempestades e pelos raios, meras consequências da falta de planejamento e imprevidência dos homens, donos do poder, que, no decorrer dos milênios e dos séculos, primaram, irresponsavelmente, incompetentemente, e inconsequentemente, pelo uso do conhecimento, a que tiveram acesso, para se tornarem mais poderosos, mais opulentos, e mais dominadores, em detrimento do desenvolvimento de um mundo melhor!
Nuvens que passam, sopradas pelo vento, e que encantam, em suas andanças, as crianças do mundo todo, nuvens que desaparecem, transformadas em agua, que irrigam a terra, não ofuscam o brilho das estrelas, ao contrário, são complementos da beleza de um espetáculo que exige olhos e ouvidos para louvá-lo, para cantá-lo e para o entender e amá-lo! Ah, se esse mundo fosse repleto de Olavos Bilac, com amor suficiente para amá-lo e transformá-lo em um novo paraíso...
Sim, meu querido cronista, quem empana o brilho das estrelas não são as nuvens, são, na verdade, as trevas, as hediondas trevas do mal e da maldade. São as trevas da cobiça, são as trevas do egoísmo, as trevas do ter, as trevas dos que não querem ver, as trevas dos que não querem ser...
Sol, Estrelas, Noite, Luar, Nuvens, Vento, Mares, Rios, Lagos, Florestas, Flores, Pássaros, Aves, e, até, a Humanidade, são testemunhas das maravilhas que nos rodeiam, que estão à nossa disposição, para delas usufruirmos e para delas participarmos como construtores, continuadores, de uma obra insuperável, que, alguns pervertidos, teimam em conspurcar-la, e destruí-la em nome de suas inconfessáveis ambições.
Mas, eles passam, serão enterrados e as estrelas continuarão a manter o seu brilho!

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

I N T I C A R A M - M E C O M V A R A C U R T A... II


Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

Para mim, crise é a falta de algo fundamental para a vida das pessoas, das comunidades, das nações, da humanidade. E, sendo assim, há crises para todos os gostos e para todos nós... Duvidam? pois prestem atenção, que vou iniciar com uma que me incomoda bastante, desde que me aposentei: a crise dos bolsos, também conhecida como crise dos aposentados do INSS, ou, pior, crise dos vagabundos (alcunha com que fui agraciado por ilustre sociólogo brasileiro!). Desde que ela foi instalada na minha única receita, que sinto falta da costumeira cervejinha, (dia sim, dia não), e da marvada da cachaça, (receita médica contra a diabetes), esta, dia não, dia sim, pra não me confundir e passar da conta... Se não fosse o socorro dos filhos, e dos amigos, que sabem o quanto me amargura viver em crise, já estava curtindo uma de caduco...!
Outra crise, que tem deixado milhares de homens, mulheres, e jovens, com insônia, procurando médicos, cujas receitas não são aceitas, é a que faz sofrer a nação vascaína! A crise da perdição (Não confundam com aquela outra perdição...). E a receita tão simples: Mudem pro Flamengo! (Intica comigo, Monteiro!).
Há outras, mais graves, como a crise dos circos, sem gente para assisti-los, pela falta de palhaços! Pois não correram, todos, pro Congresso Nacional? O último foi o Tiririca, já com missão determinada pelo presidente: ser professor, reconhecido, que foi, como o melhor deles!
Não quero alongar-me, é uma pesquisa cansativa, mas gostaria de acrescentar duas mais, pelo interesse que têm despertado em muita gente, amiga do alheio, sem maiores explicações: A crise dos bancos, que não sabem mais aonde botar tanto lucro ganho (?) da clientela, e a crise da justiça, que se obrigou a criar uma tal de delação premiada, por não ter onde botar tanto bandido, condenados, ou não!
Como veem, e como eu disse, há crises pra todos os gostos. Infelizmente, tem mais uma, terrível, contrariando todos os homens de boa vontade, todos os homens justos, todos os homens pacíficos, contrariando, absurdamente, o próprio Criador: a crise da humanidade, a desumanidade, que nos acompanha desde a Pré-história, passando pela Idade Antiga, pela Idade Média, pela Idade Moderna, e chegando nesta Idade Contemporânea!

Invasões, conquistas, pilhagens, escravizações, servidões, extermínios, genocídios, levando a morte, a doença, a miséria, a fome, o racismo, o preconceito, o ódio, e quantos outros resultados queiram apor, infâmias, frutos da cobiça e da loucura, dos que não conheceram outro caminho para o crescimento senão o caminho da apropriação, da dominação Perfeitos inspiradores, ou seguidores de Maquiavel, estudioso, escritor, filósofo e político do Renascimento, que ousou justificar, com a política de resultados, o fortalecimento do Estado, com o emprego da força ou de quaisquer outros meios, para a obtenção dos objetivos pretendidos. Sua obra maior - O Príncipe, deu-lhe o título de pai do pragmatismo, característica principal da filosofia capitalista, em que ética e moral são valores negativos e condenáveis...

terça-feira, 25 de agosto de 2015

RIO, BERLIM*



Daniel Cariello**

Louise e eu aguardávamos para subir no ônibus e quase fomos atropelados por uma moça estabanada que chegou furando fila e dando ordem.
- Pé na tábua, motora. Arrancaê. Tô atrasadona.
Impassível, o condutor esperou todo mundo subir pra começar a acelerar lentamente. Passamos a roleta e nos dirigimos para o fundo do veículo. Sentamos perto da porta traseira, onde a apressada já se encontrava, em pé, e de lá mandava recados para a frente.
- Dá pra ir mais rápido, não? Essa carroça tá lenta pacas. É por causa de gente assim que esse país não avança.
Louise, minha filha, adora cavalos e carruagens e quis saber onde estava essa carroça da qual a sujeita falava. E se podíamos descer do ônibus e embarcar nela. Expliquei que não havia carroça alguma e muito menos cavalos, mas apenas uma burra mal educada.
- Aê, se eu perder o emprego vou colocar a culpa em tu, valeu?
O motorista nem aí. E quanto mais ele era indiferente, mais a moça se irritava.
- Pô, motora, tu é foda. Preciso chegar à Lapa em 2 minutos.
Ele a fitou pelo espelho interno e continuou calado. Foi o cobrador quem falou.
- Minha senhora, a Lapa é pro outro lado, valeu? Tu pegou o ônibus errado.
Ela ficou mais descontrolada ainda.
- Caraaaaca! Freia, motora. Engata a ré aí. Dá meia volta. Faz alguma coisa!
Nada.
- Então abre a porta. Preciso sair, tu tá me lascando toda. Aê, aproveita o sinal fechado. Abre aqui. Tenho que descer agora. Se não vai ajudar, não atrapalha. Tu é surdo, é?
A porta continuou fechada, mas a boca do condutor se abriu pela primeira e única vez na viagem.
- Só pode descer no ponto.
Aí a coitada enlouqueceu.
- Pronto, agora tamo em Berlim. Viramos um país de primeiro mundo e eu não tava sabendo. A gente só para no ponto. Desce e sobe em fila, tudo organizadinho, uma beleza. O país que funciona. Nem corrupção tem mais. Que maravilha! Viva o Brasil, a nova Alemanha!
Quando o ônibus finalmente parou, a moça desceu na mesma velocidade com que soltava seus últimos impropérios.
- Valeu, motora berlinense. E viva o Brasil, primeiro mundo!
Louise perguntou o que havia acontecido ali.
- Essa mulher acabou de marcar o oitavo gol da Alemanha.
- O quê? Entendi nada
- Não se preocupe, você logo vai compreender.
- Pai, vamos sair daqui e tomar um sorvete?
- Tá bom. Eu vou de chope e chucrute.
.* https://www.facebook.com/cartasdaguanabara
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br


MARKETING



Isaias Coelho Marques

Não me Levi's
A mal
Sua roupa
Tem um quê
De consumismo
Indisfarçável.

I N T I C A R A M - M E C O M V A R A C U R T A... I




Manoel Emilio Burlamaqui de Oliveira

De vez em quando, meu amigo, e cronista de respeito, o A. J. de O. Monteiro joga uma casca de banana em meu caminho e fica esperando o tombo... Macaco velho, não meto a mão em cumbuca, um dia, ele cansa! Aí, vamos ver quem rí por último...
Na semana que passou, ele se excedeu: pois não é que me mandou dois motes, dignos dos bons cantadores de viola, pedindo-me que os analisasse, mesmo sabendo que nem voz eu tenho, muito menos português eu sei, para incumbir-me de tal tarefa? Era só o que faltava, querer fechar minha boca, acostumada a falar de tudo, de todos, até da vida alheia!
Parabéns, amigo Monteiro, de novo jogastes tuas cascas de banana (ainda tens muitas?), dignas de serem apanhadas por violeiros de estirpe, que não têm medo de se meterem em briga de cachorros grandes... Mas, que motes foram esses, escolhidos a dedo, como para me intimidarem, retirados da realidade maluca desse Brasil enlouquecido? Ei-los: "Crise é uma palavra mágica" e "As nuvens passam, as estrelas mantêm seu brilho"
Sou macaco velho, não macaco caduco ou macaco doido, não vou cair nessa de análise, tô fora, nem que fosse psiquiatra! Entretanto, não corro do pau. Bulinou comigo? tem troco!
Pois, vamos lá, ao primeiro mote: Crise - palavra mágica. Vôte! procurei, no meu bestunto, as palavras mágicas que conheço e, por enquanto, só encontrei três tiradas universais, que todo mundo conhece, "abracadabra", "abre-te sésamo" e "socorro!" . As duas primeiras, lembram-me a época de criança, tornam-me criança , uma, assistindo mágicos, no circo, retirando coelhos, lenços, toalhas, de suas cartolas, deixando-me de boca aberta, ao grito de abracadabra, palavra misteriosa, mágica, sem dúvida, cuja origem, soube depois, se perde no tempo dos magos, dos feiticeiros, dos ilusionistas, que transformavam gente e qualquer apetrecho, em bichos mansos ou selvagens... A outra, eita saudade!, do Alí Babá, dos contos das mil e uma noites, roubando os tesouros dos 40 ladrões, abrindo uma rocha (porta do esconderijo deles) gritando o famoso abre-te sésamo, numa época em que tudo era possível... Sabes, cronista, que, ainda hoje, sonho viajando em tapetes mágicos, achando tesouros enterrados, sem querer acordar para a vida real, tão insossa, comparada à criada por geniais contistas, que, ninguém me tira da cabeça, eram crianças, também!
Aquela última, gritada, sempre, em desespero, só é ouvida e atendida por corações abertos e cheios de amor, que, graças ao bom Deus, ainda existem... Os egoístas, os egocêntricos, os antidualistas, os que usam seus tempos para amealharem riquezas e poderes, fecharam seus corações e suas mentes, só escutam o que lhes convém. E, aí, grito eu, pobre bicho-homem, socorro, meu Deus!
O homem é o mago da palavra. Mas sua magia só funciona nos que souberem ouvi-lo. Por isso, velho amigo, afirmo, sem medo de errar: Crise não é, nunca foi, e nunca será, uma palavra mágica!
Agora, que peguei o pião na unha, não vou largá-lo de graça.
Afinal, o que considero crise? Como ela surge, o que a provoca, a quem ela atinge?

sábado, 15 de agosto de 2015

SEM VOCÊ


Isaias Coelho Marques

Nada mais importa
a porta aberta
a rua deserta.
Essa estrada
sem fim.
Nada mais importa
eu sem você
você sem mim.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A TURMA DO COCO*


Daniel Cariello**

Toninho Taturana chegou atrasado para a comemoração de 25 anos da Turma do Coco, na casa dos pais de Pedrinho Green. Mas não foi isso que incomodou os outros integrantes da trupe.
- Aê, porra é essa? - Disse Green, apontando a roupa do amigo com o mindinho, pois a mão estava ocupada segurando um latão de cerveja.
- O quê?
- Pra que essa estica toda, maluco?
- Isso aqui? Ué, camiseta, jeans e tênis.
- Tu tá de sacanagem, né? Tá vendo alguém aqui de camiseta?
- Tô não.
- De jeans?
- Tô não.
- E tênis, tem um de nós usando tênis?
- Tem não.
- Então, como é que você explica isso? O uniforme da Turma do Coco é chinelo e bermudão, uma tradição de mais de 25 anos. Camiseta free, não lembra?
- Resolvi dar um tapa no visu.
Marcinho Supino se levantou, exaltado.
- Tu vai é levar um tapa da fuça, doido, pra voltar ao normal. Nada muda na turma, é nosso dilema.
- Calma, Supino. - Pedrinho Green segurou o amigo.
- Me deixa dar só dois petelecos nele, pro céleblo voltar pro lugar.
- Aê, Supino, violência não leva a nada. Mas o que eu estou dizendo? É claro que leva. Mas não antes de escutar o que ele tem pra dizer. Depois, dependendo, tá liberado pra dar uma coça. Vai se explicando aí, Tatu.
Taturana pigarreou.
- Casei.
- Tu fez o quê? - Gritou Supino, apertando o pescoço do amigo.
- Aei…
- Diz aí, maluco, desembucha.
- Aei…