quarta-feira, 26 de agosto de 2015

I N T I C A R A M - M E C O M V A R A C U R T A... II


Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

Para mim, crise é a falta de algo fundamental para a vida das pessoas, das comunidades, das nações, da humanidade. E, sendo assim, há crises para todos os gostos e para todos nós... Duvidam? pois prestem atenção, que vou iniciar com uma que me incomoda bastante, desde que me aposentei: a crise dos bolsos, também conhecida como crise dos aposentados do INSS, ou, pior, crise dos vagabundos (alcunha com que fui agraciado por ilustre sociólogo brasileiro!). Desde que ela foi instalada na minha única receita, que sinto falta da costumeira cervejinha, (dia sim, dia não), e da marvada da cachaça, (receita médica contra a diabetes), esta, dia não, dia sim, pra não me confundir e passar da conta... Se não fosse o socorro dos filhos, e dos amigos, que sabem o quanto me amargura viver em crise, já estava curtindo uma de caduco...!
Outra crise, que tem deixado milhares de homens, mulheres, e jovens, com insônia, procurando médicos, cujas receitas não são aceitas, é a que faz sofrer a nação vascaína! A crise da perdição (Não confundam com aquela outra perdição...). E a receita tão simples: Mudem pro Flamengo! (Intica comigo, Monteiro!).
Há outras, mais graves, como a crise dos circos, sem gente para assisti-los, pela falta de palhaços! Pois não correram, todos, pro Congresso Nacional? O último foi o Tiririca, já com missão determinada pelo presidente: ser professor, reconhecido, que foi, como o melhor deles!
Não quero alongar-me, é uma pesquisa cansativa, mas gostaria de acrescentar duas mais, pelo interesse que têm despertado em muita gente, amiga do alheio, sem maiores explicações: A crise dos bancos, que não sabem mais aonde botar tanto lucro ganho (?) da clientela, e a crise da justiça, que se obrigou a criar uma tal de delação premiada, por não ter onde botar tanto bandido, condenados, ou não!
Como veem, e como eu disse, há crises pra todos os gostos. Infelizmente, tem mais uma, terrível, contrariando todos os homens de boa vontade, todos os homens justos, todos os homens pacíficos, contrariando, absurdamente, o próprio Criador: a crise da humanidade, a desumanidade, que nos acompanha desde a Pré-história, passando pela Idade Antiga, pela Idade Média, pela Idade Moderna, e chegando nesta Idade Contemporânea!

Invasões, conquistas, pilhagens, escravizações, servidões, extermínios, genocídios, levando a morte, a doença, a miséria, a fome, o racismo, o preconceito, o ódio, e quantos outros resultados queiram apor, infâmias, frutos da cobiça e da loucura, dos que não conheceram outro caminho para o crescimento senão o caminho da apropriação, da dominação Perfeitos inspiradores, ou seguidores de Maquiavel, estudioso, escritor, filósofo e político do Renascimento, que ousou justificar, com a política de resultados, o fortalecimento do Estado, com o emprego da força ou de quaisquer outros meios, para a obtenção dos objetivos pretendidos. Sua obra maior - O Príncipe, deu-lhe o título de pai do pragmatismo, característica principal da filosofia capitalista, em que ética e moral são valores negativos e condenáveis...

terça-feira, 25 de agosto de 2015

RIO, BERLIM*



Daniel Cariello**

Louise e eu aguardávamos para subir no ônibus e quase fomos atropelados por uma moça estabanada que chegou furando fila e dando ordem.
- Pé na tábua, motora. Arrancaê. Tô atrasadona.
Impassível, o condutor esperou todo mundo subir pra começar a acelerar lentamente. Passamos a roleta e nos dirigimos para o fundo do veículo. Sentamos perto da porta traseira, onde a apressada já se encontrava, em pé, e de lá mandava recados para a frente.
- Dá pra ir mais rápido, não? Essa carroça tá lenta pacas. É por causa de gente assim que esse país não avança.
Louise, minha filha, adora cavalos e carruagens e quis saber onde estava essa carroça da qual a sujeita falava. E se podíamos descer do ônibus e embarcar nela. Expliquei que não havia carroça alguma e muito menos cavalos, mas apenas uma burra mal educada.
- Aê, se eu perder o emprego vou colocar a culpa em tu, valeu?
O motorista nem aí. E quanto mais ele era indiferente, mais a moça se irritava.
- Pô, motora, tu é foda. Preciso chegar à Lapa em 2 minutos.
Ele a fitou pelo espelho interno e continuou calado. Foi o cobrador quem falou.
- Minha senhora, a Lapa é pro outro lado, valeu? Tu pegou o ônibus errado.
Ela ficou mais descontrolada ainda.
- Caraaaaca! Freia, motora. Engata a ré aí. Dá meia volta. Faz alguma coisa!
Nada.
- Então abre a porta. Preciso sair, tu tá me lascando toda. Aê, aproveita o sinal fechado. Abre aqui. Tenho que descer agora. Se não vai ajudar, não atrapalha. Tu é surdo, é?
A porta continuou fechada, mas a boca do condutor se abriu pela primeira e única vez na viagem.
- Só pode descer no ponto.
Aí a coitada enlouqueceu.
- Pronto, agora tamo em Berlim. Viramos um país de primeiro mundo e eu não tava sabendo. A gente só para no ponto. Desce e sobe em fila, tudo organizadinho, uma beleza. O país que funciona. Nem corrupção tem mais. Que maravilha! Viva o Brasil, a nova Alemanha!
Quando o ônibus finalmente parou, a moça desceu na mesma velocidade com que soltava seus últimos impropérios.
- Valeu, motora berlinense. E viva o Brasil, primeiro mundo!
Louise perguntou o que havia acontecido ali.
- Essa mulher acabou de marcar o oitavo gol da Alemanha.
- O quê? Entendi nada
- Não se preocupe, você logo vai compreender.
- Pai, vamos sair daqui e tomar um sorvete?
- Tá bom. Eu vou de chope e chucrute.
.* https://www.facebook.com/cartasdaguanabara
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br


MARKETING



Isaias Coelho Marques

Não me Levi's
A mal
Sua roupa
Tem um quê
De consumismo
Indisfarçável.

I N T I C A R A M - M E C O M V A R A C U R T A... I




Manoel Emilio Burlamaqui de Oliveira

De vez em quando, meu amigo, e cronista de respeito, o A. J. de O. Monteiro joga uma casca de banana em meu caminho e fica esperando o tombo... Macaco velho, não meto a mão em cumbuca, um dia, ele cansa! Aí, vamos ver quem rí por último...
Na semana que passou, ele se excedeu: pois não é que me mandou dois motes, dignos dos bons cantadores de viola, pedindo-me que os analisasse, mesmo sabendo que nem voz eu tenho, muito menos português eu sei, para incumbir-me de tal tarefa? Era só o que faltava, querer fechar minha boca, acostumada a falar de tudo, de todos, até da vida alheia!
Parabéns, amigo Monteiro, de novo jogastes tuas cascas de banana (ainda tens muitas?), dignas de serem apanhadas por violeiros de estirpe, que não têm medo de se meterem em briga de cachorros grandes... Mas, que motes foram esses, escolhidos a dedo, como para me intimidarem, retirados da realidade maluca desse Brasil enlouquecido? Ei-los: "Crise é uma palavra mágica" e "As nuvens passam, as estrelas mantêm seu brilho"
Sou macaco velho, não macaco caduco ou macaco doido, não vou cair nessa de análise, tô fora, nem que fosse psiquiatra! Entretanto, não corro do pau. Bulinou comigo? tem troco!
Pois, vamos lá, ao primeiro mote: Crise - palavra mágica. Vôte! procurei, no meu bestunto, as palavras mágicas que conheço e, por enquanto, só encontrei três tiradas universais, que todo mundo conhece, "abracadabra", "abre-te sésamo" e "socorro!" . As duas primeiras, lembram-me a época de criança, tornam-me criança , uma, assistindo mágicos, no circo, retirando coelhos, lenços, toalhas, de suas cartolas, deixando-me de boca aberta, ao grito de abracadabra, palavra misteriosa, mágica, sem dúvida, cuja origem, soube depois, se perde no tempo dos magos, dos feiticeiros, dos ilusionistas, que transformavam gente e qualquer apetrecho, em bichos mansos ou selvagens... A outra, eita saudade!, do Alí Babá, dos contos das mil e uma noites, roubando os tesouros dos 40 ladrões, abrindo uma rocha (porta do esconderijo deles) gritando o famoso abre-te sésamo, numa época em que tudo era possível... Sabes, cronista, que, ainda hoje, sonho viajando em tapetes mágicos, achando tesouros enterrados, sem querer acordar para a vida real, tão insossa, comparada à criada por geniais contistas, que, ninguém me tira da cabeça, eram crianças, também!
Aquela última, gritada, sempre, em desespero, só é ouvida e atendida por corações abertos e cheios de amor, que, graças ao bom Deus, ainda existem... Os egoístas, os egocêntricos, os antidualistas, os que usam seus tempos para amealharem riquezas e poderes, fecharam seus corações e suas mentes, só escutam o que lhes convém. E, aí, grito eu, pobre bicho-homem, socorro, meu Deus!
O homem é o mago da palavra. Mas sua magia só funciona nos que souberem ouvi-lo. Por isso, velho amigo, afirmo, sem medo de errar: Crise não é, nunca foi, e nunca será, uma palavra mágica!
Agora, que peguei o pião na unha, não vou largá-lo de graça.
Afinal, o que considero crise? Como ela surge, o que a provoca, a quem ela atinge?

sábado, 15 de agosto de 2015

SEM VOCÊ


Isaias Coelho Marques

Nada mais importa
a porta aberta
a rua deserta.
Essa estrada
sem fim.
Nada mais importa
eu sem você
você sem mim.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A TURMA DO COCO*


Daniel Cariello**

Toninho Taturana chegou atrasado para a comemoração de 25 anos da Turma do Coco, na casa dos pais de Pedrinho Green. Mas não foi isso que incomodou os outros integrantes da trupe.
- Aê, porra é essa? - Disse Green, apontando a roupa do amigo com o mindinho, pois a mão estava ocupada segurando um latão de cerveja.
- O quê?
- Pra que essa estica toda, maluco?
- Isso aqui? Ué, camiseta, jeans e tênis.
- Tu tá de sacanagem, né? Tá vendo alguém aqui de camiseta?
- Tô não.
- De jeans?
- Tô não.
- E tênis, tem um de nós usando tênis?
- Tem não.
- Então, como é que você explica isso? O uniforme da Turma do Coco é chinelo e bermudão, uma tradição de mais de 25 anos. Camiseta free, não lembra?
- Resolvi dar um tapa no visu.
Marcinho Supino se levantou, exaltado.
- Tu vai é levar um tapa da fuça, doido, pra voltar ao normal. Nada muda na turma, é nosso dilema.
- Calma, Supino. - Pedrinho Green segurou o amigo.
- Me deixa dar só dois petelecos nele, pro céleblo voltar pro lugar.
- Aê, Supino, violência não leva a nada. Mas o que eu estou dizendo? É claro que leva. Mas não antes de escutar o que ele tem pra dizer. Depois, dependendo, tá liberado pra dar uma coça. Vai se explicando aí, Tatu.
Taturana pigarreou.
- Casei.
- Tu fez o quê? - Gritou Supino, apertando o pescoço do amigo.
- Aei…
- Diz aí, maluco, desembucha.
- Aei…

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

DANÇA DO VENTRE


Isaias Coelho Marques

Entre o ventre
E a serpente
Dança minha mente

PRAIA REAL*



Daniel Cariello**

As grandes palmeiras imperiais da rua Paissandu foram plantadas no século XIX para formar um caminho monumental e protegido do sol entre o Palácio Guanabara, residência da Princesa Isabel e do Conde d’Eu, e a praia do Flamengo, onde a família real gostava de passear.
Mesmo que eu não consiga visualizar Vossa Alteza Imperial trajando maiô, e muito menos seu marido francês de sunga, posso imaginar como teria sido uma dessas idas ao mar, em um Rio de Janeiro que ainda começava a descobrir sua vocação praieira.
- Conde! Conde!
- D’Eu?
- D’ocê mesmo. Prepara nossas tralhas, banhar-nos-emos.
- Pour quoi? O que nos fizeram?
- Quem?
- Os emos.
- Conde, d’Eu ruim na tua cabeça? Além de você não saber usar mesóclises, o que é imperdoável no século XIX, os emos e seus filmes de vampiros ainda não foram inventados. Eu disse que nós vamos tomar banho!
- Mas já tomei mês passado, na nossa última voyage à Paris.
- De mar, Conde, banho de mar!
- Ah, d’accord! Mas... pra quê?
- Ué, pra torrar a pele sob o sol, ficar morena, gatinha, desejada, tirar selfie, bombar no Insta, essas coisas que vão ser tendências nos próximos séculos.
- Ma chérie quer lançar moda. Isso dá até polka! “Olha que coisa mais fina, veja que beleza, aquela menina é a minha princesa, la belle Isabel vai pra praia torrar”. Curtiu? Já tem até nome: Princesa do Catete. Acho que funciona, mesmo que estejamos no Flamengo.
- Deixa essas tentativas poéticas pra quem entende. Volte para o que você sabe fazer.
- Bonne idée! Mas o que é, mesmo, além de ser Conde?
- Hummm, não sei, também. Enquanto não descobrimos, vá arrumando as coisas pro nosso passeio. Coloca toalhas, protetor solar e os baldes, pazinhas e coroas dos principezinhos no sacolão. Pega também umas cadeiras reais e uns guarda-chuvas grandes, que ainda não criaram os guarda-sóis. E um baú com bebidas geladas e guloseimas, pois só daqui uns 100 anos vai aparecer o primeiro vendedor de mate e biscoito Globo.
- Não é bixcoito Grobo?
- Essa questão nunca terá uma resposta definitiva. Agora, trata de cuidar do que pedi.
- Mas, ma princesse, é muita coisa pra carregar. Não podemos obrigar um escravo a cuidar disso?
- Alô...ô! Francamente, Conde! Euzinha pensando em acabar com a escravidão e você com essas ideias de jerico. Vamos, as férias estão chegando e já rola o boato que a minha irmã, a Leopoldina, tá morenaça e quer ser eleita a Princesa do Verão 1880.
- Ma princesse, não se preocupe, você é imbattable. E será sempre a princesa do lar, a rainha do meu coração, a imperadora das minhas vontades, a majestade do...
- Deu, Conde, deu. Pega as tralhas e vamos nessa, o sol tá bombando!
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br

sábado, 1 de agosto de 2015

A FRANÇA EM TORNO DO UMBIGO*


Daniel Cariello**

Eu sou o Daniel. Moro em Paris. Paris fica na França. A França é o país da Torre Eiffel. A Torre Eiffel foi construída para a exposição universal de 1889. A exposição universal de 1889 foi feita em homenagem aos 100 anos da queda da Bastilha. A Bastilha era uma prisão que foi destruída na Revolução Francesa. A Revolução Francesa foi quando os parisienses tomaram gosto pela trilogia de liberdade, igualdade e fraternidade e também pela decapitação real. Na decapitação real, dançaram feio o Rei Luís XVI e sua esposa Maria Antonieta. Maria Antonieta foi aquela que falou ao povo: “Já que não há pão, comam brioches”. O brioche nasceu na região da Normandia. A Normandia tem ótimos crepes e foi o local do desembarque das tropas aliadas, decisivo para o fim da II Guerra Mundial. Na II Guerra Mundial, a França do Marechal Pétain colaborou com o bigodudo Hitler e os alemães. Os alemães disputaram e perderam para os franceses, no século XIX, o controle de Estrasburgo. Em Estrasburgo moraram Mozart, Pasteur, Gutemberg e Calvino, este um dos líderes da reforma da igreja católica. A igreja católica é aquela que fala sobre desprendimento, mas nunca deixou de cobrar o dízimo. O dízimo também era exigido por muitos reis da antiguidade. A antiguidade é um tempo que passou há muito tempo. O tempo, dizia o francês Nostradamus, é apenas a decomposição da matéria. Entre as matérias da escola, eu detestava biologia vegetal, mas adorava geometria. A geometria deve muito a René Descartes, um dos pais da filosofia moderna. A modernidade é um tempo que ainda está passando. Quem passa as roupas na casa dos meus pais é a dona Evandete, toda quinta-feira. Quinta-feira em francês se diz jeudi, que significa “dia de Júpiter”, em latim. O latim é a língua que deu origem, entre outros, ao português, ao espanhol, ao romeno, ao catalão, ao francês e ao italiano. Franceses e italianos não se cansam de se agredir mutuamente. Uma agressão recente foi a cabeçada de Zidane no zagueiro Materazzi. Materazzi foi um dos destaques da seleção italiana campeã de 2006. Dois mil e seis foi o ano do rato. O francês Blek, o Rato, usa estêncil para fazer incríveis grafites na rua. A rua é o lado de fora da casa. Minha casa é um apartamento, mas antes era um “apertamento”. Um “apertamento” é uma piada sem graça. Outra piada sem graça é a do “não, nem eu”. Eu sou o Daniel. Moro em Paris.
*Esse texto faz parte do livro de crônicas Chéri à Paris, best seller na Amazon.
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br