Daniel Cariello**
Ei, você aí em 2034, como estão
as coisas?
Aqui
tá tudo mais ou menos. Na verdade, nesse momento, está mais pra menos. Tem dias
que está mais, mas esses dias são cada vez menos, se é que você me entende.
Se
não entender, não tem problema, porque por aqui ninguém também está
compreendendo nada. A confusão é grande. Você deve ter lido nos livros (ainda
existe isso, livros?) sobre o que aconteceu com o antigo Brasil, em 2016. É
verdade, o país se chamava Brasil, antes de assumir definitivamente o epíteto
de Pindorama, o que aconteceu no final do ano. Sei que ainda estamos em maio,
mas um vidente, a fonte mais confiável de informação nos dias de hoje, me
garantiu que seremos rebatizados antes de dezembro.
Joaquim
de Arangola, o futurólogo em questão, assegura que o nome da nossa pátria
começou a mudar quando Michelzinho escolheu a marca do reinado de Michel I e,
segundo um grampo do Sérgio Machado, decidiu também pela volta do lema “Ordem e
Progresso”, que havia aprendido a escrever sozinho, na escola. O infante ainda
sugeriu adotar a música dos Teletubbies como novo hino nacional, mas foi
convencido do contrário pelo soberano e por sua esposa bela, recatada e do lar,
em troca de mais sorvete pra sobremesa.
O
visionário também afirmou que Michelzinho daria um golpe no pai, ao completar
16 anos, tomaria o poder e decretaria a invasão terrestre de Cuba. Alertado
pelo chanceler Joseph See Ha da impossibilidade do fato, teria ordenado então a
venda do Acre, só pra se vingar, No entanto, seria informado que o Acre era
tudo o que havia restado do antigo país.
Porém,
isso tudo é coisa pequena, não é mesmo? O importante é que o carnaval e futebol
ainda existem na sua época, aposto! As cabrochas na avenida, os brochas no
poder, o Vasco na 2a divisão, aquela vidinha besta de sempre, com tudo
terminando em cheeseburguer (pensa que não sei que a pizza foi abolida pelo
nosso chanceler?). Se tiver ketchup, aí fica do jeito que o devil gosta.
Bom,
já vou me despedindo. Antes, quero aproveitar essa nossa missiva intertemporal
para fazer uma perguntinha boba: o Jucá e o Cunha já foram presos por
corrupção? Hein? Fala mais alto, pra eu poder ouvir daqui, são 18 anos de
distância! Já? Não? Ah… Só pra saber, mesmo.
No
mais, aproveite aí de Pindorama. A gente se encontra pessoalmente no futuro
(pra mim, pra você será presente). Podemos marcar na posse do presidente
Alexandre Frota, o que lhe parece?
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br