terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

RECADO


Isaias Coelho Marques

Se tu me amas
Secretamente
Deixa as persianas
Entreabertas
Como um sol breve
Invadirei furtivamente
Tua sombria solidão.

VAI MILHO?*


Daniel Cariello**

- Vai milho?
- Tem manteiga pra passar em cima?
- Aqui.
- Isso é margarina. Quero manteiga.
- Então, só tem isso aí mesmo.
- Não gosto de margarina.
- Não vai o milho?
- Tô pensando... Tem sal?
- Aqui.
- Tem aquele de moer?
- Tem o quê?
- Aquele que você roda em cima e o sal cai moído.
- Só tem esse aqui, você vira e o sal sai, a não ser quando entope com a maresia, aí tem que dar uma batidinha no fundo, ó.
- Esse sal vem de mina.
- Vem nada, é do Rio mesmo, comprei no Guanabara.
- Vem de mina de sal. Eu prefiro o sal marinho.
- Você fala umas coisas estranhas. Posso mergulhar seu milho no mar, se o problema for esse.
- Não precisa. Vou querer um, vai.
- Pronto!
- Mas... O que é isso?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

TEMPO


Isaias Coelho Marques

Carro veloz
Ontem foram eles
Hoje somos nós

DANIEL, MAS PODE ME CHAMAR DE CHRISTIAN*


Daniel Cariello**

Durante quase um ano, uma amiga me chamou de Christian. Havíamos sido apresentados havia pouco tempo e como ela revelou-se muito gozadora acreditei tratar de uma brincadeira, mas logo descobri que não. É claro, levei a história adiante.
— É Christian de quê mesmo?
— Cariello, Christian Cariello.
Essa peripécia rapidamente se espalhou entre nossos muitos amigos em comum, que faziam questão de não revelar à Carol a minha verdadeira alcunha. Até que um dia, quando estávamos todos em um bar, ela chegou e foi cumprimentando um por um. A mesa ficou em silêncio, esperando ela falar comigo.
— Oi, Christian!
A risada foi instantânea e muito alta. Todo mundo achou graça, menos a pobre da Carol, que não entendia nada e limitava-se a dar aquela risadinha de cumplicidade, enquanto perguntava o que estava acontecendo. Demorou pra alguém recuperar o fôlego e explicar a situação.
— Como você o chamou?
— Christian, ué.
— O nome dele é Daniel! - E todos caíram no riso mais uma vez.
Brava, a Carol me deu uns dois ou três cascudos, reclamando que eu nunca a havia corrigido. Justifiquei-me dizendo que ela nunca havia perguntado e além do mais eu achava Christian simpático. O episódio foi marcante na nossa turma de amigos e ainda rimos quando lembramos dele.
Desde então, as pessoas entenderam que era mais fácil mesmo me chamar de Daniel, afinal assim fui registrado. Isso funcionou sem problemas até um dia desses, quando uma outra confusão aconteceu, envolvendo o simpático editor de um grande site que republica regularmente minhas crônicas. Vamos chamá-lo de José, pois já que ele trocou meu nome eu troco o dele também.
Eis que o José enviou um e-mail desses que vão pra muita gente, alertando sobre a atualização do seu portal, destacando alguns textos que acabara de colocar no ar e seus respectivos autores. Uma crônica minha estava lá, mas erroneamente creditada a um tal de Hugo Camelo, que por sinal até existe e vem a ser amigo meu.