A. J. de O. Monteiro
Ananda é minha sobrinha-neta (é
que a mãe dela casou muito cedo e muito cedo a concebeu). Nessa época morava em
Brasília (eu) e nossos encontros ocorriam esporadicamente, quando vinha a
Teresina em férias anuais. Vi-a bebê, criança, adolescente o que não favorecia
a aproximação dado a diferença de idade e, em consequência, interesses diversos.
Mesmo nas reuniões familiares, que naqueles tempos eram mais frequentes, mantínhamo-nos
em grupos separados. Ela com seus primos e afins e eu com os adultos, ou seja,
para usar uma expressão em moda, cada um no seu quadrado. Mas, mesmo assim era
impossível não notar aquela garotinha esguia, de olhos negros vivazes,
irrequietos... Perscrutadores, mesmo!
O tempo passou, voltei a morar em
Teresina, transferido no trabalho e Ananda estudando, trabalhando e agora casada,
com as obrigações próprias manteve nossos contatos na mesma inconstância, até
nos encontrarmos em rede social, onde pude perceber um pouco quem na realidade
é Ananda. Ananda é diferenciada da “tribo”. Suas postagens, a maioria de interesse
literário, com pequenas mais consistentes resenhas livros que lera, bem como
reproduzia trechos desses mesmos livros. Vi que Ananda queria compartilhar suas
experiências, no intuito, creio, de estimular mais pessoas ao hábito da leitura. Fazendo
isso com diversos autores e inúmeras obras, não disfarçava, no entanto, sua
predileção por Lygia Fagundes Telles e Clarice Lispector (bom sinal, não?).
O livro de Ananda – O VESTIDO –
não foi surpresa para mim, pois já lera duas ou três crônicas suas disponibilizadas
no @coletivoleituras, do qual é integrante e onde, ao fim das postagens anotava
como referência pessoal: “Jornalista, estudante e aspirante (suspirante)
escritora”. Deixando claro sua disposição de produzir um livro e que bom que o
fez.
O VESTIDO é um livro de crônica,
mas, como Ananda, diferenciado. Nelas (crônicas) ela fala de suas angústias, dúvidas,
perspectivas e expões suas impressões sobre o mundo e pessoas enquanto narra
fatos do cotidiano, do trivial da vida. Da infância, da adolescência e da vida
adulta. De coisas que ficaram em sua mente, gravadas como as tatuagens em seu
corpo (com licença, Chico). Fala sim, do cotidiano, do trivial e de pessoas
amadas ao seu derredor, mas sem pieguice. Ela pega esses momento e, como que
reformando um vestido velho, aplica-lhes “uma renda na frente, uns canutilhos e
pedrinhas bordadas” oferecendo um excelente livro que, sem receio de parecer um
tio coruja, digo: vale a pena ser lido!
P.S. O livro está à
venda na livraria Entrelivros e na loja Tocatta.