Poncion Rodrigues
Foi
no tempo em que os Beatles faziam vibrar as tampas sonoras das nossas vitrolas,
com o revolucionário som mundial vindo da velha Inglaterra.
Um
jovem Roberto Carlos, que se contorcia com sua turma nos passos do yê, yê, yê
era por aqui o rei da trepidante jovem guarda que também cantava letras
românticas de musicalidade emocionante e ritmo lento.
As
canções ingênuas e carregadas de um tal sentimento chamado amor, embalavam
nossas novas descobertas. Dançávamos coladinhos (da cintura para cima). Meninos
com meninas, despertando para os encantos das epidermes se tocando: corações
disparados e bobagens românticas sussurradas nos ouvidos adolescentes.
Naquela
época, por um descuido das forças do mal, nós éramos todos felizes em tudo, tirando,
é claro, as provas de matemática.
O
clube, o falecido cine Royal e a praça eram os principais “paqueródromos”. Nas
tardes de domingo, depois do culto ao deus Sol nos haver bronzeado os corpos,
estávamos equipados para praticar aquele olhar sedutor e o sorriso levemente
lateral, cansativamente ensaiado em casa diante do espelho.
Usando
calças boca-de-sino e “botinhas” de fivelas abertas, olha lá nós em frente ao
cine Royal. Quem estava namorando esnobava os colegas circulando de mãos dadas
com o broto exibindo-se com a intencional naturalidade de um pavão.
Depois
do cinema, a Praça Pedro II (quando não, shows dos “Metralhas” ou dos “Brasinhas”).
Nos
volteios da praça, as trocas de olhares entre meninos e meninas eram flechas em
mão dupla de cupidos invisíveis. Quando se cruzavam, a candidata a namorada
abaixava o rosto com estudado pudor, logo traindo, pelo sorriso mal contido com
ternura e viço, o interesse pelo “charloso” embrião de sedutor.
Algum
tempo depois todo mundo era engolido pelo portão do velho Clube dos Diários.
Entre uma baforada de cigarro Minister e um gole de cuba libre aguardávamos a
chegada da coragem de convidar uma garota pra dançar.
Aconteceu
que num passe de mágica ou toque de feitiçaria o tempo passou voando, bicho. Os
Beatles já não se entendiam. Depois Lennon foi assassinado e o nosso “rei da
juventude” foi se transformando num enrugado ancião, ainda sentado em que seu
trono que ele não demonstra intenção de abandonar – pelo menos no transcurso
deste milênio. Mora?