segunda-feira, 25 de junho de 2012

AS CALÇADAS DE TERESINA, ONTEM E HOJE





A. J. de O. Monteiro

            Vivi minhas infância e adolescência, nas décadas de 50 e 60, ali nas cercanias do Liceu Piauiense, Mercado Velho, Fiação e Baixa da Égua. Nesses sítios da provinciana e pacata Teresina daqueles tempos curti (não havia essa gíria) divertida despreocupadamente o possível da vida que transcorria no ritmo alternado de aulas e férias.
            Havia, então, um elemento essencial à vida urbana: As calçadas. Uma instituição que se constituía  num dos mais importantes meios de interação social, ao lado das igrejas, clubes e praças . As calçadas não eram apenas vias de trânsito de pedestres, nelas jogava-se futebol de dois (quem daquela geração não lembra?),  espiava-se a vizinhança, tomava-se banho de chuva aproveitando o jorro d’água que caia forte das bicas (bocas de jacarés) das antigas casas. Lembro-me dos alertas dos mais velhos para evitar-se o banho nas primeiras chuvas que escorriam toda a sujeira acumulada nos telhados durante o verão.
            No centro da cidade concentrava-se o grande comércio, a maioria das repartições públicas, os cinemas, as poucas agências bancárias e o clube dos diários, hoje transformado em centro cultural. Pelas calçadas do centro via-se senhores de paletó de linho e chapéu de massa, senhoras e senhoritas fazendo compras nos magazines ou simplesmente desfilando modas. Rodas se formavam à sombra dos frondosos oitizeiros para discutir política, futebol ou pilheriar. Todos se encontravam pelas calçadas. A cidade pequena permitia que seu centro se transformasse num grande ponto de encontro.
            Mas era à noite que as calçadas assumiam sua principal função social. Nelas, logo após o jantar, as famílias sentavam em rodas para comentar os acontecimentos do dia, receber visitas para um cafezinho acompanhado de um bolo caseiro ou, simplesmente, para admirar a beleza do firmamento estrelado e ainda não corrompido pela iluminação artificial. As crianças e os jovens normalmente ficavam a parte das rodas adultas, sentavam-se nas equinas ao redor de um poste do IAEE (Instituto de Água e Energia Elétrica) que fornecia uma fraquíssima iluminação de lâmpada incandescente e ainda não quebrada por algum casal de namorados em busca da cumplicidade da noite sem luar. E por ali ficavam até ouvirem a ordem: Já prá cama, amanhã é dia de aula...
            Fiz essa pequena retrospectiva nostálgica apenas como introito do verdadeiro tema que quero abordar: AS CALÇADAS DE TERESINA, HOJE.
            É com grande tristeza e indignação que olho as calçadas de Teresina hoje. Esse patrimônio da população, principalmente dos pedestres (e todos nós somos pedestres). Além de mal cuidado está sendo despudoradamente privatizado, transformado em estacionamento de clínicas, escritórios e estabelecimentos comerciais de toda natureza. No centro antigo algumas lojas já expõem suas mercadorias nas calçadas: colchões, aparelhos de som, geladeiras, fogões e móveis em geral, é como se Teresina não dispusesse de um Código de Postura Municipal. E por falar nisso, onde está a Prefeitura que não age contra esses abusos? Autoridade prá isso tem! O que não tem é compromisso com a cidade.
            No trajeto de minhas caminhadas diárias enfrento diversos obstáculos: carros estacionados sobre as calçadas, buracos, desnivelamento do piso, entulhos em geral, bares e lanchonetes que espalham mesas e cadeiras sem deixar espaço para os transeuntes e, pasmem,    uma armadilha. Sim, uma armadilha! No cruzamento da Rua Visconde da Parnaíba com a Rua Honório Parentes, no Horto Florestal, existe um condomínio (um imponente edifício de apartamentos) cujo portão que dá acesso à garagem se abre verticalmente feito joelho de galináceos. Quando acionado, o tal portão projeta sua lâmina inferior para a calçada podendo, ocasionalmente (não sei se isso já ocorreu), atingir alguém que esteja passando pelo local. Se for uma criança ou um idoso, pode causar um acidente grave. Fico a imaginar: O iluminado que instalou aquilo certamente raciocinou com a região glútea.
            Estou pensando seriamente em fazer um curso de “Le parkour” para enfrentar essa aventura diária que é caminhar pelas calçadas de Teresina.

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