quinta-feira, 19 de julho de 2012

EU, O CANDIDATO



A. J. de O. Monteiro
Convicto de que a população de minha querida Cajuína, capital da pujante Província do Cajuí está cansada da mesmice da política local, entregue há muitos e muitos anos às mesmas famílias e grupos políticos que se revezam nos cargos eletivos fazendo (e não cumprindo), as mesmas promessas, resolvi lançar-me candidato ao cargo máximo da municipalidade.
                Sei que não será fácil romper as barreiras impostas por essas “famiglias” que, na busca da continuidade, compram almas e consciências trocando votos por chinelos, dentaduras, tijolos e outras ninharias, aproveitando-se do permanente estado de miséria a que é relegado o sofrido povo de Cajuína. O assistencialismo é a única bandeira das campanhas políticas por essas bandas.
                Como imaginei em princípio, não consegui legenda em nenhum dos partidos registrados e aptos a concorrer. Nem mesmo nos nanicos, todos já alugados pelas grandes siglas partidárias. Optei então por fundar meu próprio partido. Serei um cacique! Idealizei então, o PQP – Partido Que Promete.

                Fundar um partido político em Custódia, meu amado país, é fácil, muito mais fácil que abrir uma micro empresa ou conseguir legenda em um partido estabelecido. Nesse caso, ou você é um palhaço famoso ou empresário disposto a gastar muito dinheiro comprando títulos de cidadania e líderes políticos pelo Cajuí afora e ainda fazer concessões de toda ordem. Como não sou palhaço famoso e nem tenho dinheiro...
                Assim decidido em foro íntimo, caí em campo para arregimentar quadros para meu “staff” político-eleitoral. De pronto, por ser de fundamental importância criar fatos e factóides, tratei de contratar um marqueteiro. Ninguém menos que o Mago Manu, experiente feiticeiro da política local, passado na casca do alho por diversas campanhas. Como anda meio escanteado pelos partidos tradicionais que importaram marqueteiros de outras Províncias, detentores de novas tecnologias e truques para engabelar o povo simples, cobrou-me um preço módico por um serviço tipo três em um. Pois além de marqueteiro, o Mago, é um experiente rábula e prontificou-se em redigir o manifesto e o estatuto do meu partido. Encarregando-se, ainda, de todos os trâmites para o registro da sigla junto à justiça eleitoral.
Mal sabem eles que as poções e invocações do velho Mago ainda são eficientes e não exigem qualquer parafernália eletrônica.
                Na primeira convenção partidária, restrita ao Mago e eu, tratamos de escolher o restante do “staff”, definindo, desde logo, funções e atribuições de cada um na elaboração da plataforma eleitoral. Assim, o plano econômico e social e políticas públicas ficarão a cargo do Andarilho Paraibano para quem, se eleito, criarei uma super secretaria; O programa de saúde pública será elaborado pelo Filho da Geladeira, hoje brilhante esculápio e para quem também criarei uma super secretaria. Serão criadas tantas secretarias quanto sejam necessárias para acomodar parentes, amigos, cabos eleitorais e contribuidores. A logística da campanha será feita a quatro mãos: Meu amigo Jaconias Bardo, proprietário da maior distribuidora de combustíveis de cajuína e o não menos amigo Erosdito Pau d’Arco, dono de uma promissora locadora de automóveis. Como nenhum desses dois tem interesse em exercer cargos no executivo municipal, garantirei aos mesmos, bons contratos de prestação de serviços à Prefeitura.
                Acertadas essas questões, perguntei ao Mago: e dinheiro para a campanha? Isso  a gente consegue com algum agiota, respondeu-me.
                Dias depois, após um retiro espiritual na Mata do Soim, retornou o mago com toda estratégia da campanha delineada, inclusive o “slogan”. - "Qual é o “slogan”? perguntei. No que respondeu: - "EU PROMETO"! - "E o que vou prometer"? Voltei a indagar.  - "Ora, o que todos prometem; escolas públicas de boa qualidade, com professores bem remunerados; assistência médica universal com hospitais bem equipados; saneamento básico e água encanada em 100% das residências; moradia e emprego para todos; áreas de lazer e práticas esportivas em todos os bairros e vilas da cidade e, ainda, urbanização de todas as favelas, com todos os benefícios acima citados". - "Mago, ponderei, é impossível fazer tudo isso com um orçamento tão limitado como o de Cajuína"... -"É verdade - retrucou - ninguém fez e ninguém jamais fará, mas promete. Se o povo acredita, bem, isso é problema do povo. Queres ser eleito ou não"!
                Ah, ia esquecendo, o Mago será meu Chefe de Gabinete, com “status” de super secretário.

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