A. J. de O. Monteiro
Convicto de
que a população de minha querida Cajuína, capital da pujante Província do Cajuí
está cansada da mesmice da política local, entregue há muitos e muitos anos às
mesmas famílias e grupos políticos que se revezam nos cargos eletivos fazendo
(e não cumprindo), as mesmas promessas, resolvi lançar-me candidato ao cargo
máximo da municipalidade.
Sei
que não será fácil romper as barreiras impostas por essas “famiglias” que, na
busca da continuidade, compram almas e consciências trocando votos por chinelos,
dentaduras, tijolos e outras ninharias, aproveitando-se do permanente estado de
miséria a que é relegado o sofrido povo de Cajuína. O assistencialismo é a
única bandeira das campanhas políticas por essas bandas.
Como
imaginei em princípio, não consegui legenda em nenhum dos partidos registrados e
aptos a concorrer. Nem mesmo nos nanicos, todos já alugados pelas grandes
siglas partidárias. Optei então por fundar meu próprio partido. Serei um
cacique! Idealizei então, o PQP – Partido Que Promete.
Fundar
um partido político em Custódia, meu amado país, é fácil, muito mais fácil que
abrir uma micro empresa ou conseguir legenda em um partido estabelecido. Nesse
caso, ou você é um palhaço famoso ou empresário disposto a gastar muito
dinheiro comprando títulos de cidadania e líderes políticos pelo Cajuí afora e
ainda fazer concessões de toda ordem. Como não sou palhaço famoso e nem tenho
dinheiro...
Assim
decidido em foro íntimo, caí em campo para arregimentar quadros para meu “staff”
político-eleitoral. De pronto, por ser de fundamental importância criar fatos e
factóides, tratei de contratar um marqueteiro. Ninguém menos que o Mago Manu,
experiente feiticeiro da política local, passado na casca do alho por diversas
campanhas. Como anda meio escanteado pelos partidos tradicionais que importaram
marqueteiros de outras Províncias, detentores de novas tecnologias e truques
para engabelar o povo simples, cobrou-me um preço módico por um serviço tipo
três em um. Pois além de marqueteiro, o Mago, é um experiente rábula e
prontificou-se em redigir o manifesto e o estatuto do meu partido. Encarregando-se,
ainda, de todos os trâmites para o registro da sigla junto à justiça eleitoral.
Mal sabem eles
que as poções e invocações do velho Mago ainda são eficientes e não exigem qualquer
parafernália eletrônica.
Na
primeira convenção partidária, restrita ao Mago e eu, tratamos de escolher o
restante do “staff”, definindo, desde logo, funções e atribuições de cada um na
elaboração da plataforma eleitoral. Assim, o plano econômico e social e
políticas públicas ficarão a cargo do Andarilho Paraibano para quem, se eleito,
criarei uma super secretaria; O programa de saúde pública será elaborado pelo
Filho da Geladeira, hoje brilhante esculápio e para quem também criarei uma
super secretaria. Serão criadas tantas secretarias quanto sejam necessárias para
acomodar parentes, amigos, cabos eleitorais e contribuidores. A logística da
campanha será feita a quatro mãos: Meu amigo Jaconias Bardo, proprietário da
maior distribuidora de combustíveis de cajuína e o não menos amigo Erosdito Pau
d’Arco, dono de uma promissora locadora de automóveis. Como nenhum desses dois
tem interesse em exercer cargos no executivo municipal, garantirei aos mesmos,
bons contratos de prestação de serviços à Prefeitura.
Acertadas
essas questões, perguntei ao Mago: e dinheiro para a campanha? Isso a gente consegue com algum agiota, respondeu-me.
Dias
depois, após um retiro espiritual na Mata do Soim, retornou o mago com toda
estratégia da campanha delineada, inclusive o “slogan”. - "Qual é o “slogan”?
perguntei. No que respondeu: - "EU PROMETO"! - "E o que vou prometer"? Voltei a
indagar. - "Ora, o que todos prometem;
escolas públicas de boa qualidade, com professores bem remunerados; assistência
médica universal com hospitais bem equipados; saneamento básico e água encanada
em 100% das residências; moradia e emprego para todos; áreas de lazer e
práticas esportivas em todos os bairros e vilas da cidade e, ainda, urbanização
de todas as favelas, com todos os benefícios acima citados". - "Mago, ponderei, é impossível
fazer tudo isso com um orçamento tão limitado como o de Cajuína"... -"É verdade - retrucou - ninguém fez e ninguém jamais fará, mas promete. Se o povo acredita,
bem, isso é problema do povo. Queres ser eleito ou não"!
Ah,
ia esquecendo, o Mago será meu Chefe de Gabinete, com “status” de super secretário.
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