Poncion Rodrigues
Existe nas madrugadas de
Teresina um mundo insuspeito; um universo paralelo de violência e medo, que dão
o tom de insensatez e perversidade à rotina dos bairros e vilas que
circunvizinham o chamado centro urbano da capital. Se já é tão perigoso
circular nas ruas dos ditos bairros nobres, imaginem a versão mafrense dos
bairros selvagens de Nova York. É a
Teresina marginal que liberta sua ira no avançar da noite; quadrilhas se
digladiam e se matam peal posse do não-sei-o-quê. Vidas adolescentes se perdem
nas escaramuças entre gangues em guerra que são registradas apenas parcialmente
pela rotina das crônicas policiais, passando despercebidas pela nossa atenção
seletiva na leitura matinal dos jornais.
As madrugadas de ódio amedrontam
os médicos e demais membro das equipes do SAMU,
que socorrendo as vítimas se deparam quando em vez com seus algozes muito
frequentemente impedindo o socorro que está tentando acontecer. Leio nos
jornais que um certo indivíduo foi preso enquanto comemorava em uma festa o que
teria sido seu quarto assassinato, façanhas até então não punidas pela eficiente
e célere justiça brasileira, que, como sabemos todos, nos tem garantido os
direitos constitucionais e castiga com rigorosas sentenças (cumpridas
integralmente) os matadores que proliferam em nossas cidades. Sabe-se que
certos juízes têm tanto amor à liberdade que não admitem que assaltantes e assassinos
permaneçam presos, ainda que pegos em flagrante após troca de tiros com a
polícia. Ouvi de uma autoridade policial que a constelação de bandidos em
Teresina é composta por, não mais de trinta “estrelas”; são sempre os mesmos!
Presos e soltos no jogo bizarro da impunidade que fascina os adolescentes,
filhos da miséria, crescidos no vácuo da ausência total do Estado “protetor”.
É o caldo de cultura que transforma a criança pedinte em menor infrator
e posteriormente no insensível assassino frio e irrecuperável, que pode estar à
espreita de cada um de nós ou de nossas famílias, em esquinas e sinais de
trânsito na perigosa Teresina. É da infância abandonada e ultrajada que são
confeccionadas com progressiva perfeição as criaturas que protagonizam os
terrores das noites desta triste cidade.
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