quarta-feira, 29 de maio de 2013

O CAUSO DO PINTO GAGÁ





Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
(do livro “De Corpo Inteiro”)

                Saí da vida adormecida de um velho aposentado (do INSS) para o reboliço do Rio de Janeiro, a fim de, com minha mulher e meu filho Pedro, assistir o casamento de minha filha, Gilda, com o Fernando, e participar da linda festa, oferecida pelo casal aos convidados, sem jamais imaginar que, na escala de Brasília, pudesse acontecer o causo que vou lhes contar, não sei se envergonhado, decepcionado, ou emputecido... só sei que vou processar o aeroporto de Brasília, ah, isso vou!
                Duas horas de espera para pegar o voo que nos levaria ao Rio. Lanche pra cá, lanche pra lá, quem não fica com vontade de ir ao banheiro? Olhei para o relógio, faltavam ainda, uns 20 minutos para a nova decolagem, e lá vou eu, carregando sacola, blusão de frio (por precaução) e minha bengala, em busca do “cavalheiros”.
                Encontrei, entrei, e, surpresa, pequeno, para poucos visitantes. Entrei na fila, que, ainda bem, andou depressa, e, com uma mão (a outra estava ocupada com os trambolhos), procurei pelo pinto, que, então, já era pintainho, sem conseguir achá-lo, busca essa que me consumiu alguns minutos e, uma agravante, chamou a atenção dos demais xixizantes. Valha-me meu santo milagroso, será que vou me molhar? Eis que, o colega do lado, junto a uma meia-parede, termina seu afazer e sai, deixando uma vaga preciosa, pois tinha onde colocar minha bengala, (pendurada na parede), a sacola e o blusão, no canto, para, com as duas mãos, vazias tentar agarrar aquele pinto fujão.
                Foi o que fiz: calças arriadas nas pernas, procura que procura, agarro o safado e o coloco no lugar apropriado para abrir o bico... Suspirei, aliviado, mas escutei um suspiro mais elevado, de quem? Dos espectadores, cretinos, gozando do pobre velho... Tem nada não, que saio já. Quem disse? O safardana daquele pinto, só podia tá gagá, não abriu o bico, o xixi não saia. Nova expectativa, e os cretino passaram a fazer xiii, xiii, xill... Teve, até, um que cantou “mourão, mourão, vara madura não cai, mourão, mourão, catuca por baixo, que sai” – “Vai catucar teu pai, cretino!” Risadaria geral, mas serviu, pois o xixi saiu.
                Pensei que minhas atribulações haviam cessado. Quem disse? O gagá se recusava fechar o bico... olhei de soslaio, e os visitantes daquele banheiro, (ou espectadores?), estavam com a respiração suspensa, sem acreditar no que viam. E, eu, não tinha nem um pregador de varal para acabar com aquela comédia, que, inevitavelmente, teve um fim, com o cansaço do imprestável, sem dúvida...
                Agasalhei, convenientemente, o pinto gagá, e fui saindo de mansinho. De mansinho, uma ova, estrondou uma salva de palmas e de parabéns dentro daquele banheiro fajuto, como seu fosse um verdadeiro herói...!
                Não me contive, mandei-lhes uma “banana”, levantei minha mão desocupada, com o dedão no rumo daqueles gozadores, e gritei: “taqui pra vocês, bando de felas!” Graças a Deus, mulher e filho não souberam desse causo, senão, nem ao casamento me deixariam ir, piis diriam que o gagá era eu...

                E, ainda, ficam falando do nosso aeroporto... 

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