Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
1º de abril de 1964 veio com uma surpresa para o povo brasileiro: o golpe militar. Iniciaram-se as prisões em todo o País. No Piauí não foi diferente. Pessoas acusadas de serem comunistas e/ou subversivas foram levadas para as prisões em quartéis militares, maioria delas nem sabiam definir os termos “comunismo” e “subversão”. Não era o meu caso, evidente, que os conhecia muito bem, ainda que não fosse, por convicção própria, seguidor da ideologia marxista ou praticante de atos contra a ordem estabelecida, o Estado ou, mesmo, o Governo.
Na
primeira semana daquele mês, procurei duas pessoas, importantes, para mim, o
Governador Petrônio Portella, para saber de sua posição face ao golpe e
colocar-me à sua disposição, e o meu Bispo, Dom Avelar, a quem tinha uma
devoção filial e a quem devia obediência, como católico militante.
Petrônio,
de cuja amizade pessoal sempre me honrei, mandou-me ir para casa, pois nada
havia a ser feito, ele próprio estava com dois coronéis em seu gabinete. Não o
prenderam graças à argumentação dos ex-governadores Pedro Freitas e General
Gayoso, do irmão deste, também General reformado, e do Cel. Façanha, comandante
da Guarnição do Exército, em Teresina, conforme informações posteriores.
Já
Dom Avelar, informou-me que procurou interceder a meu favor, em virtude dos
boatos sobre minha próxima prisão, mas não alcançou qualquer êxito... (Também,
pudera, ele, coitado, sempre fora marcado pelos “golpistas”). Pediu-me que
ficasse com minha família e, se fosse preso, mandasse minha esposa, Magda, procura-lo,
de imediato. Assim o fiz. Magda foi tratada por aquele Pastor inigualável, como
verdadeira filha! Sua bênção, meu querido bispo!
13
de abril. Estava terminando de me barbear, para tomar o café da manhã com minha
família, quando adentra minha casa um Tenente do Exército, perguntando se eu
era o Dr. Manoel Emílio. Resposta afirmativa, o rapaz, parecendo encabulado,
disse, apenas, que o Ten. Cel., comandante do 25º BC, convidava-me a comparecer
a seu gabinete. Permitiu que tomasse o café com minha mulher e filhos e que levasse
uma Bíblia e um Missal, pois pensava que, por lá, houvesse uma capela...
Fui
de Jeep, com o tenente e um soldado armado, até a sede do 25º BC, e fiquei
aguardando, na ante-sala do gabinete do comandante, o seu chamado. Muito tempo
depois, entra um capitão e pergunta: “Quem é o senhor e o que faz aqui?”
Respondi-lhe, e nova pergunta: “Não deram ordem de prisão?” – “Não senhor” – “Pois
vou dar-lhe: Dr. Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira, o Sr. Está preso por
ordem do Comandante do 25º BC, por atentar contra a Segurança Nacional” – “Muito
obrigado, capitão.”
Continua
o diálogo: “Que livros são esses?” – “Bíblia e Missal.” – “O Sr. É teólogo?” – “Não,
sou católico.” – “Pois bem, acompanhe-me, por favor, vou levá-lo para onde o
Sr. vai ficar.” E o Capitão, de quem posteriormente, me tornaria amigo,
colocou-me, preso, nas acomodações (quarto e banheiro) do Major subcomandante daquele
batalhão.
*Do
livro “De Corpo Inteiro”
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