segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O CARDEALZINHO.


Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
                Penso que, muita gente, principalmente da minha geração, conhece a história do homem que quis enganar a morte... Não me lembro bem, mas, parece que ele pediu um prazo, quando ela veio buscar, da primeira vez, o que conseguiu, com suas alegações de que precisava resolver uns problemas pendentes...
                Dona morte apiedou-se dele e lhe concedeu mais um ano de vida! A alegria  que o homem sentiu foi tanta que esse tempo decorreu rápido, para ele, até que alertado, por sua mulher, que o dia fatal havia chegado.
                 Depois de muita alegria e muito choro, resolveu enganar, mais uma vez, a velha ceifadora de vidas e, combinando com a mulher, raspou a cabeça, deixando-a pelada, pedindo à esposa, quando a more chegasse, que a informasse que ele estava viajando...
                E assim foi feito: Dona morte chegou, sendo atendida pela diligente esposa do homem, e perguntou – “Onde está ele”? E, veio a resposta – “Encontra-se viajando”. A velha não gostou, mas, “conformada”, informou: - “Tá bem, pra não perder a viagem, vou levar esse careca aí do lado”!
                Acho que “Fortunato não conhecia esta tal “História de Trancoso”... Antigo funcionário do estado, amável e pequena figura, uma espécie de servente, apaixonado pela política, defensor do povo humilde, pois era um deles, foi cooptado pelos “camaradas” para distribuir/vender” um dos jornais do Partido – “A Voz Operária”. Não sabia o que era subversão. Com o golpe, perdeu as forças, e, medo medonho, pelou e escondeu-se em casa, pensando não ser preso...
                Debalde, o exército bateu à sua porta, na forma de um sargento e soldados, perguntando por ele. O coitado, em sua tremedeira: - “Viajou”! O sargento falou: “Deixa de besteira, ‘Fortunato’, que tua cabeça pelada não me engana, vamos embora, você está preso”!
                E lá vai o “Fortunato”, levando “biscas” dos soldados até chegar ao quartel, com a cabeça tão vermelha quanto à de um cardeal, ou galo de campina!
                Tem nada não, “Fortunato”, você deu sua contribuição na luta contra a injustiça!

Um comentário:

Ana Bailune disse...

Boa tarde! Ninguém engana a Dona Morte. Gostei muito! E... ah, coitado do (des)Afortunato!