A. J. de O. Monteiro
Quinta
feira, 29/05/2014, 05:00 horas.
Ai!
Acordei. Doem-me as costas, a boca amargando e a cabeça prestes a explodir.
Tateio pelo criado mudo até encontrar a cartela de “BOMFLEX”, meu primeiro e
imprescindível remédio do dia. Tomo dois comprimidos e espero alguns minutos
pelo resultado, que geralmente não tarda muito. Enquanto isso, ao meu lado e alheia
as minhas agruras a velha companheira na saúde e na doença, ronca solenemente. Passo
então aos exercícios de alongamento: Os primeiros, ainda na horizontal, para
pernas e coluna lombar. Em seguida, já na vertical, a bateria para braços,
abdômen e colunas torácica e cervical. Isso tudo, remédio e alongamentos, me
manterá ereto até à tarde quando farei fisioterapia, hidroterapia, pilates e
acupuntura.
Vou
ao banheiro para as obrigações fisiológicas matinais e toalete completa. Em
seguida consulto a agenda do dia: 06:00 horas, laboratório levar material para
exames parasitológicos de fezes e urina (EAS e cultura) e coletar sangue para
os exames hematológicos (hemograma completo, glicemia de jejum, glicemia
glicada, colesterol total e frações, LDL, LHL, VLDL, T3, T4 livre, TSH,
potássio, vitamina D, TGO, TGP, sorologia, PCR e PSA); 08:30 horas, consulta
com o gastroenterologista; 11:30, horas consulta com o nefrologista; 14:30
horas, novamente ao laboratório coletar sangue para a glicemia pós prandial;
15:00 horas início das sessões de fisioterapia, hidroterapia, pilates e
acupuntura. Na agenda também estão anotados os remédios que tomo diariamente
para manter-me minimamente vivo e ativo. Para evitar atropelos também programo
o alarme do celular. Sem essas precauções, estaria morrendo aos poucos em cima
de uma cama fustigado por dores lancinantes (basta esquecer um só remédio que o
castigo vem de imediato).
Depois
do laboratório, volto pra casa, faço um frugal desjejum e vou checar o estoque
de medicamentos pois tenho que mantê-lo em nível de segurança. Não posso
arriscar-me a ficar sem qualquer um deles, por um dia sequer. Isso feito, vendo
que o cronograma me dá uma boa folga até a hora da consulta com o gastro, vou a
“minha” farmácia comprar aqueles medicamentos que dispensam receituário médico.
Na farmácia o atendente que já conhece meus remédios vem logo me atender. É um
excelente profissional! Além de me atender com presteza está sempre atualizado
com os lançamentos da indústria farmacêutica e me informa daqueles mais eficazes
no combate aos meus males. Ele conhece todos os meus problemas de saúde e diz
que aprendeu muito de literatura médica comigo.
Da
farmácia, já abastecido e, portanto, mais tranquilo, sigo para o consultório do
gastro. São 07:30 horas, o que me dá 30 minutos para chegar na hora agendada.
O
consultório fica no centro e é horário de “rush”. O trânsito está infernal. Ainda perco algum tempo procurando vaga até
que encontro uma, bem apertada e que exige muita paciência e habilidade para encaixar
o carro. Quando consigo estacionar, logo aparece o dono da vaga que comunica
taxativamente: “Vou vigiar seu carro, Doutor”...
Antes
de entrar no prédio que abriga o consultório tomo um comprimido de “SUPERVITAM
ANTI-STRESS” para equilibrar o sistema nervoso abalado pelo trânsito (sempre
trago comigo uma garrafinha térmica com água mineral para essas ocasiões).
A
sala de espera do consultório é típica: meia luz, televisor ligado apenas no
vídeo (mas dá para perceber que transmite um dramalhão mexicano) e pacientes sussurrando
– até hoje não sei por que nos consultórios todo mundo fala baixinho – exceto
as crianças que correm, gritam, choram e se estapeiam disputando aquelas
mesinhas com peças de montar e encaixar ante a indiferença de suas mães que
conversam distraidamente. E este era o quadro daquela sala de espera, pois o
gastro divide o espaço com o consultório pediátrico de sua esposa. Para
abstrair-me ambiente caótico e também evitar conversas indesejáveis com um
hipocondríaco qualquer que por ventura ali estivesse vou à mesinha de centro
procurar alguma publicação recente e acho: Uma revista que traz em sua capa as
torres gêmeas em chamas... E assim, totalmente absorvido pela emocionante
reportagem, sou sacudido pelo grito da atendente: - “Senhor, é a sua vez, não
ouviu o chamado”! Olho em volta e vejo a sala totalmente vazia. Olho o relógio:
11:45 horas. Exclamo: “Droga, Perdi o nefro”!! “Perdeu o quê”, perguntou ela.
Não respondi, tomei o remédio da pressão e entrei no gabinete do médico.
Cumprimento
o médico com um provocador “boa tarde” e ouço de volta um cordial “o que foi
dessa vez”?
-
O de sempre Doutor.
-
Como assim? Receitei-lhe os melhores remédios existentes segundo a literatura
médica e o senhor continua assim, como sempre! Cadê os exames que lhe prescrevi?
-
Só os fiz hoje e terei todos os resultados em 48 horas.
-
Não entendi, por que então o senhor não deixou pra vir depois de amanhã?
-
É que preciso comprar estes remédios que carecem de receituário médico em duas
vias... Apresentei-lhe a lista. Ele balançou a cabeça e falou: “Tudo bem, dê-me
aqui”.
Preencheu
os formulários, entregou-os a mim e recomendou: “Volte aqui somente com os
resultados dos exames...”.
-
Obrigado, Doutor, “bom dia”. Já passava do meio dia. Ele não respondeu...
Como
a consulta com o nefro já estava perdida mesmo, resolvi voltar para casa,
almoçar, descansar um pouco até a hora de ir para as sessões de fisioterapia,
hidroterapia, pilates e acupuntura. Estas atividades, como sempre, me tomaram
toda a tarde. Novamente em casa, janto, separo os remédios da noite, programo o
alarme do celular para acordar-me 10 minutos antes da hora para evitar quebras
nos intervalos recomendados na posologia. O primeiro desta noite é um laxante,
pois amanhã tenho consulta com o proctologista... Aaaaiiiii!
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