quarta-feira, 23 de julho de 2014

A SEMELHANÇA COM A REALIDADE ATUAL NÃO É MERA COINCIDÊNCIA...

Império persa 


Encaminhado por Manoel Andante

(Texto¹ inicial, retirado de uma conferência pronunciada pelo Des. Joaquim Vaz da Costa², em 1924, quando Juiz de Direito de S. João do Piauí, em benefício do "Patronato Agrícola" de S. Raimundo Nonato, dirigido pelo Pe. Horácio R. De Moraes, Sob o título de "A Escravidão na República" e publicada em seu livro "Arengas e Retalhos", 1924).                             

                    "Ao principiar este espectro de conferência, vejo estampar-se, em vossos semblantes um misto de admiração e de assombro, ao ouvirdes falar em escravidão, depois de 34 anos de República, e quando ainda nos chegam aos ouvidos as últimas vibrações dos hymnos e soam clangorosos os échos das trombetas que fizeram estremecer, de enthusiasmo e de alegria, o mais esquecido recanto de nossa querida Pátria, ante o primeiro centenário de nossa independência política.
                Se, entretanto, lançardes um olhar, não simplesmente contemplativo, porém, arguto e pers- crutador, das matas sombrias do Amazonas às verdejantes campinas do sul; do adormecimento de réptil dos Estados do Norte, atrasados e inertes, ao progresso estonteante e vertiginoso de S. Paulo admirável, conversar-vos-eis de que todo esse nababo, portentoso de esbanjamentos e de riquezas incalculáveis, não passa de uma grande senzala onde se move a massa immensa de milhões de escravos da ignorância e do analphabetismo, e milhões de letrados, escravos das conveniências mesquinhas, escravos dos interesses inconfessáveis, escravos da falta de sentimento do dever, escravos da miséria moral, finalmente...
                A nação às portas da bancarrota; os Estados entregues a uma politicalha baixa de cobras que comem cobras; os município, eternas satrapias, sem responsabilidades e sem escrúpulos perante os munícipes, mas, em compensação, sem independência e sem autonomia perante os Estados; os governantes preocupados com a satisfação exclusiva das conveniências individuais, em detrimento dos interesses do país, dos Estados e dos municípios; o legislativo fiel aos gestos, à vontade e aos caprichos do executivo; a justiça acanalhada, sem confiança, sem independência e sem autonomia, ou perseguida e desautorada, sem acatamento e sem garantias; os políticos, banais, sem ideal, sem programma, sem decoro e sem convicção; o correio e o telégrapho, sem sigilo e sem compostura; a imprensa amordaçada; a alma do povo “minada por um pessimismo canceroso e corrosivo"; eis o quadro horrível da horrenda escravidão que todos nós temos, na República, o dever de procurar combater, por todos os meios e com todas as forças a fim deque tenhamos, no mais próximo futuro, o gozo de ver essa immensa senzala transformada em nação livre, pujante, forte e grandiosa".
¹ Mantida a grafia original.
² Vaz da Costa, o tio Vaz, era irmão de minha avó Salustiana e primo de meu avô Manoel Carlos de Oliveira. Tive a felicidade de conviver com minha família paterna, durante os anos 1946/51, quando residi com meu avô, na "Terra Dura”. Propriedade de tio Vaz, enquanto fazia o curso cientifico, no Liceu e o 1º ano de Direito, na nossa Salamanca. Meu tio era professor de Introdução à Ciência do Direito e foi um dos criadores e fundadores daquela Faculdade. Muita saudade de todos, incluindo os primos de todos os graus! (Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira)

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