terça-feira, 9 de dezembro de 2014

DIANTE DA TORRE*



Daniel Cariello**

“Esta é a Torre de TV, maravilha da arquitetura”. Não, ela não foi desenhada pelo Niemeyer. A dele é a Torre de TV Digital, perto de Sobradinho. E é Niemeyer, não Niemayer. Tem som de “a”, mas se escreve com “e”, muitos se confundem, assim como na hora de escrever Kubitschek, mais letra do que a gente pronuncia, coisa de louco, quem precisa de tanta consoante? Niemeyer morreu com cento e tantos anos, era mais velho do que a própria arquitetura, dizem. Mas o projeto é de outro notável, criador do Plano Piloto de Brasília. Lucio Costa, brasileiro nascido em Toulon, na França, pátria de Gustave Eiffel, projetista da torre que leva o seu nome, em Paris, inspiração desta aqui. Pois não, minha senhora? Olha, não sei dizer, ele nasceu lá mas era brasileiro, não entendo dessas questões. Esta dúvida você pode tirar com o meu colega ali, o Afobado, assessor de fofocas e babados. Já foi colunista social, hoje vive de contar causos e mexericos. A torre tem 224 metros e um mirante a 75 metros, de onde podemos observar o urbanismo e os monumentos da cidade, como o Memorial JK, o estádio Mané Garrincha, a Catedral, a Esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional. Pode falar mais alto, senhor? Não, não acho. Estou dizendo que o Congresso é belo, não me refiro ao que armam lá dentro. O Niemeyer fez a parte dele, desenhou uma obra de arte, e o Joaquim Cardoso, engenheiro e poeta, fez os cálculos, a cúpula da Câmara parece quase flutuar. Mas do que aconteceu depois eles não têm culpa. Niemeyer era mais velho do que a corrupção, dizem. Ali é a fonte musical, uma beleza. Os jatos d’água são sincronizados com a trilha sonora. Não me perguntem como fazem isso. Quero ver é se funciona com heavy metal. É bom para vir à noite, tem até pipoqueiro, coisa rara na cidade. Eu já disse antes, o termômetro do sucesso de um ponto turístico é a presença de pipoqueiro no lugar. Este painel aqui é novidade, “Eu amo Brasília”. Foi colocado na época da Copa do Mundo e ficou. Como? Sim, eu sei, tem um parecido em Amsterdã, mas não foram os holandeses que o deixaram aí após a disputa do terceiro lugar. Aliás, vamos mudar de assunto. Logo atrás é a feira. Antes, ela ficava no pé da torre, mas a transferiram para uma área um pouco mais afastada. É um pequeno retrato de Brasília, tem gente, comida e artesanato do país inteiro e o melhor tacacá do Distrito Federal. Tacacá, não vatapá. Gosto dos dois, e você? Quem já ouviu aquela música “por toda a plataforma você não vê a torre”? Sabem do que o cantor está falando? Da plataforma da rodoviária, logo ali. Já tentou ver a torre de lá? E você aí achando que ele estava cantando outra cidade, né? Não, essa música não é do Niemeyer com “e”, ele era mais velho do que o som, dizem. É do Renato Russo, que, por sua vez, era brasileiro. O Afobado ali explica melhor. Mas vamos subir no mirante, apreciar a vista. Lá em cima eu conto mais histórias. Por aqui, senhoras e senhores.”
*Originalmente publicado e Veja Brasília de03. dez.2014.
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Pariswww.cheriaparis.com.br

Um comentário:

Ana Bailune disse...

Um ótimo texto!
E da torre, surgem as reflexões sobre a cidade...