Daniel Cariello**
Durante quase
um ano, uma amiga me chamou de Christian. Havíamos sido apresentados havia
pouco tempo e como ela revelou-se muito gozadora acreditei tratar de uma
brincadeira, mas logo descobri que não. É claro, levei a história adiante.
— É Christian de quê mesmo?
— Cariello, Christian Cariello.
Essa peripécia
rapidamente se espalhou entre nossos muitos amigos em comum, que faziam questão
de não revelar à Carol a minha verdadeira alcunha. Até que um dia, quando estávamos
todos em um bar, ela chegou e foi cumprimentando um por um. A mesa ficou em
silêncio, esperando ela falar comigo.
— Oi, Christian!
A risada foi
instantânea e muito alta. Todo mundo achou graça, menos a pobre da Carol, que
não entendia nada e limitava-se a dar aquela risadinha de cumplicidade,
enquanto perguntava o que estava acontecendo. Demorou pra alguém recuperar o
fôlego e explicar a situação.
— Como você o chamou?
— Christian, ué.
— O nome dele é Daniel! - E todos
caíram no riso mais uma vez.
Brava, a Carol
me deu uns dois ou três cascudos, reclamando que eu nunca a havia corrigido.
Justifiquei-me dizendo que ela nunca havia perguntado e além do mais eu achava
Christian simpático. O episódio foi marcante na nossa turma de amigos e ainda
rimos quando lembramos dele.
Desde então,
as pessoas entenderam que era mais fácil mesmo me chamar de Daniel, afinal
assim fui registrado. Isso funcionou sem problemas até um dia desses, quando
uma outra confusão aconteceu, envolvendo o simpático editor de um grande site
que republica regularmente minhas crônicas. Vamos chamá-lo de José, pois já que
ele trocou meu nome eu troco o dele também.
Eis que o José
enviou um e-mail desses que vão pra muita gente, alertando sobre a atualização
do seu portal, destacando alguns textos que acabara de colocar no ar e seus
respectivos autores. Uma crônica minha estava lá, mas erroneamente creditada a
um tal de Hugo Camelo, que por sinal até existe e vem a ser amigo meu.
Gentilmente,
enviei a ele uma mensagem, alertando o ocorrido.
“Oi, José.
Queria te pedir uma coisinha. Já é a segunda vez que recebo um e-mail dizendo
que foi o Hugo Camelo (que é um grande amigo) quem escreveu a minha crônica.
Pode corrigir isso, por favor? Daniel Cariello”
O José é
sempre cheio de boa vontade, mas acabou se enrolando.
“Mil perdões,
Hugo! Como associo vocês dois (ambos viveram em Paris e começaram a colaborar
com o site mais ou menos ao mesmo tempo) e como estava em contato com o Daniel
um pouquinho antes de publicar, confundi-me de novo.”
Aí fui eu que
não entendi mais nada. Tive que escrever pra ele de novo, pra ter certeza de
que quem estava ficando maluco era ele, e não eu.
“Vixe, agora
você trocou as bolas de vez, José. Eu sou o Daniel e estou escrevendo pra você
mudar o nome no e-mail que você envia. O certo não é o do Hugo Camelo, mas o
meu, Daniel Cariello.“
Dessa vez a
resposta sempre instantânea do José demorou um bocado, como se ele estivesse
verificando aquela história toda, que devia lhe parecer muito estranha. Fui dar
uma olhada no tal site e constatei que todas as ocorrências do meu nome haviam
sido trocadas pelo do meu agora rival (e usurpador involuntário) Hugo Camelo.
Já estava prestes a pegar o telefone para explicar pro José que finalmente eu
me chamava mesmo Hugo Camelo, mas preferia assinar como Daniel Cariello, se ele
não se importasse. Nessa hora chegou um novo e-mail, colocando as coisas em
ordem.
“Daniel, não
te conto o pior: cheguei a alterar o site, assinando tua coluna como Hugo
Camelo. Durou menos de um minuto. Veio uma luz e resolvi conferir. Constatei o
erro, realterei no site. Bom, vou parar por aqui, pra não virar personagem das
tuas crônicas ótimas e engraçadíssimas. Abração, Hugo.“
Tarde demais,
José.
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