sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

DANIEL, MAS PODE ME CHAMAR DE CHRISTIAN*


Daniel Cariello**

Durante quase um ano, uma amiga me chamou de Christian. Havíamos sido apresentados havia pouco tempo e como ela revelou-se muito gozadora acreditei tratar de uma brincadeira, mas logo descobri que não. É claro, levei a história adiante.
— É Christian de quê mesmo?
— Cariello, Christian Cariello.
Essa peripécia rapidamente se espalhou entre nossos muitos amigos em comum, que faziam questão de não revelar à Carol a minha verdadeira alcunha. Até que um dia, quando estávamos todos em um bar, ela chegou e foi cumprimentando um por um. A mesa ficou em silêncio, esperando ela falar comigo.
— Oi, Christian!
A risada foi instantânea e muito alta. Todo mundo achou graça, menos a pobre da Carol, que não entendia nada e limitava-se a dar aquela risadinha de cumplicidade, enquanto perguntava o que estava acontecendo. Demorou pra alguém recuperar o fôlego e explicar a situação.
— Como você o chamou?
— Christian, ué.
— O nome dele é Daniel! - E todos caíram no riso mais uma vez.
Brava, a Carol me deu uns dois ou três cascudos, reclamando que eu nunca a havia corrigido. Justifiquei-me dizendo que ela nunca havia perguntado e além do mais eu achava Christian simpático. O episódio foi marcante na nossa turma de amigos e ainda rimos quando lembramos dele.
Desde então, as pessoas entenderam que era mais fácil mesmo me chamar de Daniel, afinal assim fui registrado. Isso funcionou sem problemas até um dia desses, quando uma outra confusão aconteceu, envolvendo o simpático editor de um grande site que republica regularmente minhas crônicas. Vamos chamá-lo de José, pois já que ele trocou meu nome eu troco o dele também.
Eis que o José enviou um e-mail desses que vão pra muita gente, alertando sobre a atualização do seu portal, destacando alguns textos que acabara de colocar no ar e seus respectivos autores. Uma crônica minha estava lá, mas erroneamente creditada a um tal de Hugo Camelo, que por sinal até existe e vem a ser amigo meu.

Gentilmente, enviei a ele uma mensagem, alertando o ocorrido.
“Oi, José. Queria te pedir uma coisinha. Já é a segunda vez que recebo um e-mail dizendo que foi o Hugo Camelo (que é um grande amigo) quem escreveu a minha crônica. Pode corrigir isso, por favor? Daniel Cariello”
O José é sempre cheio de boa vontade, mas acabou se enrolando.
“Mil perdões, Hugo! Como associo vocês dois (ambos viveram em Paris e começaram a colaborar com o site mais ou menos ao mesmo tempo) e como estava em contato com o Daniel um pouquinho antes de publicar, confundi-me de novo.”
Aí fui eu que não entendi mais nada. Tive que escrever pra ele de novo, pra ter certeza de que quem estava ficando maluco era ele, e não eu.
“Vixe, agora você trocou as bolas de vez, José. Eu sou o Daniel e estou escrevendo pra você mudar o nome no e-mail que você envia. O certo não é o do Hugo Camelo, mas o meu, Daniel Cariello.“
Dessa vez a resposta sempre instantânea do José demorou um bocado, como se ele estivesse verificando aquela história toda, que devia lhe parecer muito estranha. Fui dar uma olhada no tal site e constatei que todas as ocorrências do meu nome haviam sido trocadas pelo do meu agora rival (e usurpador involuntário) Hugo Camelo. Já estava prestes a pegar o telefone para explicar pro José que finalmente eu me chamava mesmo Hugo Camelo, mas preferia assinar como Daniel Cariello, se ele não se importasse. Nessa hora chegou um novo e-mail, colocando as coisas em ordem.
“Daniel, não te conto o pior: cheguei a alterar o site, assinando tua coluna como Hugo Camelo. Durou menos de um minuto. Veio uma luz e resolvi conferir. Constatei o erro, realterei no site. Bom, vou parar por aqui, pra não virar personagem das tuas crônicas ótimas e engraçadíssimas. Abração, Hugo.“
Tarde demais, José.

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