Daniel Cariello**
Vó, lembro-me
bem das vezes que fomos ao cinema, só nós dois, ver todos os filmes dos
Trapalhões, no finado Cine Atlântida. Depois, íamos lanchar pão de queijo com
Coca-Cola, tomar sorvete e passear pelo Conjunto Nacional. Eu, pequeno, ao seu
lado, segurando sua mão amorosa e acolhedora.
Lembro-me da
nossa viagem para o Rio de Janeiro, no dia em que fiz 8 anos. Você fez todo
mundo no avião saber que era meu aniversário, convenceu a aeromoça a me levar
para conhecer a cabine do piloto e ainda conseguiu, sabe-se lá como, que a
tripulação me presenteasse com o broche da companhia aérea, que exibi orgulhoso
durante muito tempo. Você sempre adorou uma festa, não é mesmo?
Lembro-me com
carinho dos assaltos noturnos à geladeira, quando você organizava um super
lanche para os netos que dormiam na sua casa. E depois voltávamos todos para a
cama, com o estômago e o espírito bem nutridos. E quando levantávamos, no dia
seguinte, você já havia preparado o café da manhã e nos aguardava com um grande
sorriso, pronta para dividirmos a mesa e as tantas boas histórias que você
adorava compartilhar.
Você é parte
das minhas memórias mais remotas, sempre presente com um gesto de amor e uma
palavra de carinho e de incentivo, me dando a certeza de que é uma amiga com
quem sempre pude contar.
Uma das
recordações mais singelas é a do dia em que dormi na sua casa e acordei
inventando que precisava do baralho do Mickey. A gente nem sabia se isso
existia, mas você colocou um largo casaco sobre o meu pijama e fomos os dois
perambular a cidade atrás desse jogo de cartas que, felizmente, não
encontramos, pois a lembrança da nossa busca ficou para sempre comigo, enquanto
o baralho provavelmente teria se perdido em uma escura e mofada caixa de
brinquedos velhos.
E,
especialmente, não me esqueço do dia em que estávamos no seu quarto e você, sem
motivo aparente, me disse: Quando eu partir, não quero ninguém chorando por
mim, não gosto de tristeza. Quero família e amigos reunidos em uma grande
comemoração.
Então, minha
avó querida, esse texto não é de despedida. Nem é para ser triste. É uma
pequena memória dos tantos momentos que passamos juntos. É um agradecimento
pela sua amizade incondicional. É uma celebração à sua longa e bela vida.
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br
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