Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
O espírito e o fantasma
O espírito de Ananda gosta, pouco, de ficar parado, escutando o que se
fala, normalmente, em reuniões de família, ou de amigos, sempre o já
esperado... Prefere sair de seu corpo e voar, sem compromissos, livre, para
melhor conhecer, e descobrir, pra que serve a vida e tudo que a envolve!
Não é um fantasma, como “o espirito que anda”, dos antigos Gibis, que,
para que os bantos e zulus acreditassem nele, se passava por eterno, através
dos seus descendentes e, por isso mesmo, nem fantasma era...
É, apenas, um estudante, um pesquisador, um descobridor, que se encanta
com suas descobertas, encantando, por sua vez, quem encontra o que deposita na
sua prisão, “O Vestido”
Por falar em fantasmas, não confundi-los com as aparições: enquanto os
fantasmas sempre aparecem vestidos, com vestimentas do nosso conhecimento, pois
são de pessoas que já se foram, as aparições são assombrações, criadas pelo
imaginário popular, e nada têm a ver com nossos entes queridos, ou devedores.
Delas, eu me pelava de medo, principalmente, da “mula sem cabeça que botava
fogo pelas ventas”... Valei-me, Nossa Senhora, Mãe de Deus!!
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Por falar em vestido, querida sobrinha-neta, queres botar um vestido
branco num espírito? Vou meter o meu bedelho onde não devia: deixa teu espírito
em paz e demonstra teu carinho, teu amor e tua saudade de tuas avós dando uma
baita festa e usas o vestido branco, com os anéis, que elas te deram... O
sentimento que não sabes descrever vira o puro amor!
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Por favor, Ananda, tira da cabeça essa história de monge budista. Não
mates teu espírito que voa, todos os que adoram viver irão sofrer muito com sua
falta! Tu dissestes, “caminhar é conversar” ... Sabes de uma cousa, menina,? Eu
caminho a semana toda, às 05h20min, e converso comigo mesmo, com vigias meus
amigos, com moradores de rua, com minha cadela acompanhante, com os passarinhos
que começam a cantar, com a praça que me acolhe, e chego em casa, ás 06h10min,
leve, leve e sem cansaço!
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Aí,
dizem que estou caducando... Morro de rir, caducar é coisa gostosa!
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