A. J. de O. Monteiro
Há
cerca de dois anos, comecei sentir certos incômodos nas vias aéreas: coriza,
garganta irritada e certo zumbido no ouvido. Procurei um otorrino que constatou
uma faringite crônica. Suspeitando de alguma perda da acuidade auditiva,
encaminhou-me a uma fonoaudióloga que, após os testes protocolares, confirmou a
perda de dez por cento da audição do ouvido esquerdo. A partir daí comecei a
observar certas confusões no desenvolvimento de conversas. Se a pessoa fala muito
baixo posso inverter o entendimento de palavras ou frases e criando situações
as vezes engraçadas e as vezes, até constrangedoras. A que relato agora pode
ser classificada como engraçada: Neste sábado, 27 de julho de 2019, por volta
das quinze horas esvaziava a terceira ou quarta garrafa de cerveja enquanto lia
– na verdade relia – “Assassinato no Expresso Oriente”. Já estava na altura da
segunda rodada de entrevista com o “Coronel Arbuthnot”. Os romances de Mrs.
Christie, como todos sabem, requerem um alto grau de concentração
principalmente devido as sutilezas de Monsieur Poirot...
E
assim estava eu, concentrado na leitura, quando ouço o grito de minha esposa
que se encontrava em outro ambiente da casa:
—
VEM VER OS PATINHOS GÊMEOS!
—
ORA MULHER – gritei em resposta – NÃO VOU PARAR A LEITURA PARA VER PATINHOS
GÊMEOS... ALÉM DISSO, TODOS OS PATINHOS SÃO GÊMEOS... QUEM VIU UM, VIU TODOS!
Tomei
mais um gole e retomei a leitura.
Creio
que ela não gostou do tom da resposta, pois veio de lá, pé ante pé e tão
sorrateiramente que não percebi sua aproximação e assustei-me com o berro junto
ao ouvido esquerdo: - “NÃO FALEI PATINHOS GÊMEOS! FALEI PATINS NO GELO! E O
BRASILEIRO JÁ CAIU TRÊS VEZES... E voltou, pisando nos calcanhares, para a
frente do televisor onde assistia a transmissão dos Jogos Pan-Americanos de
Lima...
Refeito
do susto, tomei outro gole e voltei ao livro.
Cai
o pano...

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