Carlos Alberto Monteiro Falcão
No bairro ponte, tínhamos a sensação
de morar em uma grande fazenda. Quando criança, tudo parece bem maior... a
nossa casa era imensa. As vezes ainda sonho correndo pelos corredores e quartos
e me lembro como era gostoso caminhar com os pés descalços sobre o piso em
lajota crua da casa. Mas nada nos encantava mais do que as aventuras na quinta.
Assim era chamado o maior dos três quintais, separados entre si, por cercas de
estacas sem arame farpado. Para nós, crianças com imaginação fértil, sem celulares
e games, a quinta era uma selva em que todos os dias tínhamos algo a ser
desbravado. Muitas fruteiras como mangueiras, laranjeiras de várias espécies,
uma verdadeira mata de limas e muitas, muitas bananeiras. Esse era o local menos
explorado por conta da advertência dos adulto.
- Não
vão para o bananal! Lá tem cobras.
Na vizinhança, morava o Seu Quincas,
um senhor alto e franzino, encurvado pelo peso da idade e que caminhava com
dificuldade, apoiando-se em uma velha bengala. Na nossa imaginação, ele tinha
mais de 100 anos e aquela bengala, na verdade era uma arma mortal, pronta para
ser utilizada no primeiro menino que ousasse invadir o seu quintal para roubar
as frutas. Certo dia, Zaguinha, o mais velho do grupo, que esnobava dos demais,
garantindo que não tinha medo de nada, muito menos de cobras, desobedeceu
a matriarca e foi, sozinho, claro, desbravar a selva de bananas. Ficamos todos em
pânico e admirados da coragem do
primogênito. Logo ele voltou correndo, esbaforido:
- É
uma cobra! das grandes, dá pra engolir um menino de uma vez só!
Ficou só a poeira. Menino
corria tanto que os “calcanhares batiam na bunda" pense numa
"tubada". - ninguém pode entrar no bananal! Muito perigoso! E não
contem nada, senão seremos proibidos de brincar na quinta.
Cobra que nada, Zaguinha,
encontrou mesmo foi um cacho de bananas nanicas maduras e não
queria dividir com ninguém... depois voltou sozinho ao bananal e devorou
vorazmente todo o cacho de bananas, antes que aparecesse alguém para dividir a
guloseima.
No caminho de volta para casa,
começou a sentir umas pontadas na barriga, essas pontadas ficaram mais
frequentes e logo começou uma dor atravessada no abdômen que o impedia de ficar
ereto. Teve que pegar um graveto que servia de bengala. Para fugir
de uns bons puxões de orelha ou até uns "bolos" de palmatória, teve
uma ideia. Fingiu está imitando o seu Quincas esbravejando.
-seus
moleques! Não venham roubar minhas mangas!
Todos caiamos na gargalhada enquanto
a mamãe brigava
-respeitem
o nosso vizinho!
Alguns minutos depois, lá
estava o rapazote se retorcendo de dor dentro da rede. Não teve outra
alternativa a não ser narrar o ocorrido.
Foi um Deus nos acuda! Remédio para dor de barriga, Chá de boldo,
chá de casca de laranja. Até a Dona Dica, velha curandeira da região foi
chamada para fazer uma reza na barriga do menino. Só depois de umas oito
colheres de azeite de mamona que o enfermo “cuspiu” as bananas, não se
sabe se pelo efeito terapêutico ou pelo sabor horrível do remédio. O fato é que
até hoje Zaguinha não consegue comer bananas.

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