Marcelo D'Alencourt
Sempre discordei dessa alcunha
que pouco definia o maior lateral esquerdo do Brasil depois de Nilton Santos:
Marinho Chagas. Me lembro da transação que acabou o levando infelizmente para o
Fluminense num troca-troca muito incomum na época. Nós o perdemos junto com o
Wendel e recebemos Paulo César, Gil e Rodrigues Neto. Fui radicalmente contra o
acerto porque Marinho era colossal. Disputou a minha primeira Copa: 1974. Foi
considerado com sobras o melhor lateral esquerdo do evento. Com maestria e
personalidade se impôs como os grandes craques. Detalhe: sem esforços. Mas tudo
bem, o meu Botafogo não ia bem das pernas e tive que trocar a minha camisa
número 6 (seis) pela 8 (oito) do "Estrela Solitária" ( Mendonça) que
estava bem abaixo do Marinho. Mas fazer o quê? Tinha 8 (oito) anos e a infância
é pródiga nas mudanças repentinas e imediatas. Com o Marinho na "Máquina
Tricolor" de 75/76, quase o acompanhei, mas aí teria um seriíssimo
problema dentro de casa: meu pai, fanático pelo Botafogo. Entre os dois,
desculpem, Marinho e Rivelino (grande!), fiquei com meu pai e o Mendonça rs. O
tempo passou. Me esqueci do Marinho. Ah, li um livro onde me deliciei com um
"causo" dele. Chegando ao Botafogo num jogo (acho que contra o
Palmeiras), houve uma falta perto da grande área. Marinho era um reles desconhecido vindo do
Nordeste. Barreira formada e quem ia bater? Ninguém menos que, depois de
Garrincha, o maior ponta direita de todos os tempos e "como ele diz",
único a marcar gols em todos os jogos de uma Copa (1970): Jairzinho! Furacão posicionado, de repente, vem ele,
Marinho, firme e resoluto, manda aquele petardo de 3 (três) dedos no ângulo do
Leão. Golaço. Ele corre triunfante comemorando o gol sob o olhar de reprovação
de Jair. Anos se passaram e me esqueci do grande craque. Me acostumei àquelas
figuras assombrosas que envergavam a nossa gloriosa camisa 6(seis). Em 1981, disputávamos a fatídica
classificação pra final do brasileiro com o São Paulo e quem era o lateral
deles? Marinho Chagas. Fui ao jogo e o observei durante a peleja. Cabeça
erguida, passes certeiros e a fineza que Deus destina somente aos grandes
craques. O jogo era muito tenso. Maraca lotado. De repente, corner pro Botafogo
na esquerda do São Paulo. Um ovo é lançado da geral e acerta em cheio o Marinho
nas costas. A torcida alvinegra vibra. Eu gelo, me calo e observo a reação do
craque, que se vira e volta pra área são-paulina sem sequer limpar a sujeira
que escorre pelo seu corpo. Incrível.
Pensei: fez isso pra eu ver e contar 40 (quarenta) anos depois aqui!
Nunca mais o vi nem tive notícias dele. Anos depois, no aniversário de 100
(cem) anos do Botafogo, em 2004, quem está lá em General Severiano? Ele,
Marinho Chagas! Uns amigos o levaram ao Cristo Redentor pra missa das 6(seis)
rs junto com a "Enciclopédia" Nilton Santos. Me chamaram, mas não
pude ir por causa do trabalho. Que arrependimento! À noite, a turma foi com
ele, depois de várias cervejas, ao Caio Martins, assistir a um jogo do
Botafogo. Também não fui. Todos dizem que ele sentou no meio da galera, torceu,
xingou, vibrou e distribuiu autógrafos como um autêntico torcedor alvinegro.
Não vencemos, mas pouco importa. Me faz lembrar a minha primeira vez no
Maracanã: time entrando em campo, camisas listradas em preto e branco, hino
alvinegro cantado pela torcida, faixa branca na cintura, meiões cinzas e
cabelos amarelos, longos e esvoaçantes dele, Bruxa, que a todos encantava.

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