Marcelo D'Alencourt
"Nil", de funil. Era
como carinhosamente o chamávamos por ser forte e grande. Seu nome era Havani,
grande parceiro e amigo. Tive a felicidade de trabalhar com ele dois anos. Um
cara muito bacana e sincero. Uma "criança grande" sempre com o
sorriso na face, a todos alegrando. "Gaaaalo", era como me chamava. E
começávamos a rir e prosear. Havani era professor de educação física. Estava
sempre com duas ou três bolas na mão e uma legião de alunos atrás dele, rindo e
se divertindo. Virávamos todos crianças diante de sua alegria e irreverência.
Certa vez, me lembro de, no trabalho, ele recomendar o filme "Caçadores de
emoções", com Patrick Swaize, sobre aventuras de surfistas, que passava na
televisão. Confesso que não estava muito afim, mas, diante de sua insistência,
resolvi ver com ele. Impressionava a maneira como o Havani era intenso e feliz.
Comentou o filme todo e só faltou surfar nas "ondas da tv" rs. No
final, virou-se pra mim e disse: "Não é bom?!?". E se foi. O filme
realmente era bem legal. O detalhe é que ele provavelmente já tinha visto
algumas vezes a película e continuava curtindo do mesmo jeito rs. Lembro que
fizemos um jogo contra um ótimo time da região (inclusive com ex-jogadores!).
Eu jogava no meio-campo. Nosso goleiro não pode atuar e aí, pasmem, fui parar
no gol. O jogo começou e tomei logo dois gols (num falhei feio). O Havani, que
era zagueiro (excelente, por sinal) e técnico, me tirou. Fiquei muito chateado,
mas não é que deu certo. Viramos o jogo pra 4x2 e o goleiro que me substituiu
fechou o gol. No final, exaustos, cedemos o empate comemoradíssimo: 4x4! O
zagueiro-técnico chegou perto de mim e disse: "Pô, Galo, dois frangos, não
dá..." E começou a rir. Olhei pra ele e ri também. Zeramos ali. Penso
agora em quantos amigos ficaram pelo caminho como se fosse possível
recuperá-los a qualquer momento. Infelizmente não é assim. O tempo passa e é
bem cruel. Krishnamurti diz que o tempo (e o pensamento!) aniquila o homem.
Verdade! Bem, voltando aqui, saí do trabalho e, dez anos depois, em 2004,
estava na UFF fazendo meu mestrado quando ouço aqule inconfundível
"Gaaaaalo". Era ele, Havani, largo sorriso na face. Nos abraçamos,
batemos um excelente papo e trocamos telefone para marcar uma cerveja que nunca
aconteceu. Foi a última vez que o vi. Há uns três meses atrás, soube dele por
intermédio de um amigo comum. Peguei seu telefone, incluí no whatsapp e
disparei uma mensagem logo respondida por ele. Parei na mesma hora e resolvi
ligar. Ficamos mais de uma hora conversando, rindo e lembrando dos bons e
velhos tempos. Bem, como tudo termina um dia, preciso (mas não quero) fechar
essa crônica em sua homenagem. Fazer o que? Faz parte. Encerro com o longo e
forte abraço que nos demos naquele distante 2004, mas peraí, acabei de lembrar
de um grande amigo. Vou atrás dele agora ou, quem sabe, aprender a surfar...
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