terça-feira, 12 de junho de 2012

O GRAMOPHONE E A HONRA

Poncion Rodrigues.


Quem não conheceu de perto o gramofone certamente terá visto algum em fotografia antiga ou no cinema. Aquela peça de “design” esquisito, pescoçuda e de bocarra escancarada, lembrava um filhote faminto de ave pré-histórica, da qual, aos olhos de hoje, parece ter sido contemporâneo.

Foi o dinossauro dos aparelhos de som e fazia parte da decoração e do lazer nos lares das boas famílias do início do século passado. Animando saraus ou embevecendo os sentidos no doce aconchego das salas de estar, aquela conquista da “modernidade” mudou hábitos e apurou ouvidos, levando as grandes óperas italianas, os clássicos eternos e até a jocosa música popular de então, para os pequenos ambientes residenciais. Um verdadeiro milagre, pois.

Falando em coisas antigas, quem dentre os mais idosos não haverá de lembrar-se da honra? Não da palavra de sonoridade cavernosa, mas do seu significado e simbolismo, se projetando nas intenções e nas ações humanas de outrora. Quem não se lembra da tal vergonha na cara que tanta falta tem feito a este sofrido país?

O que pode passar pela cabeça de nossos jovens no processo de construção de suas personalidades quando observam a tradicional premiação da cafajestice ao seu redor? Qual instituição republicana não está corroída pelos cupins da corrupção? “Democraticamente” todos os poderes do estado e seus incontáveis tentáculos são comandados pelos códigos amorais da prostituição da ética e dos nobres valores.

Do parlamento corrupto, útero maroto que gerou nossa bizarra ordenação jurídica, não se espera as reformas que já se fazem urgentes nos anseios de todo o povo brasileiro.

Nossa legislação não pune e até afaga os corruptos, protege maternalmente os bandidos e nos vampiriza com maior carga tributária do planeta.

Merecemos de fato a Nação que temos? Que inveja de quem vivia nos tempos do gramofone! Que falta nos faz boa e velha vergonha na cara!


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