quinta-feira, 14 de junho de 2012

VERDADE OFICIOSA

Osvaldo Pereira da Silva Sousa
Bel. Ciências Contábeis e pós-graduado em Gestão Pública
A história não é uma ciência de conhecimento exato: ela busca, registra e compara os fatos sempre numa perspectiva de explicação de um determinado evento, recente ou de passado longínquo, sem, contudo, ter a pretensão de que seus registros representem uma verdade insofismável. Ao historiador lhe é confiável o esmero da pesquisa, a isenção na narrativa dos fatos, a fim de se evitar que venham à lume eventos que não correspondam à realidade, deformados, ou seja, deve estar imbuído do compromisso de retratar um fato segundo a forma como ele ocorreu. 
Mas o que pode se apresentar como incontestável ou aparentemente indubitável compromete a inconstância do conhecimento, perde-se nos propósitos da história, a qual passa a ser história contada e não pesquisada, pois o dinamismo incontrolável da informação pode apresentar situações diversas do que fora coletado, então o historiador deverá refazê-la segundo a lógica do compromisso com a verdade para atender objetivamente aos propósitos desejados, que nada mais é que alcançar o esclarecimento dos fatos.
Com o intuito de esclarecer os crimes praticados pelos agentes do estado durante a ditadura o governo brasileiro criou a comissão da verdade, cuja pauta se resume em passar a limpo a história das ditaduras e fornecer a verdade oficial. De saída, a comissão formada para tal fim já gera desconfiança quanto a sua isenção, tanto pela pauta quanto pela sua composição, uma vez que nela integra a defensora da presidenta e esta sempre alardeou ter sido vítima da ditadura militar. Ademais, antecipadamente elege os algozes. 
Na forma como foi criada faz presumir a existência de um lado opressor e um lado oprimido; aquele, representado pelos agentes do estado e responsáveis por desvios de conduta, o outro, seria apenas o pólo passivo e depositário das atrocidades. É o que se extrai das manifestações de integrantes da comissão, demonstrando a indisposição de se investigar as ações das esquerdas. Então, com este espírito sectário, foi criada a comissão da verdade. A investigação seria para apurar até onde a ditadura avançou contra aqueles valentes defensores da democracia, que lutavam insistentemente pelo bem da humanidade. Uma premissa que não resiste a uma investigação a sério.
O que é certo é que precisamente o confronto se dava entre o estado e grupos terroristas interessados no domínio deste estado, valendo-se de táticas de guerrilhas passadas pelo manual de Carlos Marighella, no qual não se previa a defesa da democracia.
Estranho que, até o momento, essas vítimas só apareceram do lado das esquerdas, embora o esquerdista Jacob Gorender, no seu livro Combate nas Trevas demonstre, com todas as letras e detalhes as ações das esquerdas, deixando claro que não se tratava de uma luta do bem contra o mal. A dúvida que surge: terá a comissão da verdade coragem de trazer isso à tona ou apresentará uma verdade que lhe convém e daí gerar uma fatura em favor das supostas vítimas? 
Ao se ouvir falar em verdade oficial, remete a autoritarismo, já que, daquele pacote de eventos apurados, carimbados, não admite a superveniência de fatos que demandam contra a verdade oficial. Governos com viés totalitários utilizam de tais artifícios para legitimar suas ações e permanecerem no poder. No mais, quanto à comissão, a ausência de historiador significa fazer troça de sua função, a quem compete escrever a história seguindo critérios puramente pedagógicos.
Por tudo o que já foi dito o tom dado pela comissão é de se buscar eventuais culpados pelas barbaridades ocorridas naquele período, desta forma faz-se crer que atende ao objetivo de satisfazer um desejo de vingança. E, por oportuno, é preciso informar e esclarecer que a redemocratização veio com a anistia, um perdão político sem o qual a transição para o regime democrático inviabilizaria a convivência pacífica dos atores do aparelho do estado com o da resistência ao estado de direito. A anistia não se presume, foi introduzida com a emenda constitucional que convocou a assembleia constituinte de 88, e qualquer tentativa de invalidação corresponde ver a história com espírito de revanche.
Já que a patética comissão foi formada e não dá para ser desfeita que seja verdadeiramente imparcial, apurem-se os desvios de condutas das ditaduras, e, com os mesmos olhos, se possam ser vistos as atrocidades praticadas pelas esquerdas, cujas digitais estão presentes em sequestros, assaltos a bancos, assassinatos, torturas, mas que, da mesma forma que os militares malfeitores, foram anistiados, afinal, a anistia se deu de forma geral, ampla e irrestrita, assim já foi decidido e reiterado pela corte maior do país e de outra forma não poderia ser, à luz da CF e da própria lei da anistia que trazem de forma cristalina essa disposição.



Um comentário:

Antonio José de Oliveira Monteiro disse...

Na verdade,Osvaldo, houve um lado opressor e um lado oprimido.O que se quer de uma comissão dessa natureza, é que se puna aqueles que mataram por tortura ou outros meios, quando, tendo sob guarda quem quer que fosse, julgaram,condenaram e executaram sem qualquer oportunidade de defesa. Isso está em conflito com todos e quaisquer princípios democráticos.