Osvaldo
Pereira da Silva Sousa
Bel.
Ciências Contábeis e pós-graduado em Gestão Pública
A história não é uma ciência de conhecimento exato: ela busca,
registra e compara os fatos sempre numa perspectiva de explicação
de um determinado evento, recente ou de passado longínquo, sem,
contudo, ter a pretensão de que seus registros representem uma
verdade insofismável. Ao historiador lhe é confiável o esmero da
pesquisa, a isenção na narrativa dos fatos, a fim de se evitar que
venham à lume eventos que não correspondam à realidade,
deformados, ou seja, deve estar imbuído do compromisso de retratar
um fato segundo a forma como ele ocorreu.
Mas o que pode se apresentar como incontestável ou aparentemente
indubitável compromete a inconstância do conhecimento, perde-se nos
propósitos da história, a qual passa a ser história contada e não
pesquisada, pois o dinamismo incontrolável da informação pode
apresentar situações diversas do que fora coletado, então o
historiador deverá refazê-la segundo a lógica do compromisso com a
verdade para atender objetivamente aos propósitos desejados, que
nada mais é que alcançar o esclarecimento dos fatos.
Com o intuito de esclarecer os crimes praticados pelos agentes do
estado durante a ditadura o governo brasileiro criou a comissão da
verdade, cuja pauta se resume em passar a limpo a história das
ditaduras e fornecer a verdade oficial. De saída, a comissão
formada para tal fim já gera desconfiança quanto a sua isenção,
tanto pela pauta quanto pela sua composição, uma vez que nela
integra a defensora da presidenta e esta sempre alardeou ter sido
vítima da ditadura militar. Ademais, antecipadamente elege os
algozes.
Na forma como foi criada faz presumir a existência de um lado
opressor e um lado oprimido; aquele, representado pelos agentes do
estado e responsáveis por desvios de conduta, o outro, seria apenas
o pólo passivo e depositário das atrocidades. É o que se extrai
das manifestações de integrantes da comissão, demonstrando a
indisposição de se investigar as ações das esquerdas. Então, com
este espírito sectário, foi criada a comissão da verdade. A
investigação seria para apurar até onde a ditadura avançou contra
aqueles valentes defensores da democracia, que lutavam
insistentemente pelo bem da humanidade. Uma premissa que não resiste
a uma investigação a sério.
O que é certo é que precisamente o confronto se dava entre o estado
e grupos terroristas interessados no domínio deste estado,
valendo-se de táticas de guerrilhas passadas pelo manual de Carlos
Marighella, no qual não se previa a defesa da democracia.
Estranho que, até o momento, essas vítimas só apareceram do lado
das esquerdas, embora o esquerdista Jacob Gorender, no seu livro
Combate nas Trevas demonstre, com todas as letras e detalhes as ações
das esquerdas, deixando claro que não se tratava de uma luta do bem
contra o mal. A dúvida que surge: terá a comissão da verdade
coragem de trazer isso à tona ou apresentará uma verdade que lhe
convém e daí gerar uma fatura em favor das supostas vítimas?
Ao se ouvir falar em verdade oficial, remete a autoritarismo, já
que, daquele pacote de eventos apurados, carimbados, não admite a
superveniência de fatos que demandam contra a verdade oficial.
Governos com viés totalitários utilizam de tais artifícios para
legitimar suas ações e permanecerem no poder. No mais, quanto à
comissão, a ausência de historiador significa fazer troça de sua
função, a quem compete escrever a história seguindo critérios
puramente pedagógicos.
Por tudo o que já foi dito o tom dado pela comissão é de se buscar
eventuais culpados pelas barbaridades ocorridas naquele período,
desta forma faz-se crer que atende ao objetivo de satisfazer um
desejo de vingança. E, por oportuno, é preciso informar e
esclarecer que a redemocratização veio com a anistia, um perdão
político sem o qual a transição para o regime democrático
inviabilizaria a convivência pacífica dos atores do aparelho do
estado com o da resistência ao estado de direito. A anistia não se
presume, foi introduzida com a emenda constitucional que convocou a
assembleia constituinte de 88, e qualquer tentativa de invalidação
corresponde ver a história com espírito de revanche.
Já que a patética comissão foi formada e não dá para ser
desfeita que seja verdadeiramente imparcial, apurem-se os desvios de
condutas das ditaduras, e, com os mesmos olhos, se possam ser vistos
as atrocidades praticadas pelas esquerdas, cujas digitais estão
presentes em sequestros, assaltos a bancos, assassinatos, torturas,
mas que, da mesma forma que os militares malfeitores, foram
anistiados, afinal, a anistia se deu de forma geral, ampla e
irrestrita, assim já foi decidido e reiterado pela corte maior do
país e de outra forma não poderia ser, à luz da CF e da própria
lei da anistia que trazem de forma cristalina essa disposição.
Um comentário:
Na verdade,Osvaldo, houve um lado opressor e um lado oprimido.O que se quer de uma comissão dessa natureza, é que se puna aqueles que mataram por tortura ou outros meios, quando, tendo sob guarda quem quer que fosse, julgaram,condenaram e executaram sem qualquer oportunidade de defesa. Isso está em conflito com todos e quaisquer princípios democráticos.
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