terça-feira, 4 de setembro de 2012

CRIANÇAS (Do canto de ninar à inocência perdida)



Poncion Rodrigues

                Nos tempos de antigamente elas brincavam. Até de “roda”, pasmem! Naqueles tempos as crianças chegavam ao disparate de ter infância. Brincavam e rodavam nas calçadas que eram delas. Suas avós contavam histórias de fadas, princesas e cavaleiros heroicos, diante de uma plateia infantil atenta e pura.
                No nosso tempo as calçadas são perigosas. As crianças nem sabem o que é o “jogo da amarelinha”, pois os encantos da infância são proibidos. As cantigas de roda foram abolidas ao longo da instalação dos tempos modernos. O mundo raivoso que nos cerca já não permite que se pense em brincadeiras. A amargura existencial ocupa o tempo vazio dos meninos e das meninas, que irão robustecer as estatísticas terríveis de suicídios na adolescência dos filhos perdidos de ninguém.
                Agora, mais do que em qualquer época, a criatura humana maltrata as suas crianças. Elas são vilipendiadas, estupradas, vendidas, espancadas e mortas pela ação dos adultos. O perigo vem das almas cruéis de pessoas frequentemente próximas ao mundo da vítima inocente, muitas vezes partícipes do seu universo doméstico.
                No Brasil, o estupro de crianças foi, até bem pouco tempo, tratado como “atentado violento ao pudor”. Ocorreram mudanças mas, ainda assim, se o agressor for menor de idade, será apenado, mesmo com homicídio associado, com punição que se constitui em severos aconselhamentos e pena de detenção de no máximo três anos em confortáveis estabelecimentos, onde a lei não permite que seja tratado de forma ríspida e contará com a atenção e o carinho de psicólogos e educadores, em encontros sistemáticos que não poderão coincidir com seus horários de lazer. Indivíduos como o tal “Champinha”, estuprador e assassino de um casal de adolescente, cumpre desumana pena de detenção prevista para três anos em hospedaria que lhe tem dado confortos que nunca sonhou em habitat rural de fome e de doenças próprias da sua imundice corporal.
                As nossas crianças enfim, além de terem roubadas suas infâncias, por imposição dos novos tempos, tem assistido aos seus algozes serem assistidos com carinho por leis que, inexplicavelmente, não serão alteradas por homens e mulheres, os quais têm o poder constitucional de promover as necessárias mudanças mas parecem habitar outro planeta. Choremos por tudo isso
               

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