Poncion Rodrigues
Nos tempos de antigamente elas
brincavam. Até de “roda”, pasmem! Naqueles tempos as crianças chegavam ao
disparate de ter infância. Brincavam e rodavam nas calçadas que eram delas.
Suas avós contavam histórias de fadas, princesas e cavaleiros heroicos, diante
de uma plateia infantil atenta e pura.
No nosso tempo as calçadas são
perigosas. As crianças nem sabem o que é o “jogo da amarelinha”, pois os
encantos da infância são proibidos. As cantigas de roda foram abolidas ao longo
da instalação dos tempos modernos. O mundo raivoso que nos cerca já não permite
que se pense em brincadeiras. A amargura existencial ocupa o tempo vazio dos
meninos e das meninas, que irão robustecer as estatísticas terríveis de
suicídios na adolescência dos filhos perdidos de ninguém.
Agora, mais do que em qualquer
época, a criatura humana maltrata as suas crianças. Elas são vilipendiadas,
estupradas, vendidas, espancadas e mortas pela ação dos adultos. O perigo vem
das almas cruéis de pessoas frequentemente próximas ao mundo da vítima
inocente, muitas vezes partícipes do seu universo doméstico.
No Brasil, o estupro de crianças
foi, até bem pouco tempo, tratado como “atentado violento ao pudor”. Ocorreram
mudanças mas, ainda assim, se o agressor for menor de idade, será apenado,
mesmo com homicídio associado, com punição que se constitui em severos aconselhamentos e pena de
detenção de no máximo três anos em confortáveis estabelecimentos, onde a lei
não permite que seja tratado de forma ríspida e contará com a atenção e o carinho
de psicólogos e educadores, em encontros sistemáticos que não poderão coincidir
com seus horários de lazer. Indivíduos como o tal “Champinha”, estuprador e
assassino de um casal de adolescente, cumpre desumana pena de detenção prevista
para três anos em hospedaria que lhe tem dado confortos que nunca sonhou em
habitat rural de fome e de doenças próprias da sua imundice corporal.
As nossas crianças enfim, além
de terem roubadas suas infâncias, por imposição dos novos tempos, tem assistido
aos seus algozes serem assistidos com carinho por leis que, inexplicavelmente,
não serão alteradas por homens e mulheres, os quais têm o poder constitucional
de promover as necessárias mudanças mas parecem habitar outro planeta. Choremos
por tudo isso
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