sexta-feira, 7 de setembro de 2012

DEMOCRACIA. O QUE É ISSO MEUS CAMARADAS?




A. J. de O. Monteiro


            O conceito de democracia, como sabemos, foi formulado na Grécia antiga, mais precisamente em Atenas, onde o “povo” se reunia em praças para deliberar sobre ações de governo em prol do “povo” e do estado como um todo. É possível então inferir que democracia é o governo do povo, ou seja, é o regime político onde o povo discute suas demandas, delibera e o governo executa conforme o mandamus popular, certo? Não! Pois o direito votar, naquela sociedade, era dado apenas aos cidadãos atenienses (filhos e netos de atenienses), excluindo-se as mulheres, os mestiços e os escravos. Como se vê, o berço da democracia embalou uma mentira.

            No resto do mundo antigo o poder era exercido pelas classes nobres em associação com o clero (cada país ou reino, tinha sua própria religião com seu respectivo clero). Nessas sociedades o povo era totalmente excluído de qualquer processo decisório. O povo era destituído de qualquer direito e sobrecarregado de deveres e obrigações, inclusive de sustentar e servir à nobreza e ao clero e defender o estado quando em risco. Esse modelo vigorou por toda a idade média até que lá pelo final do século dezoito começaram pipocar revoltas populares violentas e sanguinárias que visavam destituir do poder as classes até então dominantes. A revolução francesa foi o principio e a inspiração para o que ocorreu em diversos países do mundo ocidental. Outros reinos puseram suas reais barbas de molho e, pensando em preservar seus nobres pescoços, trataram de promover reformas que propiciassem ao povo a ilusão do poder. Chegamos à democracia? Negativo. Nos reinos onde se fizeram tais reformas, o povo ficou mesmo – e contentou-se -  com a ilusão do poder, como ocorre até hoje. Naqueles onde a luta armada derrubou reinados e desarticulou o clero, os líderes revolucionários constituíram novas castas dominantes e “tudo ficou como antes no castelo de abrantes”.

            As populações cresceram, o desenvolvimento científico tornou as sociedades mais complexas e as formas de governo “evoluíram” para a chamada democracia representativa, onde o povo escolhe seus representantes pelo sistema do “voto livre” e estes, reunidos em câmaras (pena que as do Brasil não sejam de gás), deliberam em nome do povo e, em nome do povo “fiscalizam” o governo também eleito pelo mesmo sistema. Daí relativizaram a democracia, adjetivada conforme os interesses das elites ( no Brasil, país diferenciado e bastante inovador, criaram a democracia escrachada).

            Não posso estender-me muito sobre o tema – a democracia – devido minha limitação cultural a respeito. Temo perder o fio da meada. O que quis mesmo, com as considerações acima, foi estabelecer um prólogo para abordar a campanha eleitoral que corre solta Brasil a fora.

            É de doer na alma, nos ouvidos e nos olhos, assistir o tal horário eleitoral gratuito onde os candidatos ao próximo pleito municipal que se propõem nos governar e representar desfilam suas caras ou se fazem representar por outras caras e alardeiam suas vãs promessas com suas vozes ou com as vozes de outros.

            É de doer na alma concluir, com tristeza e desalento, como aquilo que deveria ser a maior expressão da democracia – processo eleitoral – é tratado com deboche por candidatos ambíguos e desqualificados que se apresentam cinicamente para nos governar e representar. A fauna desfila ante nossos olhos e reverberam em nossos ouvidos propostas que vão da bizarrice à cretinice. Quando não são eles próprios os atores, delegam a missão de divulgar suas propostas imprecisas e ilusórias e escarnecer das propostas dos adversários, a humoristas batidos e ultrapassados que no melhor estilo do humor “trash”, importado do Ceará, apresentam esquetes cansativas e desenxabidas com as quais tentam, em vão, humanizar os candidatos que lhes pagam. A quem eles (os candidatos) pensam atingir com essas palhaçadas? A quem tem o mínimo de discernimento certamente não é. O que sei é que atingem e ferem mortalmente o que resta de dignidade no povo já tão maltratado, tão sem esperança...

            Estou cansado, muito cansado e liberto meu grito à maneira de Álvaro Pacheco: PUTA QUE OS PARIU! Quem quiser que o ouça...

            Hoje é 7 de setembro, reflitamos.   

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