A. J. de O. Monteiro
O
conceito de democracia, como sabemos, foi formulado na Grécia antiga, mais
precisamente em Atenas, onde o “povo” se reunia em praças para deliberar sobre
ações de governo em prol do “povo” e do estado como um todo. É possível então
inferir que democracia é o governo do povo, ou seja, é o regime político onde o
povo discute suas demandas, delibera e o governo executa conforme o mandamus
popular, certo? Não! Pois o direito votar, naquela sociedade, era dado apenas
aos cidadãos atenienses (filhos e netos de atenienses), excluindo-se as
mulheres, os mestiços e os escravos. Como se vê, o berço da democracia embalou
uma mentira.
No
resto do mundo antigo o poder era exercido pelas classes nobres em associação
com o clero (cada país ou reino, tinha sua própria religião com seu respectivo
clero). Nessas sociedades o povo era totalmente excluído de qualquer processo
decisório. O povo era destituído de qualquer direito e sobrecarregado de
deveres e obrigações, inclusive de sustentar e servir à nobreza e ao clero e
defender o estado quando em risco. Esse modelo vigorou por toda a idade média
até que lá pelo final do século dezoito começaram pipocar revoltas populares
violentas e sanguinárias que visavam destituir do poder as classes até então
dominantes. A revolução francesa foi o principio e a inspiração para o que
ocorreu em diversos países do mundo ocidental. Outros reinos puseram suas reais
barbas de molho e, pensando em preservar seus nobres pescoços, trataram de
promover reformas que propiciassem ao povo a ilusão do poder. Chegamos à
democracia? Negativo. Nos reinos onde se fizeram tais reformas, o povo ficou
mesmo – e contentou-se - com a ilusão do
poder, como ocorre até hoje. Naqueles onde a luta armada derrubou reinados e
desarticulou o clero, os líderes revolucionários constituíram novas castas
dominantes e “tudo ficou como antes no castelo de abrantes”.
As
populações cresceram, o desenvolvimento científico tornou as sociedades mais
complexas e as formas de governo “evoluíram” para a chamada democracia
representativa, onde o povo escolhe seus representantes pelo sistema do “voto
livre” e estes, reunidos em câmaras (pena que as do Brasil não sejam de gás),
deliberam em nome do povo e, em nome do povo “fiscalizam” o governo também
eleito pelo mesmo sistema. Daí relativizaram a democracia, adjetivada conforme
os interesses das elites ( no Brasil, país diferenciado e bastante inovador,
criaram a democracia escrachada).
Não
posso estender-me muito sobre o tema – a democracia – devido minha limitação
cultural a respeito. Temo perder o fio da meada. O que quis mesmo, com as
considerações acima, foi estabelecer um prólogo para abordar a campanha
eleitoral que corre solta Brasil a fora.
É
de doer na alma, nos ouvidos e nos olhos, assistir o tal horário eleitoral
gratuito onde os candidatos ao próximo pleito municipal que se propõem nos
governar e representar desfilam suas caras ou se fazem representar por outras
caras e alardeiam suas vãs promessas com suas vozes ou com as vozes de outros.
É
de doer na alma concluir, com tristeza e desalento, como aquilo que deveria ser
a maior expressão da democracia – processo eleitoral – é tratado com deboche
por candidatos ambíguos e desqualificados que se apresentam cinicamente para
nos governar e representar. A fauna desfila ante nossos olhos e reverberam em
nossos ouvidos propostas que vão da bizarrice à cretinice. Quando não são eles
próprios os atores, delegam a missão de divulgar suas propostas imprecisas e
ilusórias e escarnecer das propostas dos adversários, a humoristas batidos e
ultrapassados que no melhor estilo do humor “trash”, importado do Ceará,
apresentam esquetes cansativas e desenxabidas com as quais tentam, em vão,
humanizar os candidatos que lhes pagam. A quem eles (os candidatos) pensam
atingir com essas palhaçadas? A quem tem o mínimo de discernimento certamente
não é. O que sei é que atingem e ferem mortalmente o que resta de dignidade no
povo já tão maltratado, tão sem esperança...
Estou
cansado, muito cansado e liberto meu grito à maneira de Álvaro Pacheco: PUTA
QUE OS PARIU! Quem quiser que o ouça...
Hoje
é 7 de setembro, reflitamos.
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