terça-feira, 16 de outubro de 2012

DEIFICAÇÕES X DEMONIZAÇÕES




A. J. de O. Monteiro

        A revista Veja, em sua edição nº 2.290, de 10 de outubro de 2012, traz em sua capa a reprodução de uma fotografia tamanho 3x4 do Ministro do STF, Joaquim Barbosa e a seguinte manchete: “O MENINO POBRE QUE MUDOU O BRASIL.” A capa, a manchete e a matéria em si, me levaram à reflexão sobre uma prática muito comum da imprensa de construir heróis, deificar ou demonizar pessoas ou instituições. As razões para esse comportamento devem ser estudadas por especialista, o que não é o meu caso, mas isso não me impede de conjecturar: Seria por razões econômicas, aproveitando um assunto acompanhado com muito interesse pela sociedade e com isso alavancar a venda da publicação? Seria para sedimentar na sociedade a ideologia que defende? Não sei, talvez as duas coisas juntas e, talvez outras mais, não sei.
     A História recente do Brasil oferece vários exemplos dessa prática os quais, creio, ainda estão bem nítidos em nossas memórias. Heróis construídos nos mais diversos ramos da atividade humana. Entre artistas e esportistas, a muitos são outorgados títulos nobiliárquicos (reis, rainhas, príncipes e princesas) e alguns, picados pela mosca azul, já chegaram a posar em trajes reais – manto, cetro e coroa. Vocês sabem de quem estou falando.

     Na política, onde os interesses são mais abrangentes e os conflitos ideológicos e partidários temperam as relações, os exemplos são mais fartos. Constroem heróis, deificam ou demonizam pessoas segundo critérios nada republicanos (para utilizar a expressão preferida por nove entre dez analistas políticos). Leonel Brizola foi imolado politicamente e cruelmente perseguido pelo mais poderoso grupo midiático do Brasil; Tancredo Neves, astuto político da escola mineira e idealizador desse modelo de governabilidade que consiste em formar a tal base aliada cooptando o maior número de partidos políticos, em grande parte legendas de aluguel que se aliam ao governo em troca das benesses do poder, foi deificado. Deu no que deu; Fernando Collor não foi deificado mas elevado à categoria de herói, o caçador de marajás, e deu no que deu. Hoje está demonizado pela mesma mídia que quase o elevou ao Olimpo. Os exemplos são muitos e não vou enumerá-los todos, pois se tornaria cansativo, mas, dois, não posso deixar de mencionar: Demóstenes Torres, esse, que apontava com seu dedo sujo os corruptos do Congresso Nacional e que, em pouco tempo, passou de herói a vilão e; Roberto Jefferson, que denunciou o esquema do qual se locupletava e por isso, permissivamente, é considerado herói e vilão pela mídia.
     Mas, retomando a matéria de Veja, pergunto: O Ministro Joaquim Barbosa mudou o Brasil em quê? A corrupção vai acabar no Brasil? Os corruptos, passados e presentes serão de fato punidos? A própria revista responde em matéria associada, sob o título “LUGAR DE CORRUPTOS”, onde informa que “Nos estados Unidos 1.000 americanos são condenados por ano nas cortes federais”. Ora, se no país que dizem possuir a legislação mais severa para punir corruptos produz anualmente essa quantidade de corruptos, é de se depreender que a corrupção é uma prática inextinguível. Vale acrescentar que nessa matéria, a revista sugere um tipo de cadeia especialmente construída para abrigar corruptos. Bem ao seu estilo, já que ela julgou e condenou os réus do “mensalão” bem antes do Ministério Público oferecer denúncia ao STF.
     O Ministro Barbosa tem uma trajetória profissional brilhante e merece nossa admiração, mas sua atuação no Supremo é, nada mais nada menos, cumprir com as obrigações constitucionais do cargo que ocupa, da mesma forma que os demais membros daquela corte. Apenas se espera que o façam em estrita observância à lei e respeitando a sociedade a que servem.
     Quando pensava já haver concluído o texto, Manoel Emílio Burlamarqui de Oliveira, o Manoel Andante, me envia o seguinte “mail”: “Um belo exemplo de jornalismo de esgoto praticado pela Veja: Num texto de Reinaldo Azevedo, um dos mais destacados exemplos desse jornalismo hipócrita da revista, escrito em 2009, o Ministro Barbosa, do Supremo, é desconstruído por que votou contra os interesses da revista. Compare com a capa de 2012. Ou seja: vote com os interesses da revista e você é um herói que irá redimir o país. Vote contra e você é um esquerdista corrupto! Revista VEJA, a revista mais hipócrita do planeta!! Mas também né? Ele é escrita e destinada ao povo da classe média burra...”

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