terça-feira, 27 de novembro de 2012

MAS QUE CALOR



A. J. de O. Monteiro
Todo ano é a mesma coisa. A temperatura nos meses chamados B-R-O-BRÓ oscila em torno dos 40º Celsius e a população reclamando. Aonde se chega o assunto é o mesmo, o insuportável calor de Teresina. Com um gesto, um olhar, um assovio as pessoas procuram demonstrar a quem estiver mais próximo, seu desconforto. Os mais comunicativos, mesmo que não te conheçam, fazem algum comentário esperando assentimento: “Nossa, esse calor está de rachar, está bem pior que no ano passado”, e outros do tipo. Nada disso, o calor é suportável, caso contrário ninguém viveria mais aqui; também não está pior que no ano anterior, está a mesma coisa e para comprovar isso basta pesquisar dados meteorológicos disponíveis no INMET/MAPA para constatar que as temperaturas alcançadas nessa época do ano se repetem ano após ano.
                É possível que a sensação térmica se torne a cada ano mais alta, é possível e aceitável, pois o crescimento vertical da cidade vem diminuindo a circulação do ar e acumulando calor em estruturas de concreto, além da grande quantidade de veículos em circulação produzindo calor, contribuindo para aumentar essa sensação.
                A questão é que, nós teresinenses, temos vergonha do nosso calor como se esse fenômeno não fosse natural e sim uma vergonha. É como se o calor dos trópicos tornasse nossa cidade inferior. Costumamos aceitar que visitantes de qualquer lugar, até de lugares tão quentes quanto Teresina, façam comentário preconceituosos como se a climatologia local fosse um fator de desfavorecimento do povo. Às vezes, até rimos das piadas de mau gosto que esses visitantes, sem o menor respeito por nossos valores contam as gargalhadas. Precisamos reagir a essas provocações mostrando a essas pessoas que temos amor e nos orgulhamos de nossa cidade e que não somos apenas essa “gente simples, humilde entre os humildes do Brasil”, como o hino que se propõe exaltar-nos, equivocadamente nos define. Afinal, como diz um velho ditado popular, “quem muito se abaixa o fundo aparece”.
                Não quero com isso dizer que o calor excessivo não causa desconforto, causa sim, tanto quanto o frio intenso, mas esse desconforto pode ser neutralizado por meios artificiais disponíveis e para isso foram inventados ventiladores, condicionadores de ar, climatizadores, etc. É claro que nem sempre podemos desfrutar desses confortos, mas, ainda assim, uma cervejinha gelada ou um bom refresco de limão ameniza.
                Mas, o calor não é nada, convivemos com ele normalmente. O grande problema desta região é a seca que ciclicamente - portanto previsivelmente – se abate sobre seus habitantes, devastando roças e lavouras, dizimando rebanhos, separando famílias, gerando órfãos e viúvas de pais e maridos vivos. Isso sim é motivo de vergonha porquanto elegemos governantes insensíveis que nada fazem para prevenir tais flagelos. Tecnologia para isso existe e vários estudiosos do semiárido já demonstraram que com medidas simples é possível neutralizar os cruéis efeitos da seca no Nordeste brasileiro. Alguns países já superaram esse problema, mas os políticos que elegemos não querem acabar com a festança que as verbas emergenciais liberadas pela União lhes proporcionam.
Isso sim é de causar vergonha, o calor não.

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