A. J. de O. Monteiro
Todo ano é a
mesma coisa. A temperatura nos meses chamados B-R-O-BRÓ oscila em torno dos 40º
Celsius e a população reclamando. Aonde se chega o assunto é o mesmo, o
insuportável calor de Teresina. Com um gesto, um olhar, um assovio as pessoas
procuram demonstrar a quem estiver mais próximo, seu desconforto. Os mais
comunicativos, mesmo que não te conheçam, fazem algum comentário esperando
assentimento: “Nossa, esse calor está de rachar, está bem pior que no ano
passado”, e outros do tipo. Nada disso, o calor é suportável, caso contrário
ninguém viveria mais aqui; também não está pior que no ano anterior, está a
mesma coisa e para comprovar isso basta pesquisar dados meteorológicos
disponíveis no INMET/MAPA para constatar que as temperaturas alcançadas nessa
época do ano se repetem ano após ano.
É
possível que a sensação térmica se torne a cada ano mais alta, é possível e
aceitável, pois o crescimento vertical da cidade vem diminuindo a circulação do
ar e acumulando calor em estruturas de concreto, além da grande quantidade de
veículos em circulação produzindo calor, contribuindo para aumentar essa
sensação.
A
questão é que, nós teresinenses, temos vergonha do nosso calor como se esse
fenômeno não fosse natural e sim uma vergonha. É como se o calor dos trópicos
tornasse nossa cidade inferior. Costumamos aceitar que visitantes de qualquer
lugar, até de lugares tão quentes quanto Teresina, façam comentário
preconceituosos como se a climatologia local fosse um fator de desfavorecimento
do povo. Às vezes, até rimos das piadas de mau gosto que esses visitantes, sem
o menor respeito por nossos valores contam as gargalhadas. Precisamos reagir a
essas provocações mostrando a essas pessoas que temos amor e nos orgulhamos de
nossa cidade e que não somos apenas essa “gente simples, humilde entre os
humildes do Brasil”, como o hino que se propõe exaltar-nos, equivocadamente nos
define. Afinal, como diz um velho ditado popular, “quem muito se abaixa o fundo
aparece”.
Não
quero com isso dizer que o calor excessivo não causa desconforto, causa sim,
tanto quanto o frio intenso, mas esse desconforto pode ser neutralizado por
meios artificiais disponíveis e para isso foram inventados ventiladores, condicionadores
de ar, climatizadores, etc. É claro que nem sempre podemos desfrutar desses
confortos, mas, ainda assim, uma cervejinha gelada ou um bom refresco de limão
ameniza.
Mas,
o calor não é nada, convivemos com ele normalmente. O grande problema desta
região é a seca que ciclicamente - portanto previsivelmente – se abate sobre
seus habitantes, devastando roças e lavouras, dizimando rebanhos, separando
famílias, gerando órfãos e viúvas de pais e maridos vivos. Isso sim é motivo de
vergonha porquanto elegemos governantes insensíveis que nada fazem para
prevenir tais flagelos. Tecnologia para isso existe e vários estudiosos do
semiárido já demonstraram que com medidas simples é possível neutralizar os
cruéis efeitos da seca no Nordeste brasileiro. Alguns países já superaram esse
problema, mas os políticos que elegemos não querem acabar com a festança que as
verbas emergenciais liberadas pela União lhes proporcionam.
Isso sim é de
causar vergonha, o calor não.
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