A. J. de O. Monteiro
Não
temo, ao escrever artigos memorialistas, ser taxado de saudosista pois minha
memória remota está repleta de boas lembranças dos 1960/70, vividos nesta
querida e quente Teresina. Além disso, fatos e atos do presente vira e mexe me
remetem àqueles tempos de infância e adolescência...
Agora
mesmo, durante os dois grandes cortes no abastecimento de água, vieram-me à
lembrança as agruras que nossos pais viviam, naqueles anos, com a crônica falta
do “precioso líquido” nos canos do IAEE (Instituto de Águas e Energia Elétrica),
cuja água, quando “vinha”, era captada em uma cisterna cavada até o nível do
cano da rua. Mas, mesmo assim, era raro dispor-se da água pública. O mais comum
era comprar água de poços particulares.
O
transporte da água dos poços às residências, e esse é o tema, era feito em “cambos”
que consistia em um pedaço de madeira resistente que os carregadores
atravessavam nas costas, trazendo em suas extremidades duas latas de querosene “jacaré”,
presas por cordas. Esse tipo de transporte ocasionava certo prejuízo ao
comprador devido ao natural balanço do caminhar do carregador alguma quantidade
de água ficava pelo caminho. Imaginem quantas “viagens” eram necessárias para
encher uma cisterna de 2.000m3 de água.
Por
sua vez, os carros pipas abasteciam apenas as repartições públicas e, é claro,
as residências das “autoridades” de então.
Havia
também o transporte por ancoretas (espécie de barril de madeira de lei), feito
em lombo de jumentos equipados com cangalhas apropriadas. Nesse caso o produto
era encarecido pois, além da água, o consumidor tinha que pagar o transporte ao
dono do conjunto. Por isso algumas famílias mais abastadas trataram de adquirir
seu próprio conjunto (o semovente, a cangalha e, no mínimo, duas ancoretas).
Via de regra mantinham um moleque de recados para tocar o jumento e fazer
outras tarefas domésticas em troca de casa, comida, vestimenta e, às vezes,
estudo. Era próprio da época.
Mas
isso, que era um tormento para os donos e donas de casa, para nós, a criançada,
era uma verdadeira festa. Com cambos
improvisados em tamanhos adequados às nossas forças, íamos aos poços pegar água
e participar do furdunço. O piseiro, a gritaria e as brigas em torno da enorme
torneira do poço eram o mote das conversas da turma, à noite, nas esquinas da
rua, enquanto os pais ouviam a “Voz do Brasil”, pensando nas agruras do dia
seguinte. As famílias eram grandes e a água das cisternas não durava muito.
Hoje,
não confiando nas ações de governo para corrigir definitivamente os problemas que
provocaram os tais cortes no abastecimento ou adotar medidas preventivas para
evitá-los, vou recorrer ao “Google” para saber onde comprar o kit água
(jumento, cangalha e ancoretas)...
*Publicada originalmente em 02/11/2012
*Publicada originalmente em 02/11/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário