quinta-feira, 8 de novembro de 2012

QUERIDA MÍDIA




A. J. de O. Monteiro


             Vi no “Facebook”, a seguinte postagem: “Querida mídia, o Furacão Sandy nos destruiu também.                    Atenciosamente, Cuba e Haiti”.
                Imaginei, então, a seguinte resposta da mídia brasileira, representada por sua maior expressão:
                Rio de Janeiro, 08 de novembro de 2012.
                Desprezíveis Republiquetas,
             Recebi sua insidiosa missiva, na qual, em tom de protesto, vocês reclamam da falta de isonomia entre a cobertura da passagem do Furacão Sandy por suas miseráveis ilhotas em relação àquela dada à apoteose do mesmo nos EE. UU.
                É muita pretensão de republiquetas miseráveis como vocês aspirarem que uma respeitável rede como a nossa dedique rentáveis minutos de nossos telejornais para mostrar escombros de escombros. Isso mesmo! Vocês já eram escombros mesmo antes da passagem do Sandy por seus insignificantes territórios, vitimando apenas algumas dezenas de seu povinho sem jaça.
                Vocês acham, por acaso, que iríamos deslocar nosso mais charmoso âncora para cobrir o merecido castigo que a mãe natureza lhes infligiu? Ah, tem graça! Nosso apolíneo Bill Bonner trajando seu elegante sobretudo inglês e com seu lindo cachecol italiano, narrando, com sua bela voz, suas merecidas desventuras tendo como pano de fundo restos de velhos carros empilhados pelas ruas lamacentas com seus velhos casarões carcomidos pelo tempo e por balas revolucionárias e, pior, rodeado de horrendas crianças esfarrapadas a tocar com mãos sujas a impecável indumentária do nosso digno repórter.
                Comparemos, esse mesmo repórter, com a mesma roupa, com sua soberba postura tendo ao fundo a portentosa silhueta de Nova York e expelindo fumacinha da boca ao falar. Ah, tem graça comparar? Nesse cenário é possível aspirar algum prêmio internacional de reportagem, no de vocês, estaríamos expostos ao ridículo.
                Contentem-se com os flashes que fizemos, com muito esforço, apenas para preparar nossos telespectadores para o “gran finale” do agora maléfico Sandy castigando cruelmente as costas do grande irmão do Norte.
                Como consolo, informo a vocês que a cobertura que lhes dedicamos tem a mesma proporção da que temos dedicado à seca que castiga o Nordeste brasileiro. A mesma! Pois igualmente não queremos comprometer nossa estética hollywoodiana mostrando legiões de famélicos desdentados, com pele cinzenta e encarquilhada perambulando pela caatinga ou chorando abraçados a carcaças de vaquinhas mimosas que lhes garantiam o leite da enorme prole. Também quem mandou fornicar tanto?
                Isto posto, não me perturbem mais com suas lamúrias.
                Com desprezo,
                Vênus Platinada.
                 Plim-Plim

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