A. J. de O. Monteiro
Vi no “Facebook”, a seguinte
postagem: “Querida mídia, o Furacão Sandy nos destruiu também. Atenciosamente,
Cuba e Haiti”.
Imaginei,
então, a seguinte resposta da mídia brasileira, representada por sua maior
expressão:
Rio
de Janeiro, 08 de novembro de 2012.
Desprezíveis
Republiquetas,
Recebi
sua insidiosa missiva, na qual, em tom de protesto, vocês reclamam da falta de
isonomia entre a cobertura da passagem do Furacão Sandy por suas miseráveis
ilhotas em relação àquela dada à apoteose do mesmo nos EE. UU.
É
muita pretensão de republiquetas miseráveis como vocês aspirarem que uma respeitável
rede como a nossa dedique rentáveis minutos de nossos telejornais para mostrar
escombros de escombros. Isso mesmo! Vocês já eram escombros mesmo antes da
passagem do Sandy por seus insignificantes territórios, vitimando apenas algumas dezenas de
seu povinho sem jaça.
Vocês
acham, por acaso, que iríamos deslocar nosso mais charmoso âncora para cobrir o
merecido castigo que a mãe natureza lhes infligiu? Ah, tem graça! Nosso
apolíneo Bill Bonner trajando seu elegante sobretudo inglês e com seu lindo
cachecol italiano, narrando, com sua bela voz, suas merecidas desventuras tendo
como pano de fundo restos de velhos carros empilhados pelas ruas lamacentas
com seus velhos casarões carcomidos pelo tempo e por balas revolucionárias e,
pior, rodeado de horrendas crianças esfarrapadas a tocar com mãos sujas a
impecável indumentária do nosso digno repórter.
Comparemos,
esse mesmo repórter, com a mesma roupa, com sua soberba postura tendo ao fundo
a portentosa silhueta de Nova York e expelindo fumacinha da boca ao falar. Ah,
tem graça comparar? Nesse cenário é possível aspirar algum prêmio internacional
de reportagem, no de vocês, estaríamos expostos ao ridículo.
Contentem-se
com os flashes que fizemos, com muito esforço, apenas para preparar nossos
telespectadores para o “gran finale” do agora maléfico Sandy castigando
cruelmente as costas do grande irmão do Norte.
Como
consolo, informo a vocês que a cobertura que lhes dedicamos tem a mesma
proporção da que temos dedicado à seca que castiga o Nordeste brasileiro. A
mesma! Pois igualmente não queremos comprometer nossa estética hollywoodiana mostrando
legiões de famélicos desdentados, com pele cinzenta e encarquilhada perambulando
pela caatinga ou chorando abraçados a carcaças de vaquinhas mimosas que lhes
garantiam o leite da enorme prole. Também quem mandou fornicar tanto?
Isto
posto, não me perturbem mais com suas lamúrias.
Com
desprezo,
Vênus
Platinada.
Plim-Plim
Plim-Plim
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