quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

REVESTRÉS



Wilson Seraine

Ariano Suassuna, que dispensa apresentações, sempre, quando alguém fala em cantoria, remete-se ao cantador piauiense Domingos Fonseca, considerado, ainda hoje, o maior de todos os tempos na arte. Esse cantador, depois de ser chamado de negro e pobre, fez uma sextilha, citada por Suassuna como uma das grandes:

Falar de pobreza e cor
É um grande orgulho seu
Morra eu e morra o rico
Enterrem o rico e eu
Que depois ninguém separa
O pó do rico do meu

Negro e pobre na década de 1910, era quase pedir pra morrer, como de fato acontecia com frequência no sertão nordestino. Mas, vai que nasce um indivíduo com estas três características negro, pobre e sertanejo que vingou, contrariando as estatísticas (acho por que era sexta feira 13).

Nascido no longínquo Exu, terras povoadas pela tribo da nação Cariri, os Ançus, daí a origem do nome da cidade, Gonzaga teve a infância como toda crianças pobre do sertão, brincadeiras e trabalho na roça. Mas um diferencial o acompanharia por todo o tempo, seu Pai, Januário.  Seu Januário era tocador, afinador e consertador de fole, assim com interesse próprio, o menino Gonzaga começo muito novo na arte da música. Aos doze anos já tocava sozinho nos “sambas” da região. Adolescente, fugiu com vergonha de uma surra que levou dos pais. Foi para o Exercito em Fortaleza, quase dez anos depois, já fora do Exercito, tenta a vida tocando nos cabarés. Parece comum esta história para muitos nordestinos, mas Luiz Gonzaga mostrou que era diferente.


Como Ele mesmo dizia: “Deus quando marca um não perde de vista”. Realmente não perdeu de vista, literalmente. Basta ver os números de Luiz Gonzaga, para afirmar, sem paixão, que esse é de longe, mas bota longe nisso, o maior nome da música brasileira em todos os tempos. Rapidamente: são mais de 600 músicas gravadas em cerca de 50 ritmos diferentes. É o artista brasileiro mais constante em trabalhos científicos (monografias, dissertações e teses) é o mais biografado também (são mais de 30 livros sobre o Véi). Recordista isolado em números de shows pelo País afora e em venda de discos também, o que lhe rendeu o Prêmio Niper de Ouro, prêmio este que nos EUA foi dado somente a outro rei, Elvis Presley. Isso sem contar com a principal característica de Gonzaga, a criação.

Vejam os principais movimentos musicais do País: a jovem guarda veio do iê-iê-iê dos Beatles, a bossa nova, depois da revolucionária batida no violão de João Gilberto na música “Chega de Saudade”, não houve lá muitas novidades. A tropicália, movimento da contra cultura, com suas guitarras estridentes, foi um pouco mais autentico, vista que batia de frente com o momento atual no País. Mas, uma coisa tinham em comum, foi um grupo de pessoas que fizeram tais movimentos, isto é, o que difere do “movimento Gonzagão”. O Lua criou, sozinho, as harmonia (melodia, batida,...) do Baião, do Forró, do Aboio, do Xote e do Xaxado. Só os gênios criam os mortais, em geral, copiam.

Agora, chega o ano do centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, todo nordestino, e por que não o País inteiro, tem por obrigação, mas do que em anos passados, reverenciar a memória e a obra desse negro, pobre e nordestino, que fez de sua música e sua voz o canto de apelo de um povo sofrido com o avassalo da seca. Que fez de sua música o abre alas para mostrar ao mundo a beleza e o orgulho que devemos ter de sermos nordestinos. Que cantou a nossa fauna, flora e ecossistemas, os padres e os beatos, os cangaceiros, nossas lendas, folclore e culinária. Que decantou, sobretudo, a beleza, o encantamento e a força do homem e da mulher nordestinos.

Desta, é salutar lembra os verso em décima do poeta Edvaldo Santos da cidade de Pedreira:

Gonzaga cantou o sertão
E tudo que nele existe
Cantou o matuto triste
Fazendo um risco no chão
Cantou a dor e aflição
Que a seca sempre causou
Cantou a fogo pagou
E o jumento nosso irmão
Ninguém cantou o sertão
Do jeito que Gonzaga cantou



Wilson Seraine é professor e membro efetivo do Conselho Estadual de Cultura do Piauí, apresenta na FM Cultura de Teresina o programa “A HORA DO REI DO BAIÃO”.

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