Wilson Seraine
Ariano Suassuna, que dispensa apresentações,
sempre, quando alguém fala em cantoria, remete-se ao cantador piauiense Domingos
Fonseca, considerado, ainda hoje, o maior de todos os tempos na arte. Esse
cantador, depois de ser chamado de negro e pobre, fez uma sextilha, citada por
Suassuna como uma das grandes:
Falar
de pobreza e cor
É
um grande orgulho seu
Morra
eu e morra o rico
Enterrem
o rico e eu
Que
depois ninguém separa
O
pó do rico do meu
Negro e pobre na década de 1910, era quase
pedir pra morrer, como de fato acontecia com frequência no sertão nordestino.
Mas, vai que nasce um indivíduo com estas três características negro, pobre e
sertanejo que vingou, contrariando as estatísticas (acho por que era sexta
feira 13).
Nascido no longínquo Exu, terras povoadas
pela tribo da nação Cariri, os Ançus, daí a origem do nome da cidade, Gonzaga
teve a infância como toda crianças pobre do sertão, brincadeiras e trabalho na
roça. Mas um diferencial o acompanharia por todo o tempo, seu Pai,
Januário. Seu Januário era tocador,
afinador e consertador de fole, assim com interesse próprio, o menino Gonzaga
começo muito novo na arte da música. Aos doze anos já tocava sozinho nos
“sambas” da região. Adolescente, fugiu com vergonha de uma surra que levou dos
pais. Foi para o Exercito em Fortaleza, quase dez anos depois, já fora do
Exercito, tenta a vida tocando nos cabarés. Parece comum esta história para
muitos nordestinos, mas Luiz Gonzaga mostrou que era diferente.
Como Ele mesmo dizia: “Deus quando marca um
não perde de vista”. Realmente não perdeu de vista, literalmente. Basta ver os
números de Luiz Gonzaga, para afirmar, sem paixão, que esse é de longe, mas
bota longe nisso, o maior nome da música brasileira em todos os tempos.
Rapidamente: são mais de 600 músicas gravadas em cerca de 50 ritmos diferentes.
É o artista brasileiro mais constante em trabalhos científicos (monografias,
dissertações e teses) é o mais biografado também (são mais de 30 livros sobre o
Véi). Recordista isolado em números de shows pelo País afora e em venda de
discos também, o que lhe rendeu o Prêmio Niper de Ouro, prêmio este que nos EUA
foi dado somente a outro rei, Elvis Presley. Isso sem contar com a principal
característica de Gonzaga, a criação.
Vejam os principais movimentos musicais do
País: a jovem guarda veio do iê-iê-iê dos Beatles, a bossa nova, depois da
revolucionária batida no violão de João Gilberto na música “Chega de Saudade”,
não houve lá muitas novidades. A tropicália, movimento da contra cultura, com
suas guitarras estridentes, foi um pouco mais autentico, vista que batia de
frente com o momento atual no País. Mas, uma coisa tinham em comum, foi um
grupo de pessoas que fizeram tais movimentos, isto é, o que difere do
“movimento Gonzagão”. O Lua criou, sozinho, as harmonia (melodia, batida,...)
do Baião, do Forró, do Aboio, do Xote e do Xaxado. Só os gênios criam os
mortais, em geral, copiam.
Agora, chega o ano do centenário de
nascimento de Luiz Gonzaga, todo nordestino, e por que não o País inteiro, tem
por obrigação, mas do que em anos passados, reverenciar a memória e a obra
desse negro, pobre e nordestino, que fez de sua música e sua voz o canto de
apelo de um povo sofrido com o avassalo da seca. Que fez de sua música o abre
alas para mostrar ao mundo a beleza e o orgulho que devemos ter de sermos
nordestinos. Que cantou a nossa fauna, flora e ecossistemas, os padres e os
beatos, os cangaceiros, nossas lendas, folclore e culinária. Que decantou,
sobretudo, a beleza, o encantamento e a força do homem e da mulher nordestinos.
Desta, é salutar lembra os verso em décima
do poeta Edvaldo Santos da cidade de Pedreira:
Gonzaga
cantou o sertão
E
tudo que nele existe
Cantou
o matuto triste
Fazendo
um risco no chão
Cantou
a dor e aflição
Que
a seca sempre causou
Cantou
a fogo pagou
E o
jumento nosso irmão
Ninguém
cantou o sertão
Do
jeito que Gonzaga cantou
Wilson Seraine é professor e membro efetivo
do Conselho Estadual de Cultura do Piauí, apresenta na FM Cultura de Teresina o
programa “A HORA DO REI DO BAIÃO”.
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