quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

NO TEMPO DA PALMATÓRIA




Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

O fato aconteceu em 1958, portanto, há cerca de 55 anos. No Brasil, pouco se falava em Direitos Humanos, e, muito menos, do uso da palmatória, principalmente, em crianças. Este uso era apreciado nas delegacias de polícia, onde se transformou em instrumento de persuasão, para que ladrões informassem onde escondiam seus furtos, parece que com bastante êxito... No velho Mercado Central de Teresina, as vendedoras de verduras andavam se queixando de que estava sendo furtado, o dinheirinho que recebiam de suas vendas, desaparecia, de vez em quando, sem que soubessem como e nem pra onde ia... Foram fazer queixa na Delegacia competente, e o delegado, de então, mandou um investigador verificar o que estava acontecendo. A descoberta veio logo: um garotinho, de 8/10 anos, andava, entre as bancas das verdureiras, com uma varinha e um punhado de visgo, e, quando via uma lata sem tampa, usada para guardar o fruto das vendas, "pescava" o dinheiro ali depositado, sem que ninguém o percebesse, todos ocupados com a compra-e-venda das mercadorias expostas... Dia seguinte, o garoto foi seguido até ao bairro onde morava com sua mãe, que, informada dos acontecidos, jurava que o menino era inocente. Entretanto, pegado "com a boca na botija", não havia como negar o fato, e, pior, o investigador viu um tijolo solto num canto da sala que, levantado, cobria um monte de cédulas, "arrecadadas" pela criança em dias anteriores. A mãe foi levada à Delegacia, onde, chorando, pediu ao Delegado que desse um jeito de acabar com o "vicio" do filho, pois ela já havia recorrido, até, ao juiz de menores, sem nada conseguir de prático. O Delegado pediu àquela senhora que assinasse um termo de responsabilidade, em que declarava que era sabedora das artimanhas da criança e que, nunca mais, o filho voltaria ao Mercado. Feito isso, chamou um investigador mais forte e o mandou buscar uma enorme palmatória, com um furo pequeno no centro (jamais soube de sua utilidade), que assombrou a pobre mãe: "doutor, o senhor vai mandar bater em meu filho com isso aí? tenha piedade, Dr., por amor a Deus!" O Delegado retrucou, "Deus me livre de tal desgraça! a palmatória é pra senhora"! E ordenou ao seu subordinado que aplicasse meia dúzia de "bolos" bem dados, em cada mão, que a coitada se mijou toda... Terminada a melódia, informou à mãe safada que "se o garoto voltar a furtar serão 12, em cada mão!" Tenho a impressão de que, daquela vez, a velha palmatória foi bem aplicada, pois nunca mais as verdureiras se queixaram de furto e a criança passou a frequentar a escola”.

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