Poncion Rodrigues
Exerciam
verdadeiro fascínio sobre mim e os outros meninos daquele tempo. Confeccionadas
de forma tosca, em cartolina branca, com “lentes” de papel celofane colorida,
recebiam aleatórios borrões de tinta, distribuídos pela sua superfície como a
natureza o fez, na pele da onça pintada. Vocês nem podem imaginar como as
máscaras, conduzidas por seus vendedores, penduradas em enormes cabides de
buriti enfeitavam a cidade feito alegorias vivas, dançando sopradas em sua
leveza pelos poucos ventos da pequena Teresina. Além dos vendedores ambulantes
espalhados por todas as ruas, tal quais pedintes de hoje em dia, as máscaras
tinham na calçada do CLUBE DOS DIÁRIOS, uma
espécie de QG, onde dividiam espaço
com os lança-perfumes, chapéus, fitas, apitos, rolos de serpentina, sacos de
confetes e outras bugigangas carnavalescas.
Nas
semanas que precediam a festa propriamente dita, as pessoas já respiravam o carnaval.
Adultos e crianças pensavam suas fantasias; os blocos ensaiavam uma barulhenta
algazarra em endereços dispersos, e as marchinhas antigas se revezavam com
novas canções de ritmo “pulante” e letras gostosamente jocosas, nas
programações das duas únicas emissoras de rádio (lembra Deoclécio?).
E
tinha o corso. Ah, o corso! Ele intermediava a alegria infantil e
pré-adolescente dos bailes matinais com a desenvoltura etílica e etérea dos
adultos, que invadiam a madrugada nos clubes com impressionante vigor físico e
tolerância hepática.
Lá
no corso, nos e nossas máscaras, a irreverência infanto-juvenil, os olhares
pecaminosos em direção ao caminhão das raparigas, cheio de mulheres, ditas de
vida, com abundante oferta de sonhos para prazeres futuros. Que carnavais!
Mal
sabiam as máscaras, coitadas, que como o próprio carnaval, o seu círculo de
beleza e glamour provinciano se encerraria na quarta-feira, junto com a alegria
folião de toda uma cidade, que finalmente dormiria em silêncio.
Nos
tempos de hoje, o uso da máscara tem sido prerrogativa de incontáveis adultos
que relutam em retirá-las, ao longo de suas vidas desprovidas de graça e da
autêntica alegria.
Um comentário:
Excelente texto! Parabéns!
Postar um comentário