terça-feira, 2 de julho de 2013

A LUTA EQUIVOCADA


Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
            
             
             A ideologia capitalista conseguiu disseminar em todo o mundo, um conceito capenga de democracia, onde a liberdade de expressão, a alternância do poder (entenda-se como governo) via eleições, e o direito de greve, seriam suas características, escondendo do povo o verdadeiro significado de “governo do povo, para o povo e pelo povo”: um governo compartilhado com o povo, nas suas decisões, nas suas realizações e nos seus resultados.
                Com isso, apresenta-se como paradigma e legítima representante daquela “democracia” (e o é, de fato) para tornar-se paradigma na luta contra os totalitarismos da esquerda e da direita, e, de quebra, contra as ditaduras do terceiro mundo, já não suportadas por “gregos e troianos”, não para defender a humanidade contra o perigo da dominação de poderes discricionários, ao contrário, para cristalizar e fortalecer o poder capitalista, tão agressor dos direitos humanos quanto os sistemas de governo por ela condenados. E, evidentemente, para abocanhar o que lhe parecer “palatável”, dos povos a quem “acudiu”...
                O poder capitalista encontrou opositores, no comunismo e no socialismo, que identificaram nele a dominação e a manipulação do povo, para a continuidade de sua existência, mas foram impotentes para conter o seu avanço e sua globalização, e evitar a sua hegemonização atual.
                O comunismo, com sua dialética materialista, não produziu um sistema de poder que substituísse a dominação pela participação. Ao empolgar o poder em alguns países, aproveitando-se da fome, da opressão e da corrupção, lá existentes, implantou regimes totalitários onde a dignidade humana e os direitos do cidadão foram tão desrespeitados como nos regimes anteriores. A incapacidade dos marxistas, de pensar o homem no seu todo, terminou por levar as lideranças comunistas a capitularem e aderirem à globalização do mercado.
                Já o socialismo, ao aceitar, o conceito capitalista de democracia, não se afirmou no poder quando venceu as eleições em países europeus, pois suas administrações, alinhadas à política econômica internacional, em nome da sobrevivência interna, decepcionaram os eleitores que esperavam pelas mudanças, implícitas no discurso capitalista, que não se efetivaram ou, em nada, resultaram.
                Ora, se ideologia da dominação capitalista tomou conta do mundo, governo e mundo, torna-se claro que a luta contra ela necessita de um modelo político universal que transforme o cenário atual, um modelo, verdadeiramente, democrático. A consciência dessa necessidade deverá nortear todos os movimentos contestatórios, todos os enfrentamentos, toda a luta pela sobrevivência, a luta pelo respeito aos direitos humanos, definindo uma nova ideologia, que tenha como motivo maior a dignidade humana.
                Negar essa realidade é negar a causa comum, é negar a participação, a cidadania, a verdadeira democracia, é tornar qualquer luta em uma luta equivocada!

(Extraído do meu livro "De Corpo Inteiro")

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