Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
A
ideologia capitalista conseguiu disseminar em todo o mundo, um conceito capenga
de democracia, onde a liberdade de expressão, a alternância do poder
(entenda-se como governo) via eleições, e o direito de greve, seriam suas
características, escondendo do povo o verdadeiro significado de “governo do
povo, para o povo e pelo povo”: um governo compartilhado com o povo, nas suas
decisões, nas suas realizações e nos seus resultados.
Com
isso, apresenta-se como paradigma e legítima representante daquela “democracia”
(e o é, de fato) para tornar-se paradigma na luta contra os totalitarismos da
esquerda e da direita, e, de quebra, contra as ditaduras do terceiro mundo, já
não suportadas por “gregos e troianos”, não para defender a humanidade contra o
perigo da dominação de poderes discricionários, ao contrário, para cristalizar
e fortalecer o poder capitalista, tão agressor dos direitos humanos quanto os
sistemas de governo por ela condenados. E, evidentemente, para abocanhar o que
lhe parecer “palatável”, dos povos a quem “acudiu”...
O
poder capitalista encontrou opositores, no comunismo e no socialismo, que
identificaram nele a dominação e a manipulação do povo, para a continuidade de
sua existência, mas foram impotentes para conter o seu avanço e sua
globalização, e evitar a sua hegemonização atual.
O
comunismo, com sua dialética materialista, não produziu um sistema de poder que
substituísse a dominação pela participação. Ao empolgar o poder em alguns
países, aproveitando-se da fome, da opressão e da corrupção, lá existentes,
implantou regimes totalitários onde a dignidade humana e os direitos do cidadão
foram tão desrespeitados como nos regimes anteriores. A incapacidade dos
marxistas, de pensar o homem no seu todo, terminou por levar as lideranças
comunistas a capitularem e aderirem à globalização do mercado.
Já
o socialismo, ao aceitar, o conceito capitalista de democracia, não se afirmou
no poder quando venceu as eleições em países europeus, pois suas
administrações, alinhadas à política econômica internacional, em nome da
sobrevivência interna, decepcionaram os eleitores que esperavam pelas mudanças,
implícitas no discurso capitalista, que não se efetivaram ou, em nada,
resultaram.
Ora,
se ideologia da dominação capitalista tomou conta do mundo, governo e mundo,
torna-se claro que a luta contra ela necessita de um modelo político universal
que transforme o cenário atual, um modelo, verdadeiramente, democrático. A
consciência dessa necessidade deverá nortear todos os movimentos
contestatórios, todos os enfrentamentos, toda a luta pela sobrevivência, a luta
pelo respeito aos direitos humanos, definindo uma nova ideologia, que tenha
como motivo maior a dignidade humana.
Negar
essa realidade é negar a causa comum, é negar a participação, a cidadania, a
verdadeira democracia, é tornar qualquer luta em uma luta equivocada!
(Extraído do meu livro "De
Corpo Inteiro")
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