sábado, 3 de agosto de 2013

QUEM COM FERRO FERE...

  




(*) Ferrer Freitas                                                                                        
                               O último número de Veja traz na capa  o Papa Francisco, figura extraordinária  que a todos emocionou com  palavras,  gestos e ações nesta sua vinda ao Brasil. Encarna e propaga  a doutrina do Mestre de tal modo que  leva  às lágrimas. Que figura!   Os políticos brasileiros, neste momento em que o povo sai às ruas clamando por mudanças, bem  que poderiam tirar lições inspirando-se nele e mudando (ou largando) vezos antigos e nefastos.
                               Mas  não é do Papa que tentarei  ocupar-me  e  sim de algo que  Veja também aborda em canto de página  e que  me chamou a atenção pela celeuma  criada dias atrás. A proibição do uso do espaço aéreo de vários países  europeus (Espanha, Portugal, França, Itália) por avião que trazia da Rússia o presidente da Bolívia, Evo Morales. Havia  suspeitas de que estava a bordo o espião  Edward Snowden, aquele que deixou vazar informações secretas do governo americano.  A Áustria  permitiu a aterrissagem para o abastecimento, que se fazia necessário, mas policiais, sem nenhuma autorização,  fizeram revista  interna da aeronave    visando  certificar-se de que  o espião lá não  se encontrava, o que, convenhamos,  não seria de todo improvável, até pelo assentimento do governo boliviano em conceder-lhe asilo.
                               Pois bem. O assunto foi abordado em reunião  do Mercosul,  posterior ao acontecimento,  inclusive pela  presidente Dilma, que externou seu repúdio  e se disse indignada com aqueles países. Sua participação foi, sem dúvida, a de maior impacto, por se tratar do Brasil que, mesmo não sendo um “estado bolivariano”, com todo respeito à memória do grande Simón Bolívar,  muitas vezes procede  como tal no que há de mais retrógrado.
                               Mas, afinal, o que traz a matéria a que me reporto?  É o que segue.   Há menos de dois anos, precisamente  em  outubro de  2011, em visita oficial  à Bolívia o ministro da Defesa Celso Amorim (logo ele!) teve também   o avião da FAB que o transportou revistado.  Havia suspeitas de que  seria  seu companheiro na  viagem de retorno  o senador venezuelano Roger Pinto Molina, ferrenho opositor  do governo  que   se encontra há cerca de um ano  na embaixada brasileira em La Paz  sem que  lhe seja concedido salvo-conduto para asilo no Brasil, embora sua família já esteja aqui. A inspeção, em que foram usados até cães farejadores,  mereceu do Itamaraty advertência  de  procedimentos de reciprocidade, o que levou Evo Morales a pedir desculpas.  Como sempre,  foi alegada a possibilidade de uso  do avião pelo narcotráfico.   Merece ser dito, por dever de justiça,  que os países europeus também pediram desculpas a Morales.
                             Isso me fez lembrar uma velha tia-avó minha de nome Ana, conhecida de todos  como Naninha, que gostava de usar  o ditado “quem com  ferro fere, com  ferro será ferido”, que cai muito bem aqui como título. Poderia ser até outro que ela também não se cansava de repetir e serviria  do mesmo modo:  “aqui se faz, aqui se paga”.
                        (*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras

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