quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O “CAUSO” DO “BATIZADO” DO VELHO CAMINHÃO




Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
             
                  Esse aconteceu no Teso Duro. Tio Vaz (Des. Joaquim Vaz da Costa) resolveu utilizar o barro de uma área, cercada, no Poty Velho, aonde colocava seu gado leiteiro para se alimentar de capim canarana, ali, abundante, para instalar uma pequena olaria, no verão, quando as lagoas daquela região secavam, dando oportunidade de trabalho de trabalho para os moradores locais, com a produção de tijolos, “assados” no local. Vendia o produto para compradores da cidade, levado em um carro velho, adquirido para tal afazer...
                Tia Santa, sua esposa, de uma religiosidade reconhecida por todos os que a conheciam, achou por bem convidar o Pe. José Luís (o título de Monsenhor veio posteriormente, vigário da Igreja de são Benedito e da capela do Memorare, próxima ao sítio, para “benzer” aquela velharia, inclusive com uma comemoração, regada a suco de frutas, com doces e salgadinhos, quitutes cujo sabor era elogiado por quantos tiveram a ventura de prová-los... Aceito o convite de pronto, na data marcada chega o saudoso padre, com sacristão e paramentos, pra efetuar o ato religioso da bênção do caminhão transportador de tijolos.
                Tia Santa, sentindo falta do esposo, caminhou pelo pequeno trajeto que levava as pessoas, do portão, à beira da estrada, até o casarão da família, gritando por Tio Vaz: “Quincas (apelido de Joaquim), está na hora do “batismo”, Pe. José Luís está esperando, só falta você!” Sempre me pareceu ser, meu tio, um perfeito agnóstico, nascido para praticar o bem e amar o próximo, mas, que não titubeava em obedecer à esposa amada, principalmente pra atender à sua prática religiosa.
                E lá vem ele, vestindo seu paletó de andar na cidade, procurando ficar ao lado de sua mulher, quando, ao ver seu velho veículo todo engalanado para a cerimônia, exclama: “Pe. José Luís, eu digo, não seria melhor, em vez de batismo, dar, a esse velho se acabando, a extrema unção?”. O padre teve que esperar o acesso de risos e gargalhadas dos espectadores e convidados, inclusive, dele próprio, para abençoar o velho caminhão. E, parece que valeu, pois nunca tive notícias de qualquer desastre ocorrido com ele... 

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