segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A “DOENÇA” DE CHAGAS. (*)



Poncion Rodrigues
                Chagas Rodrigues já era desde muito jovem um homem doente. A sua enfermidade haveria de mais tarde selar sua decapitação política promovida pela famigerada ditadura militar que, no seu apetite voraz pela perpetuação do poder ilegítimo, perpetrou os crimes que já fazem parte da história do nosso país.
                Chagas foi eleito governador do Piauí aos 36 anos de idade. Construiu o ordenamento administrativo do Estado, que antes era “tocado” como uma fazenda de oligarquias Rurais. Expôs sem pudor a sua Temida doença: A honestidade; a honestidade de intenções e de conduta; uma enfermidade não tolerada na prática política brasileira, que haveria de lhe carrear poderosos inimigos e sabotar a sua vida de democrata puro e afeito ao bom combate.
                Antes a cassação de seu mandato de deputado federal, escreveu à sua irmã Teresinha, minha mãe: “Sinto vergonha de não ter sido cassado ainda”. Todos os homens dignos do congresso haviam sido defenestrados daquela casa pela arrogância violenta dos marginais que haviam se apossado do Brasil. Chagas Rodrigues nunca sofreu processo por corrupção ou subversão, acusações dirigidas aos parlamentares cujos mandatos em sequência contínua eram tomados. Ele foi cassado por “inconveniência verbal”, já que martelava com sua eloquência brilhante a ridícula opereta bufa em que se transformara a ditadura militar.
                Em uma reunião dirigida com muita sisudez e mediocridade, foi posta a necessidade de afastar aquele deputado do Piauí, cuja popularidade atrapalhava no seu Estado as atividades dos “solados da revolução”, como se autodenominavam os políticos adesistas, alguns inda vivos, que devem sofre com o peso inconveniente da bagagem de suas histórias de vida.
                A partir da sua cassação, Chagas Rodrigues foi sistematicamente perseguido, perdendo além do mandato, emprego público conquistado em concurso público, sendo também proibido de ensinar em Universidade Pública. Não podia deixar Brasília sem a permissão das autoridades “revolucionárias”. Com seus filhos vigiados, sua vida particular devassada e sua alma democrata calada, Chagas sufocou Chagas. Ele então escrevia poemas e crônicas repletas de amor pelo seu Piauí, tendo como única leitora a sua gigantesca Maria do Carmo.
                Quando da reinstalação a democracia, Chagas Rodrigues voltou. Sem dinheiro e com discurso antigo elegeu-se, em segunda tentativa, Senador da República. Na primeira vez apesar de ter sido o mais votado entre os candidatos, não foi o vencedor em razão da marota malandragem da legislação eleitoral brasileira.
                Cumpriu com dignidade o seu mandato impregnado da jamais tolerada “doença de Chagas”, sua inconveniente e combatida honestidade. Agora, o guerreiro repousa; o Piauí de hoje não faz ideia de quem acaba de perder. Afinal são outros tempos, outros valores.
                O nosso estado deve ao seu melhor político e as novas gerações, por uma questão de justiça, deveriam conhecer a história nobre de sua vida.

(*) Escrito em fev.2009

Um comentário:

manoel andante disse...

Esta página deve ser preservada por respeito à história da política piauiense!