sexta-feira, 7 de março de 2014

NÃO TEM REMÉDIO*

Tesourinhas.

Daniel Cariello**
              
                - Alô!
                - Alô!
                - onde?
                - Aqui, onde marcamos.
                - Eu também, mas não te vejo.
                - Mas eu aqui, na rua das farmácias.
‘              - Das farmácias? Você não disse das torcidas?
                - Não, de jeito nenhum. Eu disse pra você pegar o carro, passar pela rua das torcidas, virar no balão, pegar a rua das elétricas,  seguir pelo Eixinho W e entrar quando visse a rua das farmácias.
                - Putz. Vou voltar para o carro. Já chego.
               
                - Alô!
                - Alô!
                - onde?
                - Mesmo lugar, rua das farmácias, te esperando. E você?
                - Eu estou na rua, em frente a uma farmácia, mas não sei se é a rua das farmácias. Pera aí, vou perguntar pra um carinha aqui.
                - ...
                - Ele disse que me enganei completamente. Aqui é a rua das noivas. Parece que passei muito.
                - Passou mesmo. Faz a tesourinha e volta pra Asa Sul. È logo depois da rodoviária, fácil de ver.

                - Alô!
                - Alô!
                - Cara, perdido.
                - Isso eu já sei faz tempo.
                - Descobri que parei na rua dos restaurantes. Aproveitei pra comer um sanduba, que a fome apertou. Você não que me encontrar aqui?
                - Como? Tô a pé. Daqui até aí é perto, mas complicado de ir. Ou cruzo o Eixão, arriscadíssimo, ou atravesso pelas passarelas subterrâneas, superperigosas, ou então pego um ônibus, que vai demorar eras, pois vai dar a volta em toda a Asa Sul. É melhor você vir pra cá. chegando perto, uma hora você encontra.

                - Aaaaalô!
                - Alô!
                - na rua das farmácias.
                - Finalmente!
                - Mas não te vejo.
                - Você em qual delas?
                - Hã?
                - Tem duas ruas das farmácias. A da 300 e a da 100.
                - Sei lá, perto da W3.
                -  Tá na 300. indo aí.
                - O.K.!

                - Fala rapaz.
                - Que complicação, hein? Achei que você não fosse chegar nunca.
                - Eu também.
                - Então, vamos fazer o quê?
                - Você, que conhece tudo aqui, me leva pra rua das redes. Depois dessas voltas, precisando tomar uma aspirina e dar uma esticada.
*Originalmente publicado na revista Veja Brasília, de 27 de novembro de 2013.
** Daniel Cariello nasceu em Brasília, em 1974. Em 2007, mudou-se para Paris, onde foi editor-chefe da revista bilíngue Brazuca, sobre cultura brasileira. É formado em publicidade pela Universidade de Brasília e mestre em jornalismo cultural pela Université de Paris III – Sorbonne Nouvelle.
Já foi office-boy, guitarrista e tecladista em banda de rock, cronista, jornalista e publicitário. Queria ser reconhecido pela música, mas ganhou prêmios nacionais e internacionais escrevendo para revistas e agências de propaganda.
Criou o site Chéri à Paris em 2007, onde publicou, semanalmente, crônicas contando as desventuras de um brasileiro na terra do fromage. De volta ao Brasil, tornou-se cronista da revista Meiaum e, desde junho de 2013, da Veja Brasília. Seus textos podem ser encontrados quinzenalmente na última página da publicação. O seu livro Chéri à Paris pode ser adquirido através de www.cheriaparis.com.br

Nenhum comentário: