quinta-feira, 13 de março de 2014

REFLEXÃO SOBRE UM DIA TRISTE


Rui Azevedo

Hoje, a tristeza bateu em minha porta. Entediante, o dia amanheceu. Envolto em recordações lembrei-me de quando era professor. Quando a preocupação com o planejamento de minhas aulas trazia-me prazer e alegria. Afinal, à noite eu estaria interagindo com meus alunos, motivos de minha alegria, como diz meu conterrâneo Ariano Suassuna - todos precisamos de um motivo para fazer ou deixar de fazer alguma coisa. De repente e não mais do isso, como diria Drumond, veio-me à lembrança, o semblante de uma jovem senhora, ex-aluna, uma das melhores alunas, a quem tive o prazer de ensinar alguma coisa no curso de Administração do Instituto Camillo Filho, onde lecionei por quase dez anos. Quem é ou foi professor, sabe ou deveria saber que as boas lembranças de ex-alunos, acompanha-nos pelo resto da vida, enquanto as más, aquelas que nos entristece, nós a deletamos da memória, haja vista que são elas que nos forçam a abandonar a cátedra. Felizmente, durante esses dez anos, nunca fui alvo de uma crítica de alunos, como o que se dirigiu a uma conceituada mestra, também professora do ICF e com a maior insensatez disse pra ela: Professora não esqueça que quem paga seu salário, sou eu. Ao tomar conhecimento desse fato, fiquei temeroso que isso também acontecesse comigo, pois eu não teria o mesmo equilíbrio que a conceituada professora teve e tem ainda hoje. Temeroso, pedi que me demitissem. O ICF atendendo aos meus apelos e de alguns alunos insatisfeitos com minha postura, resolveu me demitir, a quem hoje, eu agradeço. E o dia, continuou triste? Não o dia não continuou triste. Fiz a refeição matinal e sair a caminhar por entre a relva do terreno rural onde hoje moro e vivo. Caminhando encontrei centenas de "covas" onde, com minhas mãos, plantei feijão e milho. Foi prazeroso constatar que, o mesmo carinho com que eu deslizava o pincel sobre a lousa, quando professor, as minhas mãos foram capazes de novamente, fazer vicejara vida. Aí, lembrei-me de Sócrates quando escreveu sobre a Maiêutica. Novamente, eu estava ali. Dando vida a quem estava inerte, sem ou quase sem luz. Novamente, eu e a natureza estávamos juntos, em prol da vida. E o dia se tornou alegre ao ponto de me abstrair e escrever o que ora concluo.

Um comentário:

Ana Bailune disse...

Boa tarde! Como professora de inglês também já fui desacatada em sala de aula por um aluno. Ele me disse um terrível palavrão porque eu não quis reconsiderar minha decisão de reprová-lo por faltas. Olhei para ele, pensando no que responder. De repente me veio: "Vá você. E saia da sala, por favor." Ele saiu. A diretoria queria que eu reconsiderasse o caso dele, e eu respondi que se ele fosse aprovado, eu me demitiria. Bem, ele saiu do curso, e durante algum tempo, passou a perseguir-me na rua , até que eu o ameacei com a polícia. Ossos do ofício.