quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A GUERRA E SEUS SENHORES.



A. J. de O. Monteiro
                Acordar, ligar o rádio ou o televisor, ou ler a manchete no jornal, ou, ainda, abrir a janela e ver alguém na rua, correndo feito louco, louco de alegria gritando para quem possa ou queira ouvi-lo: “HÁ PAZ NA TERRA”! Não, não estou delirando, tão pouco transpondo a fronteira da sanidade. É que estou cansado de guerras. Cansado de ouvir, cotidianamente, vozes graves anunciando a deflagração de mais uma guerra, como se cada conflito fosse uma guerra. E não é verdade. A guerra é única, a motivação é única e os princípios são únicos. Cada conflito deflagrado em qualquer parte do mundo é fruto da mesma guerra iniciada quando o ser humano descobriu que exercer o poder sobre o outro o distinguia ante os demais.
                Da história antiga, até os dias atuais, verifica-se que a maioria dos grandes nomes da humanidade, registrados nos livros, foram guerreiros e que se fizeram “grandes” através da guerra. E foi através da guerra que os grandes impérios se formaram. Que as grandes “civilizações” se consolidaram e por ela mesma – a guerra – ruíram. Foi através da guerra que as religiões se expandiram pelo planeta e se consolidaram, levando nas pontas de suas espadas ou nas bocas de seus canhões, o nome de Deus.
                Os senhores da guerra, cinicamente, tentam, através de sofismas, incutir no inconsciente coletivo que a guerra é o recurso último e inevitável para corrigir desvios que colocam em risco a paz e o equilíbrio do mundo. Quando não, alegam questões humanitárias, tais como livrar determinado país e sua população do jugo cruel de um tirano. Tirano esse que foi colocado ali em um contexto, mas que, em certo momento tornou-se desnecessário ou hostil. Quanto cinismo, quanta desfaçatez... Mais cinicamente, ainda, afirmam que da guerra resultam, por fim, benefícios para a humanidade, pois, intervindo em nações hostis, afastando ou eliminando tiranos, contribuem para o bem estar daquele povo restaurando a paz e a ordem. Outra falácia desses senhores é que, conquistada a paz, a humanidade também se beneficia dos avanços das ciências alcançados no esforço de guerra, nos vários campos do conhecimento humano, como na medicina, na engenharia e na indústria, como se, do horror da guerra, alguma externalidade benéfica restasse! Camuflam, através da propaganda insidiosa, o legado de miséria que seus agentes deixam aos derrotados, como os massacres de civis desarmados, os estupros de mulheres e crianças e a eliminação de suas identidades culturais. Esquecem também de alertar que esse legado maldito deixará marcas profundas, sentimentos e dores que fomentarão o ódio e o desejo de vingança, sementes que brotarão adiante, dando continuidade à guerra. Sempre foi assim e assim sempre será até que a insanidade alimentada pelo insaciável desejo de poder nos leve ao fim.
                Após os maiores conflitos armados que se tem notícia na era moderna, denominados primeira segunda guerra mundiais, que envolveram quase todos os continentes, por participação ou como cenário, o mundo passou por uma radical transformação geopolítica comandada pelos senhores da guerra de então. Países foram segmentados, outros foram unificados e outros, ainda, criados, num alinhavo que ignorou histórias, culturas e sentimentos nacionais. Como Dr. Frankenstein, criaram vários monstros que até hoje estão aí atormentado a humanidade. Desses monstros, dentre outros exemplos, a partição da Índia, por interesse britânico, criando-se o Paquistão. Hoje os dois Estados coexistem em permanente estado de beligerância e, para inquietação do mundo, são detentores de ogivas nucleares. A Coreia, dividida em norte e sul, que hoje representam o que restou da farsa maniqueísta da dita guerra fria. E o que dizer da “limpeza étnica”, resultante da desintegração da Iugoslávia, com quase cem mil mortos, vítimas de uma chacina organizada e planejada. Evoluíram apenas, os senhores da guerra, na retórica diplomática baseada em notas de repúdio e sanções econômicas de faz de conta como se essa retórica importasse àqueles que sofreram e sofrem os horrores dessas bestialidades. E aos mortos, a cada decênio completado, serão dedicadas homenagens com minutos de silêncio, dobrar de sinos e coroas de flores e desfiles militares em passo de ganso.
              Completando essa geopolítica insana, pela vontade dos vencedores da 2ª guerra, foi criado o Estado de Israel, incrustado na palestina, uma região historicamente conturbada e o resultado é este que a imprensa está nos mostrando cotidianamente: O impiedoso massacre do povo palestino pelo impressionante poderio militar dos sionistas, com o total e irrestrito apoio bélico e econômico dos Estados Unidos, com a vergonhosa complacência da Europa. De resto a retórica de praxe.

3 comentários:

Simone LM disse...

Esse texto está completamente perfeito, lamentável que seja a realidade de antes, de agora e do futuro.

Anônimo disse...

Perfeito!

Antônio disse...

Comentário bem atual.