NOITES DE PRATA*
Daniel cariello**
Não, sério, corra. Pare tudo e vá
ver a lua. É a maior dos últimos tempos, e falam que a próxima assim só daqui a
73 anos. Eu sei, teve outra parecida há quatro meses e disseram que igual só
meus bisnetos veriam, mas essa é diferente, juram. É a lua azul. É verdade que
ela não está azul, porque a lua nunca é azul realmente. Ela é no máximo amarela
quando nasce e logo fica branquinha, passa muito longe do azul. Blue moon, em
inglês. Se não chega nunca a esse tom, pelo menos serviu de inspiração para
grandes músicas, o que não é pouco. Under blue moon I saw you. Mas essa não é a
lua azul? É só cheia mesmo? A próxima azul é daqui a quanto tempo? Não tem
problema, está linda, vá lá ver. Ora (direis) ouvir estrelas, declamava um
Bilac apaixonado, olhando pela janela. Eu sei, não estamos falando de estrelas,
e sim da lua, mas elas compartilham o mesmo céu. E, se você é capaz de ouvir
aquelas, que estão longe, certamente captará o que esta diz, pois é nossa
vizinha. Aproveite esse brilho todo, tome um banho do astro ao som dos Mutantes
e me diga uma coisa: você vê o quê, São Jorge ou o dragão? Tenho um amigo que
vê um rosto de mulher. Sabe o que eu vejo? Um coelho. Sério, olhe bem,
aproveite que ela está bela e cheia. Repare ali: as orelhas, o corpo, um
coelho. Não estou mentindo. Mente quem diz que a lua é velha. Você acredita que
o homem já pisou lá? E por que não voltou mais? Talvez porque a solidão ali
seja insuportável. Deve ser o lugar mais solitário do universo, não temos a lua
para contemplar e para nos confessar. Mas, vá, confesse, já viu uma desse
tamanho? Está linda. Foi uma assim que a Nereide, a menina mais bonita da
escola, pediu de presente para o Fonchito, na história do Vargas Llosa. Lua,
lua, lua, lua, por um momento meu canto contigo compactua. A gente observa
desde sempre e nunca se cansa. O que haverá lá do lado de lá dela? Enquanto
imagino, coloco Pink Floyd para girar a 33 rotações por minuto. Paro em frente
à janela e olho para o céu. É incrível como ela está especialmente bela hoje.
Conheço um poeta que tomaria um conhaque e ficaria comovido como o diabo.
*Publicado originalmente em Veja Brasília, de 10.set.14
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Pariswww.cheriaparis.com.br
Um comentário:
E nem precisa mandar! estou lá, sempre que ela nasce. Aliás, vou para lá agora.
Sabe, sou daquelas que acredita que o homem jamais pisou na lua... a prova? Ela ainda existe.
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