quarta-feira, 10 de setembro de 2014


NOITES DE PRATA*
Daniel cariello**
Não, sério, corra. Pare tudo e vá ver a lua. É a maior dos últimos tempos, e falam que a próxima assim só daqui a 73 anos. Eu sei, teve outra parecida há quatro meses e disseram que igual só meus bisnetos veriam, mas essa é diferente, juram. É a lua azul. É verdade que ela não está azul, porque a lua nunca é azul realmente. Ela é no máximo amarela quando nasce e logo fica branquinha, passa muito longe do azul. Blue moon, em inglês. Se não chega nunca a esse tom, pelo menos serviu de inspiração para grandes músicas, o que não é pouco. Under blue moon I saw you. Mas essa não é a lua azul? É só cheia mesmo? A próxima azul é daqui a quanto tempo? Não tem problema, está linda, vá lá ver. Ora (direis) ouvir estrelas, declamava um Bilac apaixonado, olhando pela janela. Eu sei, não estamos falando de estrelas, e sim da lua, mas elas compartilham o mesmo céu. E, se você é capaz de ouvir aquelas, que estão longe, certamente captará o que esta diz, pois é nossa vizinha. Aproveite esse brilho todo, tome um banho do astro ao som dos Mutantes e me diga uma coisa: você vê o quê, São Jorge ou o dragão? Tenho um amigo que vê um rosto de mulher. Sabe o que eu vejo? Um coelho. Sério, olhe bem, aproveite que ela está bela e cheia. Repare ali: as orelhas, o corpo, um coelho. Não estou mentindo. Mente quem diz que a lua é velha. Você acredita que o homem já pisou lá? E por que não voltou mais? Talvez porque a solidão ali seja insuportável. Deve ser o lugar mais solitário do universo, não temos a lua para contemplar e para nos confessar. Mas, vá, confesse, já viu uma desse tamanho? Está linda. Foi uma assim que a Nereide, a menina mais bonita da escola, pediu de presente para o Fonchito, na história do Vargas Llosa. Lua, lua, lua, lua, por um momento meu canto contigo compactua. A gente observa desde sempre e nunca se cansa. O que haverá lá do lado de lá dela? Enquanto imagino, coloco Pink Floyd para girar a 33 rotações por minuto. Paro em frente à janela e olho para o céu. É incrível como ela está especialmente bela hoje. Conheço um poeta que tomaria um conhaque e ficaria comovido como o diabo.

*Publicado originalmente em Veja Brasília, de 10.set.14
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Pariswww.cheriaparis.com.br

Um comentário:

Ana Bailune disse...

E nem precisa mandar! estou lá, sempre que ela nasce. Aliás, vou para lá agora.
Sabe, sou daquelas que acredita que o homem jamais pisou na lua... a prova? Ela ainda existe.